O mercado de motocicletas não segue os trilhos promissores de carros e caminhões novos, que devem fechar o ano com boas vendas. O segmento, que se tornou cada vez mais popular pelas ruas da cidade, amarga crise. A culpa, dessa vez, é da restrição ao crédito, segundo representantes do setor. Com maior exigência na seleção dos credores e cobrança de entradas mais poupudas e com prazo mais curto para pagamento, o consumidor tem ad-quirido menos o veículo de duas rodas.
A Associação Brasileira dos Fa-bricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) – que, no início do ano, estimava um crescimento de 5% – prevê um recuo de produção de 13%, até o final do ano, em relação a 2011, quando foram emplacadas 37.395 unidades, em todo país.
A restrição de crédito atinge o segmento de motos com mais força que a indústria de automóveis e comerciais leves devido a peculiaridade do público-alvo. Cerca de 85% é formado por consumidores das classes C, D e E – que dependem ainda mais do financiamento para adquirir o bem. “Quase 80% das vendas de motocicletas ocorrem por meio de pagamentos parcelados de financiamentos ou consórcios”, explica o diretor executivo da entidade, José Eduardo Gonçalves.
Em contrapartida, os bancos tem liberado apenas 20% do total de pedidos que chegam às financeiras. Em geral, o consumidor de motocicletas não tem emprego com carteira assinada e casa própria, o que dificulta a obtenção de financiamento para a operação.
Algumas medidas como orientações repassadas pelas financeiras, para evitar possíveis erros de preenchimento dos pedidos, já foram adotadas no sentido de reverter a situação. Mas ainda não surtiram efeito.
A solução, explica o diretor exe-cutivo da entidade, José Eduardo Gonçalves, é a criação de um a política de incentivos específica para o setor, com a facilidade de acesso ao crédito. “O mercado está trabalhando com preços abaixo do que é sugerido na tentativa de se manter. O grande gargalo é o financiamento”, diz.
Além do crédito, um fator inusitado é apontado como causa da queda nas vendas, por revendedores de motos usadas: a seca. “A maior procura por moto usada é pelo pessoal do interior. Sem chuva, não tem safra e não tem como pagar”, conta o vendedor João Carlos Fonseca, que trabalha no mercado da Pedra, da avenida 4.
A região Nordeste é a que apresenta maior crescimento nos últimos dez anos. A frota quadruplicou, saindo de 1,020 milhão para 4.518 milhões em 2011. Com a melhoria no poder aquisitivo, explica José Eduardo, a moto que é considerado um veículo de inclusão social, substitui na zona rural o transporte com tração animal.
Bate-papo – Ilídio Santos
Qual a avaliação que o senhor faz do momento por que passa o setor de usados?
De grandes dificuldades. O fe-chamento de lojas já atinge 10% em todo país. Em capitais como João Pessoa chega a 30%, em Recife 20% das lojas, o Rio Grande do Norte segue a média nacional, 10%. As vendas recuaram 15% nos últimos três meses. E o maior gargalo é a questão da restrição do crédito. Como houve um crescimento na inadimplência, que chegou a 13%, quando o tolerável é em torno de 3,5%, a aprovação passou a ser mais rigorosa e somente 20% é liberado. Agora em agosto, percebemos uma melhora. Como houve uma nova precificação, o preço ao consumidor está mais acessível. Cerca de 70% das vendas são feitas por meio de financiamento, isto tem dificultado muito. Com a redução do IPI, a situação piorou. Mas é bom deixar claro que não somos contra a redução da taxa tributária. O que queremos é que o governo tenha olhos também para nossa categoria e não apenas para as montadoras.
O que foi feito para tentar mudar esta situação?
Encaminhamos ao Ministério da Fazenda uma série de reivindicações, como a retirada do IOF do financiamento dos carros usados, a anistia dos encargos sociais e uma política de capital de giro para que o setor continue atrativo.
E como está essa negociação?
A semana passada voltamos a Brasília para protocolar o pedido, mas até agora não há resposta.
Qual a projeção para o final do ano?
É de retração. Esperamos que com o fim do IPI reduzido, o carro usado tenha um aumento aí de 5%. Isso vai minimizar os impactos no setor.
No setor de novos, vendas crescem acima da média
Enquanto o setor de usados de-sacelera, o mercado de carros novos segue aquecido. As vendas com a redução do IPI apresentaram um crescimento de 20% no Estado, em agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. No mês, 3 mil veículos foram vendidos, número é acima da média de 2,2 mil carros/mês. O incremento, em julho de 2012, foi 11,64%, em comparação ao mesmo período do ano passado. A projeção é encerrar o ano com um aumento de 4% nas vendas.
Contudo, pondera o presidente da Fenabrave/RN, Rodrigo Cândido, mesmo com a prorrogação, o mês de setembro não deve apresentar o mesmo desempenho de agosto. Isto porque como havia a perspectiva de fim do incentivo em 31 de agosto, houve uma corrida para garantir o veículo com preço mais baixo. “A venda antecipada fará com que o crescimento não dispare, mas permaneça na média mensal. Para em outubro, ocorrer outro crescimento”, disse.
Com os pátios cheios das monta-doras e com a procura moderada, Cândido prevê uma temporada de promoções para dar vazão aos estoques neste mês de setembro. “Como a oferta vai ser maior que a procura, devido a compra antecipada, quem deixar para comprar agora poderá ser ainda mais beneficiado”, afirma. Mas é preciso estar atento às condições, alerta ele. Com a queda no preço, são cobradas entradas maiores de 30% a 50% do valor do carro e parcelas de 36 a 48 meses. Desta forma, a taxa de juros cai para 1,1% ao mês (a.m).
Renato Lima Vieira, 36 anos, deve comprar o primeiro carro zero com a prorrogação. “Estive pesquisando e é mais vantajoso comprar um novo que o usado”, conta.
Consumidor deve planejar a compra
Carro novo, usado ou moto. A compra de qualquer que seja o veículo exige pesquisa e planejamento, diz o especialista em Finanças Pessoais pela Fundação Getúlio Vargas e consultor financeiro do programa Consumidor Consciente da MasterCard, Ricardo Pereira. De acordo com ele, o consumidor precisa analisar se realmente precisa comprar ou trocar o carro, para não ser surpreendido e ter o orçamento comprometido.
A compra do carro novo implica uma série de cálculos importantes, de acordo com o especialista. “Acima de tudo respeite seu orçamento e planeje com muito critério a compra do carro”, diz Pereira. Ele observa que muitos consumidores consideram apenas o valor da parcela do carro no momento de financiar a compra. Mas outras despesas, como seguro, combustível, limpeza, manutenção, impostos e estacionamento chegam na maioria das vezes ao mesmo valor da prestação, de acordo com estudo do PCC/ Mastercard.
Uma boa dica, na visão do consultor, é visitar os sites das montadoras e conhecer os modelos de veículos que elas oferecem. “Quando chegar na concessionária já saiba antecipadamente o quanto poderá pagar. O vendedor sempre levará em conta o melhor negócio para ele, por isso ponha em prática o poder de barganhar. Se o pagamento for a vista exija um bom desconto”, orienta ainda. Para Pereira, também é importante ter cuidado com a emoção. “Opte por tomar a decisão de forma mais racional possível, visite a concessionária antes da compra e pesquise muito modelos e oportunidades de compra”, acrescenta.