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Curta as curtas

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Nei Leandro de Castro
Escritor

Nos anos 1970, o argentino Federico Spitale resolveu sair de Buenos Aires e procurar um emprego no Rio de Janeiro. Ele foi à Denison, onde eu trabalhava, e falou com a secretária do departamento de criação. A moça perguntou qual era a especialidade dele. Spitale respondeu:
– Yo soy bocetista.
A secretária  deu uma boa risada e Spitale não entendeu. Ele simplesmente queria dizer, em espanhol, que era desenhista.

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Em Lisboa, depois de almoço, o garçom me perguntou se eu queria uma podridão nobre. Podridão nobre? Para mim, devia ser as calçolas usadas de alguma rainha. Ele explicou: podridão nobre era um vinho de sobremesa, feita com uva que passa do ponto. Em francês também existe e se chama “pourriture noble”. Provei, gostei e até hoje degusto quase sempre uma podridão nobre depois do almoço.

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A moreninha finalmente convenceu o bardo da Rua São João a fazer com ela uma viagem a Paris. Ele já está treinando o seu francês, para pedir nos restaurantes uma “petite farofe d”oeuf”.

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O chef Gerard Baptiste vai publicar um livro, que tem o título de “Meus pratos preferidos: de Acari à Ucrânia”. Ele fala desde a paçoca de bode acariense até os gafanhotos fritos que costuma degustar na Ucrânia.

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Quer ler um livro imensamente erótico? Procure “Fanny Hill / Memórias de uma mulher de prazer”. A leitura não é recomendada a Volonté, pois acenderia ainda mais a sua chama.

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Qualquer hora dessas, estarei visitando a terrinha. Ando com saudade dos amigos, da tapioca com ginja da Redinha, do bar da Salete. Quero também participar dos encontros que eram realizados na Livraria Câmara Cascudo. Quero beber  batida de maracujá no Bar da Salete, na companhia do meu poeta peripatético preferido, e beber sapiência nas palestras de Soares dos Anjos.

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São 14 anos de ausência de Lula Guimarães, o querido e inesquecível Lula. A última vez que estive com ele foi numa viagem a Lisboa. Ele passou mal ao atravessar uma das pontes sobre o Tejo e eu tomei um grande susto. Num dos seus poemas, com a premonição de poeta, ele escreveu: “Se vier o enfarte, atravessarei a ponte de safena?”
Veio o infarto e o poeta não atravessou a tal ponte, depois de sair do bar Raro Sabor e chegar em casa. Todos os seus amigos lembram com muita saudade do poeta.
Vale a pena ler de novo. A esposa de um certo chef de cuisine perguntou a ele:
– Se a gente soubesse que o mundo iria se acabar em nove minutos, o que você faria comigo?
O chef respondeu:
– Faria amor com você.
E a mulher:
– E nos oito minutos e meio restantes?

Citação da semana:
 “O desmaio é a amostra grátis da morte” (Roberto Rodrigues Roque)

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