sexta-feira, 29 de março, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

De caso com a obsessão

- Publicidade -

A reportagem do TN Família esteve na sede do DASA e ouviu o depoimento de três membros do grupo. Um com compulsão sexual, outro que deixou de ser extremamente tímido para ser excessivamente ciumento e uma senhora que, após se separar e ver as três filhas seguirem seus caminhos na vida, não consegue se relacionar amorosamente por só ver defeitos nos homens, apesar de temer muito a solidão. Para preservar suas identidades, não revelaremos aqui o nome de cada um deles. O que importa é o que sentem e como estão conseguindo superar os seus problemas. A cada um deles, chamaremos por uma letra. Conheça abaixo a história de J.
Depoimentos de membros do grupo Dasa revelam sentimentos confusos, sofrimento, angústia e até mesmo o desejo recorrente de acabar com a própria vida
“Desde pequeno, eu sempre tinha o padrão de fantasiar e de me masturbar. Mas com uns 16 anos de idade, quando eu consegui ter acesso à internet, eu comecei a ter padrões de ver pornografia. Normal para um menino dessa idade, só que o que começou normal, meia hora, quarenta minutos de ver, começou a aumentar. Com o tempo foi aumentando, passava duas, três horas, quatro horas, amanhecia o dia; comecei a faltar aula, e esse padrão foi seguindo durante muito tempo. E foi ficando maior. E, com o tempo, não me satisfazia mais só isso. Comecei a marcar, em sala de bate-papo, com homens para fazer sexo. Eu marcava com eles e não ia. Só que com o tempo eu comecei a marcar e ir. Os anos se passaram e comecei esse padrão: além da pornografia e da masturbação, eu marcava com as pessoas para fazer sexo e depois me arrependia. Vinha um remorso, um desespero porque eu tinha feito aquilo, aquele  arrependimento. E começou a ficar mais recorrente. Tinha dias que eu marcava com duas pessoas, três pessoas, saía com elas e depois voltava pra casa pra ver pornografia. E começou a afetar o meu trabalho, a minha vida acadêmica, minha vida social. Eu fiquei consumido por isso; pela masturbação, pela pornografia e por sexo. E meu  fundo de poço foi quando eu comecei a sair e a caçar no meio da rua. Além disso, eu comecei, à noite, a ir atrás de flanelinha, de drogado, de gente na rua para fazer sexo. E também não me satisfazia. É uma tara que não termina. E depois que o transe para, vem o orgasmo e você se arrepende. Vem aquele desespero, vontade de se matar, suicídio, uma sensação de desvalia muito grande. E depois, com o tempo, volta de novo a vontade. Eu já sabia que ia me arrepender, mas aquele perigo junto com a excitação me dava vontade de ir. E eu prolongava o máximo que eu podia por que eu sabia que depois que acabasse o transe — porque é uma espécie de transe que eu fico — eu sabia que ia me arrepender. Suicídio, eu pensava direto. Nunca tive coragem, mas era um pensamento recorrente.

Teve uma vez que eu coloquei no meu carro três rapazes que eu não conhecia e levei para um motel. Eu disse: eu sei que vou ser assaltado agora! Mas a fissura, a vontade de fazer sexo, a imaginação, a fantasia, era tão grande que mesmo assim eles foram para o motel, usaram droga, e mesmo assim eu fiz sexo com eles e depois me arrependi. E o risco que eu corri, de ser assassinado, assaltado, realmente… E não foi só uma vez. Foi mais de uma vez.  

Eu procurei ajuda profissional, psiquiatra, psicólogo, mas nenhum conseguiu identificar o que eu tinha. Eu pensava que era um devasso, que tinha uma coisa devassa além do normal e vergonhosa que ninguém podia saber; procurei em várias religiões também para poder me libertar disso. Isso fazia me sentir mal; fazia eu ter nojo de  mim mesmo.

Aí, na internet mesmo, eu coloquei compulsão por sexo/dependência de sexo e encontrei o DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos), li todos os depoimentos que tinha no site, adquiri a literatura, aí pronto, identifiquei o que eu tinha. Na verdade, o que eu tinha era uma doença que dá em uma parcela da população, como dá o alcoolismo, como dá para a droga, ou comer excessivo, ou jogo excessivo, é uma coisa que certas pessoas têm. A minha dependência enveredou pelo sexo.
#SAIBAMAIS#
Eu estou em recuperação. Já consigo passar meses fora de todos os meus padrões, sem me masturbar, sem sair, sem ver pornografia, mas eu ainda recaí uma vez. Nesses cinco meses, eu recaí uma vez. 

Como eu tenho esse problema, eu passei um bom tempo sem ter carro, entreguei as chaves para os meus parentes. Eles sabem do meu problema. Meu cartão de crédito e do banco, eu também entreguei. E o meu computador é cheio de filtro antipornográfico — porque uma coisa puxa outra. Se eu ver pornografia, eu vou  ter vontade de me masturbar; se eu tiver vontade de me masturbar, eu vou ter vontade de fazer sexo; se eu tiver vontade de fazer sexo, eu vou procurar em bate-papo; vou encontrar pessoas pra fazer sexo; depois vou procurar na rua. Isso pode virar uma maratona que dura um, dois, três, quatro dias.”  

“Tenho um trauma grande de ficar só”

“Eu vinha numa depressão muito grande em relação às minhas filhas, porque elas ficam muito afastadas de mim e eu tinha um amor muito compulsivo por elas. Elas já são grandes, são pessoas independentes, e eu me sentia excluída por elas. Eu tinha numa depressão muito grande, pensava em suicídio, chorava o tempo todo, e era uma pessoa meio que amarga em relação a isso, de elas não me procurarem pra nada. Eu não queria ser uma mãe só três vezes por ano; no dia das mães, dia do meu aniversário e no Natal. Eu queria que elas compartilhassem da minha vida e eu da delas. Eu sofria muito com isso, mas graças a Deus, aqui no DASA, como escuto os problemas dos meus companheiros, e tem coisas bem mais graves, eu consegui me livrar disso. Agora, no dia das mães eu tive a prova viva que estou curada em relação a isso, e vou esperar que o tempo faça com que elas também se curem. Da mesma forma como eu procurei ajuda aqui no DASA, quem sabe elas também não precisem de ajuda também.

Meu problema com minhas filhas era mais pela ausência. Eu sentia muito a indiferença delas comigo. Eu me separei, me casei muito jovem, com quinze anos, fui mãe muito jovem… aí passei 22 anos casada, aí me separei. Mas essa separação não me atingiu tanto assim. O que me atingiu foi elas, depois de um certo tempo se distanciarem de mim. Simplesmente não ligavam pra mim, não me procuravam, eu não as via, mesmo morando na mesma cidade, são pessoas boas, inteligentes, cultas, mas que me deixam totalmente de fora da vida delas. Pela criação eu tenho certeza que foi boa, dei carinho, dei amor, dei tudo que nem toda mãe dá, na verdade. Eu acho que eu dei até demais. Essa minha compulsividade era de um amor que eu tenho por elas e queria em troco, de volta também, e não tinha. Mas graças ao DASA, aos meus companheiros, eu estou curada disso. Mas estou percebendo que estou com outro problema também.

Quando eu encontro uma pessoa, eu fico procurando os defeitos dela. Eu não fico procurando as virtudes. Eu só vejo os defeitos, fico analisando a pessoa do começo ao fim, de dia à noite, o que faz, o que diz, como se comporta. É uma espécie de desconfiança também. É como eu tivesse sido muito traída, o que eu não fui. É uma coisa que eu estou desenvolvendo. 

Mas sexualmente não tenho problemas. Eu sou muito bem resolvida sexualmente. Sou uma pessoa que, graças a Deus, em termos de sexo eu não tenho problema. Meu problema é de companheirismo. Eu acho que eu tenho um pouco de querer mandar, de poder, de quando eu estou com uma pessoa eu acho, talvez, que por a pessoa não ser o que eu quero, eu quero moldar a pessoa. E ninguém molda ninguém; ninguém muda ninguém. Quando eu estou com um relacionamento está tudo bem; de repente, se a pessoa fizer uma coisa que eu não goste, pronto, ali já é o suficiente, eu já termino e já fico só. Mas em busca de outro, porque eu morro de medo da solidão. Morro de medo de ficar só. Tenho um trauma tão grande de ficar só.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas