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De leite

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José Arno Galvão – advogado

Minhas relações com o leite nunca ficaram muito claras para mim e é difícil entendê-las. Já contei por aqui o trabalho que minha mãe teve quando eu era novinho, tendo de preparar uma mistura de banana com leite para mim, na época em que nem se falava em liquidificador.

Cresci, um pouco, é verdade, e essas relações ficaram ainda mais complicadas. Quando chegava da escola, à tarde, era obrigado a tomar um copo de leite, que podia conter mais ou menos café, ou nenhum, dependendo do número dos adultos que haviam participado do lanche. Mas, ao mesmo tempo, gostava imenso de comer papa, fosse de maizena, fosse de aveia, o que me acarretou umas queimaduras. Fora preparado um prato de papa e eu, sentado em uma cadeira, aguardava que meu pai chegasse à mesa para começar. Só que a cadeira tinha seu assento de palhinha com imenso buraco, parcialmente tampado com uma taboa que se deslocara sem eu perceber. Daí a escorregar para o buraco, levando comigo o prato de papa escaldante foi um passo. A queimadura na coxa era grande e levou-me à imobilização por alguns dias.

Gostava, também, de coalhada, como vim a apreciar o iogurte, livre de preconceitos como o que minha irmã Lúcia alimentava por conta dos bacilos que provocam a fermentação do leite e que são visíveis com uma simples lente de aumento. Vou longe por um doce de leite, seja qual for a forma de preparo: se ele tiver talhado, deixando aqueles pedaços para mastigar, melhor. Sem falar nos queijos, que somente rejeito quando são como a ricota ou o queijo de coalho tal como os sábios do Ministério da Agricultura recomendam. Um queijo de manteiga que não tenha visto geladeira é inigualável. Mas gosto dos que Minas Gerais exporta, principalmente o do reino, embora cada vez eles fiquem parecidos com esses queijos tipo mussarela, de um sabor indefinido.

Por isso, tenho dado preferência, quando disponíveis, aos queijos de países da Europa, como a França, a Holanda e, mais próximo, Portugal. Foi de lá que trouxe, quando ainda podia, um queijo amanteigado da Serra da Estrela, que contém um núcleo semi-líquido que tem sabor não se sabe se de manteiga, se de queijo. Delicioso.

Até que, na idade adulta, submetendo-me á bateria de exames de laboratório a que os médicos habitualmente recorrem, fiquei sabendo que, como tantos adultos brasileiros, tenho intolerância a lactose, o açúcar do leite. Nada demais, quando se sabe que isso é facilmente superado com a simples ingestão de um comprimido contendo lactase. Os povos árabes parece que não tem esse problema, preferindo escorrer o leite posto para fermentar, de forma a que o soro leve a maior parte de lactose.

Nisso tudo fico querendo uma explicação que ninguém dá: por que a lactase preparada no Brasil não tem o efeito que a importada?

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