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Conversas

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Dácio Galvão [ [email protected] ]

Em meio a uma roda de conversas predominantemente formada por jornalistas-comunicadores e escritores rolava solto o tema da vulnerabilidade da informação, dos conteúdos nos veículos impressos e virtuais. Fossem no campo que fossem. Das notícias políticas fazendo travessia aos artigos, resenhas literárias. Vasto espaço para se adubar a propulsão de opiniões convergentes ali, e discordantes acolá. No saldo parcial do bate papo se carimbava que o informe ficando restrito ao leitor do material impresso a sustentação duraria depois do café matinal algo em torno de mais duas, três horas. Muita fragilidade e permanência perto de zero. Ou seja, não chegaria ao almoço. Redes sociais balançariam as estruturas em armadores de nomenclaturas conhecidas como blogs, sites, twitter e etc. A partir de então o material impresso esbarraria ao rés do chão derrubado avassaladoramente pelo bombardeio de novos desdobramentos em tempo real que se resolve e se propaga sem nenhuma contenção. E daí?

Uma voz fala em tom misto de resistência e de impotência perguntando o que não quer calar. – Imagine quando isso é poesia, crônica algo assim? Ri de si mesmo para afirmar que não há o que fazer. A literatura dentro do periódico jornalístico ao que parece do ponto de vista do leitor convencional é descartável e não é bem durável.  Em 1964, o filósofo canadende Herbert Marshall McLuhan (1911-1980) escreveu Understanding Media: The Extension of Man (Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem), onde antecipava teoricamente esse tema no qual a comunicação de massa entre as tecnologias conquistadas e as que estariam em perspectivas de construção alterariam estruturalmente nossas vidas. Era a sacada do mundo tribalizado da era eletrônica que no compasso adiante chegaria como chegou na revolução digital.             Os poetas contemporâneos com algum fetiche utilizaram a linguagem em consonância com tal abordagem. No Brasil de forma cabal os poetas concretos Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos perceberam, aprofundaram e abusaram como ninguém desse processo da recepção de novas mídias e a consequente utilização para expressar o produto de linguagem. Evidente que falamos do artefato poema. As experiências e procedimentos atuais de Augusto de Campos ainda continuam progressivas nessa linha de ação no amálgama de pop cretos e poemóbiles. Era do pós tudo. Do pós utópico.

 Nesse jogo de concreção sobra o paradoxal. Se de um lado num mundo marcado e vincado nos negócios, nas bolsas de valores e nos mercados altera em segundos vidas pertencendo ao continente asiático ou em viventes no Sertão do Seridó, esse mesmo universo virtual ou impresso, continua dialeticamente se colocando e trazendo ferramentas disponibilizadas também a serviço da literariedade e claro para o processo criativo. Com efemeridade ou não. Ou não, quando pensamos na impossibilidade de mensurar o conteúdo simbólico que um texto literário poder trazer no bojo do seu interior informações além do tempo virtual. Quero apontar para um terceiro tempo desse jogo. Quero apontar para o tempo civilizatório. O povo grego, iraniano continua respirando excluídos das competições geopolíticas do mundo dos negócios e os valores que constituem aspectos identitários sobrevivem fortemente a avalanche da barbárie do capital desumano do mundo competitivo e pragmático. A transitoriedade artística foi encampada como possibilidade estética. Ganhamos mais uma forma expressional.

 Então nessa transição para o absoluto mundo globalizado sobram campos e espaços nas reconfigurações e apontamentos sugerindo a centralidade do simbólico. Já experimentamos outras revoluções como a industrial e estamos na migração para contornos e entornos. Mais e mais convivências e produções. A poesia náufraga nas marés altas e baixas de Homero a João Cabral de Melo Neto não deixará de dar braçadas e certamente atravessará os mares oceânicos. Quanto ao mais… Conversas e conversas.

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