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De volta a 1994

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Dácio Galvão [ [email protected] ]

O compositor Arrigo Barnabé, celebrado por Caetano Veloso na música “Língua”, nos possibilitou há vinte anos um bate-papo. Transcrito resultou em labirintos. Teias adensadas fragmentariamente na história da poesia e da música contemporânea. Daqui e de alhures. Barnabé fez antológica versão experimental do poema de Câmara Cascudo “Não Gosto de Sertão Verde” no CD “Brouhaha”. Poema a dedicado a Manuel Bandeira e editado por Mário de Andrade na revista modernista Terra roxa… e outras terras. Conversei com ele sobre o assunto:

Béla Bartok, Igor Stravinsky, Arnold Schöenberg, Anton Webern, John Cage contribuíram com o seu projeto musical adequando melodia atonal, dodecafonismo e experimentos sonoros a uma possibilidade popular/radical. O que não é fácil! Como isso se processou?

Isso tem muito a ver com os Tropicalistas principalmente o trabalho dos arranjadores que trabalharam com os Tropicalistas. No caso: Rogério Duprat, Damiano Cozzella, Júlio Medaglia e também com alguma coisa dos Beatles. É que eles faziam algumas experiências misturando música erudita com popular e tal.

Mas esse pessoal gerou um clima na sua cabeça para que você detonasse…

E também o Aylton Escobar, eu cantei numa missa dele em Ouro Preto… O Gilberto Mendes sabe, quer dizer, eu acho que a nível de Brasil umas pessoas interferiram.

Mas em padrão do eruditismo internacional, em padrão de Stravinsky…

Isso são coisas do início do século. Stravinsky, Bartok são superimportantes para mim. Stravinsky, Bartók, Schöenberg, Alban Berg, Webern são superimportantes mesmo, para o meu trabalho. E se você for ver o “Clara Crocodilo” é um disco de música erudita, que teve algum sucesso, alguma repercussão na área da música popular. Mas é um disco, eu o considero um disco de música erudita.

Frank Zappa tem alguma influência nos seus arranjos vocais, especialmente, os arranjos de vozes femininas?

Não, não tem. Não tem influência nenhuma. Conheci pouco Frank Zappa e depois que começaram a falar que eu parecia com ele, deixei de escutar mesmo. Eu acho que o que tem de semelhante é que o Frank Zappa é um cara puta-músico, grande músico e que conhecia muito, ele conhecia bastante música erudita moderna contemporânea e usava isso no trabalho dele.

O álbum de Walter Franco “Ou não”, “Araçá Azul” de Caetano Veloso, “Tatuagens” de Livio Tragtenberg e o seu “Clara Crocodilo” são marcos pós-tropicália postulando sempre a invenção na acepção poundiana. Você identificaria atualmente algum trabalho no nível de formulação do conteúdo desses discos?

Olha eu tenho escutado pouca coisa. Não sei se existe alguma coisa assim. Eu não conheço. Se tem, eu não conheço.

A concreção verbal lhe fascina especialmente a acústica que traduz o significante. Arnaud Daniel, Ezra Pound sugeriram-lhe a aliteração, paranomásia sons vocálicos consonantais? Quando escreve letras essa preocupação lhe acompanha?

Sim. É um negócio que acompanha. É uma coisa que eu tenho feito cada vez menos: escrever letra de música. Eu tenho parado de fazer isso. Mas, é uma coisa que faz parte da minha técnica. Vamos dizer assim: vou me preocupar com isso, tentar fazer.

Depois da bossa nova, do pós-tudo tropicalista,  atonalismo, qual o rumo da MPB que vislumbra?

Eu não sei qual o rumo. Olha eu acho que a tendência é se caminhar para uma diluição das coisas que já foram feitas. Acho que essa é a tendência. A tendência de diluir as coisas.

Possibilitar uma absorção maior da massa, coisa desse tipo.

É. Eu acho que depois desse passo, talvez surja alguma outra coisa, mas que está no processo de diluição do que já foi feito.

Em nível de radicalizar?

É.

Você musicou alguns poemas de poetas importantes: Augusto de Campos, Fernando Pessoa. Qual o critério para essa atitude? Cabaret Dadá…

No caso de Fernando Pessoa, atendendo convite da Fundação Gulbenkian, e a Olivia Byigton que me pediu para escolher um texto. Eu escolhi esse mas eu tinha vontade de fazer o “Poema em Linha Reta” que acabei fazendo depois…Eu musiquei a partir de… Eu gosto mais do resultado do “Poema em Linha”. E musiquei o “Embaixo da minha porta” de Fernando Pessoa. Agora do Augusto foi uma coisa assim. O Augusto sugeriu que eu musicasse o “Jaguadarte” (Lewis Carroll) eu pedi pra ele uma sugestão. Eu musiquei o “Jaguadarte”, depois o “Tudo está dito”. Eu tinha começado a fazer, a musicar os outros poemas do Augusto também. Isso é um negócio que eu gosto muito de fazer, principalmente musicar poemas do Augusto. Do Haroldo eu tenho muita vontade de trabalhar também… (com poemas de Haroldo) Mas isso é uma coisa, que você tem que ter na cabeça que não é para você dentro do show business. É uma outra coisa. É um outro lado, um outro caminho, sabe? Você não pode misturar isso com o show business, em primeiro lugar.

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