terça-feira, 23 de abril, 2024
30.1 C
Natal
terça-feira, 23 de abril, 2024

De campanhas e avarezas

- Publicidade -

Valério Mesquita
Escritor

Chico do peixe, assim conhecido porque era locatário no mercado de venda de pescados, caracterizou-se, também, como eterno concorrente à câmara municipal de Natal. Foi seguidor fiel de Dix-Huit Rosado e imitador de suas palavras e gestos. Na campanha com Aluízio Alves para deputado federal denominada “um amigo em cada rua”, ouvia atento o líder mossoroense dizer: “Desejo o empenho dos meus amigos natalenses. Uma andorinha só, mesmo que tenha asas de águia não faz verão”. Uma semana depois, Chico do peixe, no bairro das Quintas profunda discursava no palanque: “Como falou semana passada o “dotô” “Dixuite”, uma andorinha só “mermo” tendo asas de aço não faz verão!”. Aí um gaiato gritou do meio do povo: “Nem voa, Chico, nem voa!!”.

02) Francisco Dantas ou Chico da prefeitura como era conhecido em Mossoró, ingressou no folclore político local por haver se elegido  “vereador”  sem  concorrer a  eleição. Passava o tempo todo na calçada da câmara municipal varrendo aqui e acolá, convidando os amigos para conhecer o seu “gabinete”. Após longos meses de “legislatura” foi flagrado pelo presidente da Casa com três amigos ao redor do seu birô, ligando para o ramal da copa: “Dona Raimunda? (a copeira), por favor, traga aqui três “cafezes” para o meu gabinete por “obeseque””. Ali mesmo, perdeu o “mandato”. Expulso.

03) Ainda de Mossoró, adianta Hirohito, chega-me a história do “é o capim meu filho, é o capim minha filha”. Trata-se de Antônio Rodrigues de Carvalho, advogado, médico, ex-deputado estadual e ex-prefeito da capital do Oeste. Certa vez, à sombra das castanholas da praça do Codó, Toinho exagerou no “mé”, subiu num caminhão e começou a ensaiar um discurso. Lá pras tantas, abriu o verbo: “Ninguém se perde no caminho da volta, já dizia José Américo de Almeida. Júlio César, imperador de Roma sentenciou sem medo diante da tropa: “A sorte está lançada””. E por aí, foi repetindo frases históricas, uma atrás das outras. Uziel, seu fiel correligionário, achando demasiadas as citações, puxou na perna da calça do orador: “Pára com isso Toinho. Senão vão dizer por aí que nós estamos bêbados na praça”. Toinho foi rápido e sincero: “E você quer negar esse fato?”.

04) Zé do Rêgo, farmacêutico em Mossoró, é conhecido pela sua habitual avareza. Em seu estabelecimento não existe ação social nem bolsa família. Contou-me o primo, deputado Getúlio Rêgo, uma de suas histórias hilárias. No famoso balcão de sua farmácia, sempre na hora do almoço, para não perder o apurado, a esposa diariamente ia deixar o almoço. Após haver se servido e a mulher ter se retirado, foi abordado por um pedinte: “Moço, me dê uma ajuda!”. Zé do Rêgo, sério e contrito, respondeu sem delongas: “A “ajuda” acabou de sair. Ficou aqui “juda”. Perdoe!”.

05) O médico Isauro Rosado tornou-se meu amigo e compadre. A seu convite, fui assistir um comício em prol da candidatura de Mota Neto ao Senado, em Natal. No palanque, logo de plano, divisei a figura esbelta de Motinha, alto, gordo e de largos quadris. Dir-se-ia: uma postura senatorial. Em baixo, há poucos metros, no meio do povo, Isauro resolveu “mexer” com Mota Neto. Escondeu-se entre os circunstantes e gritou: “Motinha, Motinha!!”. O ex-deputado de Mossoró sempre solicito, percorria o olhar entre a galera para fazer um aceno ou devolver a gentileza do chamado e não achava ninguém. “Motinha, Motinha”, bradava Isauro, às gargalhadas, ante a preocupação do seu amigo em descobrir de onde provinham os gritos. “Agora é você, Valério”, sugeriu Isauro. “Não tenho intimidade com ele”, retruquei. Mas, terminei satisfazendo o seu pedido. “Motinha, Motinha!!”. Ao cabo de cinco minutos, encabulado, Motinha foi se refugiar na traseira do palanque e desta vez, escondendo-se entre os políticos para não mais ser visto pelo eleitor chato e inconveniente. Saímos, ainda gritando mais uma vez.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas