Celebrando, resistindo e, claro, dançando muito. O Encontro de Dança chega ao 10º ano de existência, mantendo o status de ser uma das melhores oportunidades de lazer para quem aprecia dança contemporânea em Natal. Em momento “apesar da crise”, o evento será realizado em duas etapas em 2017: a primeira começa neste sábado, dia 29, e irá até 06 de maio, com apresentações concentradas no Barracão dos Clowns, em Nova Descoberta. A segunda etapa será em agosto. Mesmo reduzido, o Encontro mantém a qualidade que é sua marca registrada, reunindo nomes locais, nacionais e internacionais da dança.
Com entrada franca, premiados solos de Stuttgart podem ser apreciados no festival
“Neste ano tivemos dificuldade na captação de recursos, então tivemos que fazer algumas adaptações. Mas o Encontro de Dança vai acontecer com o mesmo pique de sempre”, afirma Diana Fontes, idealizadora do evento. Pequenos grupos de dança aproveitarão o espaço limitado do Barracão dos Clowns para fazer grandes apresentações. O acesso é gratuito, e os ingressos serão distribuídos na bilheteria apenas uma hora antes do início do espetáculo.
A programação do Encontro de Dança 2017 mantém a diversidade de estilos, reunindo do intimista ao mais conceitual. Entre os nomes estão está a Companhia H (RS) com o espetáculo “Sopros”; GEDA Cia de Dança Contemporânea (RS) com “Não me toque, estou cheia de lágrimas – Sensações de Clarice Lispector”; João Paulo Gross (GO) com “O Crivo”; Solos de Stuttgart (Alemanha) com os solos “Utopia”, “Tzid”, “Entrelacs”, “Equilíbrio” e “Por Baixo”.
Pela Plataforma do RN, responsável pela seleção das companhias do estado para o evento, estão o Entre Nós Coletivo de Criação com os espetáculos “Caricat’s” e “Bailongo”; Gesto Cia de Dança (Mossoró) com “Meu, Seu, Nosso”; Companhia de Dança do Teatro Alberto Maranhão (CDTAM) em “Andara”, e Rozeane Oliveira do Coletivo Independente Dependente de Artistas (CIDA) no solo “Eu, Fêmea”.
O festival contará também com a apreciação do Farofa Crítica (Diogo Spinelli, George Holanda, Heloisa Sousa, Paul Moraes, Paulinha Medeiros e Rafael Duarte), um coletivo de críticos de teatro, performance e dança, que surgiu no cenário potiguar com o intuito de escrever, opinar, aplaudir e questionar produções de Natal e do mundo. As oficinas e bate-papos com os diretores, para um público mais específico, ocorrerão entre o EDTAM, TCP, Espaço Vivo, Espaço A3, e Studio Corpo de Baile.
História em movimento
Em uma década, o Encontro de Dança ajudou a formar um público exigente e interessado na contemporaneidade em movimento. Foi um entendimento conquistado aos poucos, como o desenvolvimento gradual de uma boa coreografia. “O evento teve que aprender a dialogar com o público. No começo fomos com muita sede ao pote, e a maioria das pessoas não entendeu o que estávamos passando. Mas com o tempo isso foi se resolvendo. Soubemos programar os grupos para os espaços e horários adequados, dividindo os mais conceituais e os mais populuares conforme estilos e espaços. Conseguimos achar a harmonia entre os gostos de cada um”, explica Diana.
As edições anteriores do encontro se dividiam entre teatros diferentes e áreas públicas abertas. Uma proposta ousada para Natal. Em dez anos de movimento, Diana afirma que há muito a destacar. Ela cita alguns momentos e companhias, como a argentina La Wagner, que mexeu com a plateia e a própria classe artística com sua performance em 2016; em 2014, Paulo Azevedo integrou o hip hop às danças do evento; em 2015 e 2016, destacou-se “Escrito Absurdo”, de Omar Carrum e Vlademir Rodriguez, uma arte peculiar e leve ao mesmo tempo.
A Quasar Cia de Dança causa admiração ao inovar a cada apresentação; o Grua, de São Paulo, com um potiguar Willy Helm e as improvisações na rua, interagindo com os artistas locais; os Solos de Stuttgart, parceiro que iniciou no evento a mostra “Dança Mundo”, de 2014 até hoje; o Crivo, de Goiás, parceiro do Quasar; a Cia dos Pés (SP), que até hoje é lembrada pela dança aérea na Fiern, em 2014; Lamira (TO), dirigida por João Vicente , de Natal, que faz um trabalho de dança junto a crianças; a criação da RENDA – Rede Nordeste de Dança (RN, PE, PB, BA) -, e Rede Nacional de Dança (RN, BA, SP, GO, PR), integrando e fazendo circular os artistas entre as regiões.
Diana Fontes celebra a capacidade do Encontro de Dança em construir pontes entre os grupos que se apresentaram ao longo de dez anos. “O festival permitiu pontes entre artistas diferentes, e criou oportunidades através de parcerias que soubemos aproveitar. Temos duas escolas públicas de dança que são referência. E que forma bailarinos maravilhosos para o mundo. O festival também traz grandes curadores com muita coisa a oferecer. É um cenário otimista, apesar das dificuldades”, diz. Para a segunda edição do Encontro, em agosto, Diana prevê a participação de companhias que exigirão espaços maiores, como o Teatro Riachuelo. “Só lamento que ainda não teremos o Teatro Alberto Maranhão. Tivemos grandes momentos por lá, o nosso pico de público”, conclui.
(Por Tádzio França, repórter)
Serviço:
Encontro de Dança 2017. De 29/04 (sábado) até 06/05, no Barracão dos Clowns, Nova Descoberta. Ingressos devem ser retirados gratuitamente uma hora antes do espetáculo.
ENCONTRO DE DANÇA 2017: PROGRAMAÇÃO
SÁBADO:
BAILONGO (Entre Nós Coletivo de Criação – 20h)
Seis pessoas com seus pequenos dramas, tratando de existir individualmente, enquanto a música os funde inevitavelmente. Coreografia: Vlademir Rodriguez.
CARICAT’S (Entre Nós Coletivo de Criação)
Obra de inspiração clownesca criada para buscar soluções para o que possa vir a acontecer. Nada é definitivo. Coreografia: Marcelo Moacyr.
DOMINGO:
MEU, SEU, NOSSO (Gesto Cia de Dança/Mossoró/20h)
Um coletivo de autores leve, pesado, forte, sensível, divertido, dramático, surpreendente, humano. Uma nova ótica sobre movimentos pré estabelecidos que buscam encontrar ligação onde não existe. Coreografia: Marcelo Pereira, Leonardo Saldanha, Willamy Carlos, Hykaroo Mendonça, Alisson Albuquerque e Cia.
EU, FÊMEA – ROZEANE OLIVEIRA (Coletivo Independente Dependente de Artistas – CIDA)
O espetáculo vem à tona para evidenciar um ser que se transpõe, um ser que se atravessa: a mulher. A obra tem a força da transformação, evolução e transbordamento. Coreografia: Rozeane Oliveira.
SEGUNDA:
ANDARA (Cia de Dança do Teatro Alberto Maranhão – 20h)
O termo ‘andara’, de origem Tupi-Guarani, que significa abraçar para dançar, serviu como ponto de partida para a criação deste espetáculo. Coreografia: Juarez Moniz.
QUARTA:
SOPROS (Companhia H-RS-20h)
Prêmio FUNARTE Klauss Vianna de 2015, o espetáculo de busca uma fusão com elementos nativistas gaúchos, interpretado por bailarinos de formação heterogênea. Coreografia: Ivan Motta.
QUINTA:
NÃO ME TOQUE ESTOU CHEIA DE LÁGRIMAS- SENSAÇÕES DE CLARICE LISPECTOR (Geda Cia de Dança Contemporânea-RS-20h). O espetáculo é constituído de três cenas: o nascimento de Clarice, a infância de Clarice e Clarice adulta. Coreografia: Maria Waleska Van Helden.
SEXTA:
(E) UTOPIA: UMA VIAGEM ENTRE MARTIN, THOMAS E JOHN (Solos de Stuttgart/Alemanha/20h)
A ideia de um mundo ideal, com justiça e igualdade não existe! Thomas More, Martin Luther King e John Lennon, com suas atitudes nos fascinaram com suas atitudes. Coreografia e Interprete: Maxine Van Lishout (Bélgica).
TZID (Solos de Stuttgart)
Há muito mais para descobrir quando você está livre de limitações. Coreografia: Beatrice Panero (Italia) – Interprete: Pasquale Lombardi (Itália)
ENTRELACS (Solos de Stuttgart)
Esta peça quer exibir experiências existenciais humanas, usando o exemplo do fio condutor que segue o corpo em movimento. Coreografia e Interprete: Veronika Akopova (França/Russsia)
EQUILÍBRIO (Solos de Stuttgart)
Este é um solo sobre comportamento pessoal e como você deve habitar na sociedade. Coreografia e Intérprete: Louis Thuriot (Bélgica)
POR BAIXO (Solos de Stuttgart)
Como lidar com a quantidade de estresse, tristeza, medo e ansiedade em nossas vidas? Coreografia e Interprete: Ravid Abarbanel (Israel).
SÁBADO:
O CRIVO (GO-20h)
O Crivo é um espetáculo de dança inspirado na obra “Primeiras Estórias” do escritor João Guimarães Rosa. Coreografia: João Paulo Gross.