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Depressão e envelhecimento

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Dr. Jorge Boucinhas
Médico  e  Professor
A cada ano uma alta proporção dos habitantes deste planeta Terra enfrenta uma grande tragédia pessoal.  Morre alguém altamente significativo (parente próximo ou amigo íntimo), enfrenta-se um processo judicial, termina um casamento duradouro, perde-se o emprego, surgem sérios problemas financeiros.  Outro caso de evento elicitador de stress emocional é o de crianças que sofreram violência física ou sexual, as quais podem vir a apresentar as repercussões desse episódio durante a vida adulta,   e tais repercussões podem ser tanto psicológicas quanto fisiológicas.  Assim, pode-se inferir que a totalidade das pessoas pode ter experiências de vida que afetem seu bem-estar emocional, e estas experiências podem levar ao desencadeamento de depressão clinicamente perceptível.

Adiante-se que a saúde mental é um tópico bastante complexo.   Alguns estados mentais e emocionais possuem um componente biológico bem firmado, afora o componente psicológico.   Por exemplo, as variações de uma depressão clínica são definidas pelas mudanças químicas que ocorrem nos hormônios cerebrais.   O emprego de medicação especializada pode ser útil nestes casos, e dentre os medicamentos mais usados no tratamento estão os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (como fluoxetina, paroxetina, citalopram e sertralina), além de outras classes de antidepressivos, dentre os quais está a bupropiona.  A diversidade de tipos de fármacos muito ajuda, pois enquanto uma medicação pode causar efeitos colaterais em um indivíduo, outra, de um tipo semelhante ou igual, não o faz e o beneficia com sucesso sem causar incômodos.   

Muitas vezes os eventos emocionais desencadeiam uma reação orgânica e, embora possam alterar transitoriamente a bioquímica do cérebro, nestes casos uma pílula pouco alcança fazer para modificar os estresses emocionais que podem ter dado início à depressão.  Aí é quando a psicoterapia serve de ajuda maior, não se devendo hesitar em buscar ajuda de um profissional (psicólogo, psiquiatra, mesmo padre/pastor, conselheiro ou terapeuta outro) para orientar adequadamente.   

Duas das formas de psicoterapia atualmente mais valorizadas são: a terapia interpessoal e a terapia cognitivo-comportamental.  A primeira tenta ajudar a entender qual a causa da depressão, visando reduzi-la às devidas proporções aos olhos da vítima, a qual, geralmente, tende a supervalorizar a presença do problema.  A segunda identifica comportamentos que a perpetuam e sugere substituí-los por outros comportamentos que a minimizem.  A associação das duas funciona ainda melhor.

Existirá  relação entre a depressão e o envelhecimento?  De fato, os depressivos ficam menos afeitos à prática de exercícios, a seguir uma alimentação saudável e a esforços direcionados a uma vida mais saudável.

Sabe-se bem, hoje em dia, que ela está associada a um ritmo acelerado de envelhecimento arterial e cardiovascular.  Em pesquisa realizada na Duke University (EUA), a incidência de morte por doenças do coração entre homens e mulheres que tinham problemas cardíacos mais depressão foi 69% maior, ao longo dos 19 anos de acompanhamento, do que entre as pessoas que simplesmente tinham doenças cardíacas, sem apresentar depressão.   

Ademais, em outra pesquisa, esta do Alameda County (também EUA), indivíduos deprimidos apresentaram um aumento de 54% na incidência de acidentes vasculares cerebrais (AVCs), tanto de tipo isquêmico quanto de hemorrágico, ao longo dos 29 anos de acompanhamento.  

Outros estudos de menor porte demonstraram que a depressão acentuava os eventos relacionados a envelhecimento arterial, quais perda de memória, enfartes do miocárico, acidentes vasculares cerebrais, impotência sexual.  Além disso, mulheres que sofriam de depressão apresentavam densidade óssea reduzida, provavelmente pelos níveis aumentados do hormônio cortisol, encontrado em alto teor no sangue de indivíduos depressivos.  Além dela causar envelhecimento diretamente, a “moleza” motivada pela sensação de que nada no mundo importa leva a comportamentos que podem acelerar o envelhecimento, pois os depressivos ficam menos propensos à prática de exercícios físicos e a seguir uma alimentação saudável.

A depressão, portanto, já pode ser considerada um fator de redução não só da qualidade de vida quanto da duração da mesma.

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