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Cortejo reciclado

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Yuno Silva – repórter

Há quem chame de cortejo temático, outros de parada natalina, mas o nome oficial do evento que ilustra a programação de fim de ano promovida pela Prefeitura até dia 30 de dezembro na Praça Pedro Velho é o quilométrico “Grande Desfile do Natal em Natal: A Estrela do Natal – Esperança”. O desfile ganha as ruas de Petrópolis pelo terceiro ano consecutivo, e em 2011 tornou-se a principal produção do município após o cancelamento do já tradicional Auto do Natal no início deste mês. As apresentações são gratuitas, duram cerca de 50 minutos e iniciam às 20h na rua Potengi, de onde começa a contornar a praça.
Dimas Carlos, dando os últimos retoques no ensaio geral ontem à tarde, em frente ao Palácio dos Esportes
O desafio de montar o desfile foi aceito pelo coreógrafo, bailarino e ator Dimas Carlos: um quebra-cabeça natalino orçado em mais de meio milhão de reais (só a parte artística) que este ano envolve cerca de 450 pessoas e reutiliza boa parte do material usado em edições anteriores. Apesar dos quase 40 anos de experiência, esta é a primeira vez que o artista assina uma montagem como diretor responsável. “Chegou minha vez. Já produzi e concebi, até dirigi, muitos espetáculos, mas ainda não tinha assinado”, informou Carlos na tarde de ontem, enquanto acompanhava o ensaio final de bailarinos que farão parte do cortejo.

Visivelmente cansado, ele e o assistente Jairo Santos estavam “virados de domingo para segunda” para dar conta do recado. “Tivemos menos de 20 dias para aprontar as coisas, e nessa reta final precisamos deixar tudo organizado para não haver atropelo na hora que o elenco estiver se preparando”, disse o diretor, apontando figurinos e adereços arrumados nas araras espalhadas pelo Palácio dos Esportes, base temporária do grupo. O elenco numeroso inclui 170 bailarinos clássicos, 50 integrantes de quadrilhas tradicionais e tribos de índios que desfilam no Carnaval natalense e 25 catadores da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis (Ascamar). A parada natalina ainda incorpora 11 carros alegóricos e cenários construídos com material reciclado.

Dividido em dois atos, o desfile entra na avenida exaltando os aspectos religiosos da tradição natalina. “É o momento da anunciação, do anjo Gabriel, de exaltar o amor e os ensinamentos. Neste primeiro ato abordo a cristandade, a relação do estar e do pensar em Cristo”, adiantou. É nesta hora que entra em cena temas como a natividade e as madonas da renascença pintadas por Botticelli, Da Vinci e Michelangelo.

Na segunda parte entra o lado profano da história, cujo tema central é a necessidade do ser humano em cuidar do planeta para garantir a própria sobrevivência. “Podemos entender essas mensagens de preservação como o grande legado cristão desses novos tempos. É aí que também entra o sonho, os presentes, o Papai Noel, os bonecos, os personagens dos contos de fadas”. A alegoria que traz o presépio, Maria, José e os Reis Magos, mais o carro que traz os catadores de material reciclado fecham o cortejo. “Quero chamar atenção das pessoas para a possibilidade da reciclagem e deixar essa mensagem. Aproveito para homenagear o Morro do Careca, nosso maior monumento natural, símbolo maior da cidade e do turismo no RN”.

Os figurinos são de DiCarlos, as alegorias de Marcelo Eudes, produção de Ana Leiros e Lucas de Petrius e a trilha sonora original de Willames Costa. Participam do desfile integrantes do Balé Popular, do Corpo de Baile Municipal; das quadrilhas Pneu Furado (zona Norte), Rei do Baião e Arraiá do Lira (ambas da zona Oeste), e da Tribo de Índios Tabajaras de Felipe Camarão.

Dimas começou as pesquisas ainda no mês de setembro e concorreu com outras duas propostas antes de fechar acordo no início de novembro. “Quando soube que minha proposta tinha sido aceita, peguei minha agenda e comecei a ligar para os amigos. Só eles poderiam me ajudar nesse momento: o período é curto e estamos trabalhando no limite”. Ele convidou artistas com quem havia trabalhado desde os anos setenta, “muitos, inclusive, estavam afastados dos palcos”.

Alguns convidados especiais também estarão no cortejo como os bailarinos Cosme Gregori, Yasmim Melo e Josemária Macedo, que atualmente atuam na escola do Balé Bolshoi no Brasil em Santa Catarina. “Pontuei o espetáculo com pessoas que trabalham fora e estão na cidade de férias. Precisamos apresentar ao público essas pessoas que estão vencendo lá fora”.

MATERIAL “FIADO”

Vale registrar que o orçamento do Grande Desfile do Natal em Natal salta para mais de R$ 700 mil quando contabilizada a parte de estrutura e produção. Deste montante, a Petrobras entrou com patrocínio de R$ 500 mil – verba que só será repassada perto do Carnaval de 2012 devido o contrato com a Prefeitura ter sido formalizado há pouco mais de 10 dias. Segundo Dimas, os cachês somam R$ 300 mil, o figurino ficou em R$ 70 mil e os carros alegóricos consumiram R$ 90 mil. “A parte artística custou R$ 535 mil”, garantiu.

Apesar do orçamento ser um tanto avantajado, a equipe coordenada por Dimas Carlos trabalha literalmente no limite e com dinheiro contado. Como a verba só será liberada em 2012, a produção do desfile precisa comprar fiado (com um ágil monstruoso) em lojas de tecido e aviamentos, e o capital de giro quando não sai do bolso vem de empréstimos a juros bem acima do praticado no mercado. “Quando aceitei o desafio sabia das dificuldades”, disse o diretor fazendo as contas: “No final vai sobrar alguma coisa, não muito mas vai”.

O DIRETOR

Dimas Carlos começou sua carreira nos anos setenta como bailarino e coreógrafo. Em 1984 trouxe para Natal o primeiro prêmio importante para a dança potiguar, conquistado no festival Ciclo Pernambucano de Dança, “na época um dos mais conceituados do país”, recorda. Nos anos oitenta ainda trabalhou nos EUA e Europa, e como ator participou dos longas-metragens “Irmãos de Fé” (2004), estrelado por Thiago Lacerda e Padre Marcelo Rossi, e “O homem que dedafiou o Diabo” (2007), com Marcos Palmeira no elenco e direção de Moacyr de Góes.

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