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Curando através da música

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Jorge Boucinhas – médico e professor da UFRN [email protected]

A Organização Mundial da Saúde define seu objeto de atenção como a busca de “um estado de completo bem estar físico, mental e espiritual, e não somente a ausência de enfermidade”. A definição, por si mesma, lembra ser o ente humano um complexo bio-psico-socio-espiritual, pelo que um indivíduo para tornar-se realmente saudável necessita da integração harmoniosa de todos estes diferentes níveis.

A Música, junto com seus elementos (ritmo, harmonia e melodia) atinge diretamente o ente humano, visando especialmente o que nunca pode adoecer, qual seja, o “Noos”, a essência espiritual. A partir deste nível a pessoa obtém força para lutar e perceber que a eventualidade do sofrimento faz parte de um processo de experimentação e crescimento, advindo a compreensão de que se é maior que a limitação que se sofre, seja a nível físico ou emocional, podendo-se passar a ser protagonista de sua própria história de vida e não mero expectador.

Para algumas cultura o som é força divina, sendo que os gregos antigos já haviam desenvolvido um sistema de sons baseados na influência de ritmos e melodias sobre o psiquismo. Pitágoras foi um grande estudioso da melodia, enquanto Platão, também grande admirador da música e de seus efeitos curativos sobre o homem, deixou cunhada a frase “a música é o remédio da alma”. Também ficaram gravadas na Bíblia as descrições da influência da música, especialmente ao mencionar como soia enfurecer-se ou alegrar-se o Rei Saul com as melodias de Davi. Ademais, este está nela muito mais citado como grande salmista que como o vencedor de Golias. 

Nos tempos modernos, na década de quarenta, Raymond Ryfe elaborou a Teoria Freqüencial das Doenças, em que considerava cada enfermidade como conseqüência da alteração de uma determinada freqüência.   Baseando-se na mesma, ficou justificado porque os sons de uma harpa podem reduzir as crises de histeria, enquanto esparsos sons agudos e altos podem levam a aumento da irritabilidade.

Steven Halpern, na década de setenta, na Califórnia, criou a denominação “New Age Music” englobando os elementos de uma corrente que buscou (busca, ainda)  integrar tendências musicais variadas, quais ritmos africanos, instrumentos musicais nipônicos e melodias indianas, adicionar influências impressionistas e aplicá-los a sintetizadores de sons modernos, obtendo efeitos relaxantes e inspiradores.   Teoricamente seriam músicas destinadas a obter a “expansão da consciência” tão cara aos preconizadores da “Nova Era de Aquário”.

Dentre as músicas utilizadas comumente em Musicoterapia algumas são bem difundidas, pelo que vale a pena recordá-las e experimentá-las. Dentre as mesmas temos, como tranqüilizantes, “Sonho de Amor”, de Liszt, “Serenata” e “Ave Maria” de Schubert, e “Rêverie” de Schumann. Como estimulantes, a Abertura da “Aída” de Verdi e “A Grande Marcha do Tannhäuser” de Wagner. Já o “Concerto em Dó Maior para Bandolim, Corda e Clavicórdio” de Vivaldi e “Confort Zone” de Halpern teriam influência positiva sobre a melhora da memória.

Também há influência dos diferentes tipos de instrumentos musicais. Assim, por exemplo, o psiquiatra inglês Robert Schauffer, em suas investigações, concluiu que, de uma maneira geral, os sons de piano podem combater a melancolia, os de violino servem a combater a insegurança, a flauta de pan combate a ansiedade e os metais de sopro induzem à ação e favorecem atos de coragem (será por isto que as cornetas são usadas em tantas atividades das Forças Armadas?).

Atualmente a Musicoterapia é largamente usada, claro que aliada aos tratamentos convencionais, no tratamento de diferentes patologias, quais problemas psiquiátricos (Depressão Reativa, Autismo, Distúrbio Obsessivo-Compulsivo, Neurose de Angústia, algumas Fobias, Síndrome do Pânico), enfermidades neurológicas (como afasia, perda da fala), em crises de Asma Brônquica, em Retocolite Ulcerativa, Úlcera Péptica, afora também ter possibilidades de emprego em Hipertensão Arterial Sistêmica e outros problemas mais.

A intervenção terapêutica pode vir associada à outras técnicas, tais como Relaxamento Progressivo de Jacobson, Treinamento Autógeno de Schultz, Reiki, Yoga, Meditação, Acupuntura.

Para os que desejam ampliar seus horizontes no assunto, há gama imensa de material disponível.  Para aqueles aos quais basta utilizar o básico, é suficiente pegar uma ou algumas das sugestões dadas, recostar-se em uma boa poltrona e usufruir.

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