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Conversa com Castilho

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Woden Madruga [ [email protected] ]

Manhã cedo o telefone toca. Vinha do outro lado do rio, o poeta Carlos Castilho caminhando pelas ruas da Redinha, sem coragem de atravessar o Potengi. Havia engarrafamento na ponte, aliás, nas duas. A do colega e amigo Newton Navarro, e a outra, a de Igapó, que poderá ser uma alternativa para japoneses, chineses e cariocas que descerem no Aeroporto de São Gonçalo. Aliás, o prefeito  de lá, para facilitar o papo dos nativos com os futuros visitantes da China, já incluiu o ensino do mandarim nas escolas do município. Saudades de Joaquim Victor! Imagine essas coisas cantadas no romanceiro de Dona Militana. Um sucesso!

Castilho confessa que anda muito preocupado, temeroso mesmo, com a peregrinação pelas arenas brasileiras da taça da Fifa,  a da Copa do Mundo, que derna esta semana chegou ao Brasil e que, no roteiro oficial,  tem uma passagem por Natal, parece que no dia 22 de maio. Ele mesmo, que  foi um dos maiores goleiros natalenses nas décadas de 40 e 50 do século passado, tem vontade – confessou – de ver de perto a sucessora da Jules Rimet, a que foi derretida no Brasil e até hoje ninguém (nem a turma da Pasadena) sabe por quem ou a mando de quem. Naquele tempo não havia doleiro. Falava-se muito em boleiro. Fulano de tal é um comedor de bola.

A preocupação do poeta é que, com tantos assaltos que acontecem no Brasil, todos os dias o ano inteiro, o pessoal se organize, um tuite aqui outro acolá, e, numa dessas passagens da taça, o troféu seja roubado. São mais de seis quilos de ouro maciço, 18 quilates puros, diz Castilho emocionado. Acha que tal fato não ficaria bem para a imagem do Brasil, já tão maltratada. Imagem, aliás,  muito parecida com a da própria Fifa. Se roubarem a taça da Copa, torce Castilho que não seja em Natal. Poderia ser em Brasília.

Teve outro assunto na conversa. Castilho, que é um ledor de jornais daqui e de outras partes do país, dá a dica da coluna de ontem de Ruy Castro, na Folha de S. Paulo. É sobre a Revolução dos Cravos, de Portugal, que está fazendo 40 anos. Título: “No dia de hoje”. O poeta faz um rápido comentário: “Olha, WM, a crônica de Ruy Castro também revela os bastidores, sala e camarinha, do jornalismo brasileiro daqueles anos,  tempos da revista Manchete, reinado de Adolpho Bloch, o gaúcho Justino Martins mandando as ordens na charmosa revista carioca”.

Antes de desligar, prometendo um encontro no Azulão, Castilho pediu o telefone de Nei Leandro, no Rio, e notícias de Sanderson Negreiros. A vinda a Natal ficou para a outra semana. Bom, aproveito a dica do poeta, entrei na internet e li a crônica de Ruy Castro. Vai na íntegra para o deleite geral:

No dia de hoje
“Há exatos 40 anos, no dia de hoje, eu estava em Lisboa a serviço da edição em língua portuguesa de “Seleções do Reader’s Digest”. Era editor-executivo e cuidava com prazer de seus artigos sobre tipos inesquecíveis, cachorros-prodígio e milagres da medicina. O trabalho tomava 15 dias, com o que sobravam outros 15 para flanar pelo Rossio, ir aos sebos do Chiado e comer caris de gambas nos indianos.

Portugal vivia sob uma ditadura de 48 anos. A qual nos ignorava e nós a ela, mesmo porque não havia dinheiro para produzir artigos locais, contra ou a favor, e tínhamos de nos limitar e adaptar a edição americana. Era um tédio, mas confortável. E então, na madrugada de 25 de abril de 1974, tanques rolaram sobre as ruas de Lisboa e a velha ditadura caiu – como se diz? – da noite para o dia.

Lambi os beiços. Que oportunidade para um jornalista brasileiro, não? Não. Os patrões em Pleasantville (NY) deram uma ordem: a revista não produziria nenhum texto que pusesse em risco sua permanência em Portugal. Ou seja, estávamos fora da cobertura.

Não me abalei. Fui ao escritório comercial da “Manchete”, no térreo do Hotel Ritz, e pedi a sua gerente, Maria do Amparo, que oferecesse meu material à Redação no Rio. Justino Martins, diretor da revista, topou e, em 24 horas, já recebia a primeira matéria: um relato febril dos acontecimentos no “dia mais longo de Lisboa”. Foi capa da “Manchete”.

Por três meses seguintes, o assunto rendeu. Mandei um texto (sempre empolgado) por semana, dei notícias em primeira mão e emplaquei outras capas. Pena que não pudesse assinar. O crédito era “Da sucursal de Lisboa” – que  não existia. Até que Adolpho Bloch se deu conta de que a “Revolução dos Cravos” ia contra seus interesses em Portugal e cortou minha colaboração. Mas, quer saber? Valeu.”

Dia D
Chegando carta de Ricardo Careca Lemos confirmando para o dia 19 de julho o Leilão na Fazenda Carnaúba, de Manelito Dantas Vilar, terras de Taperoá. Leilão das raças zebuínas Guzerá e Gir e um empório (em vez de xópe ou xopingue) de cabras e ovelhas, raças nativas, sertanejas verdadeiras e com raízes ibéricas. Bela festa. Vai todo mundo. O cartaz do Leilão, II Dia D, é da lavra do artista plástico Manoel Dantas, filho de Ariano Suassuna, também criador de cabras naqueles cercados.

A carta de Careca, por inteiro, publico semana que vem.

Chuva
Zero de chuva ontem por estas terras do Rio Grande do Norte. Para não dizer que foi um dia zerado, a Emparn registra um chuvisco de 2 milímetros em Maxaranguape, o mar ao lado.

Bons papos
Bons papos no lançamento do livro de  Paulo Bezerra, Cartas dos Sertões do Seridó, noite de quinta, na sede da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Num canto, Lenine Pinto, Ticiano Duarte, Diógenes da Cunha Lima e Paulo de Tarso Correia de Melo conversavam sobre histórias e estórias de Luís da Câmara Cascudo, que, do alto de sua fotografia pendurada na parede vetusta, cubava o quarteto. Diógenes fez uma revelação importante para os acadêmicos mais avançados na idade: a Academia vai ganhar um elevador. O andar de cima ficará mais fácil na subida da glória. Num outro canto, do salão de baixo, conversavam baixinho o fotógrafo Giovani Sérgio e o cronista Mário Ivo. O editor Carlos Fialho passou rápido por lá.

Manchetes
O ex-ministro da Saúde, Padilha, está nas principais manchetes. Na Folha: “Ex-ministro Padilha indicou executivo do laboratório de doleiro, suspeita Polícia Federal”; Correio Braziliense: “Investigação da PF liga o ex-ministro Padilha ao doleiro”. O ex-ministro Padilha é o candidato do PT ao governo de São Paulo.

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