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Destinos migrados

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Maria Betânia Monteiro – repórter

Ao deixar para trás pessoas, ruas, construções, cheiro, vivências, o que fica na memória de um migrante? Para a surpresa do ator e dramaturgo potiguar, João Júnior, sequer as lembranças ficam. Então, “Que Nordeste é esse que vive em São Paulo?”, quis saber o ator. A pergunta foi o ponto de acesso às dores, delícias, sonhos, cotidiano, realidade, sentimentos, aprisionados nas portarias habitadas por migrantes nordestinos. “Acredito no ser migrante como condição sine qua non do viver”, disse João Júnior em entrevista por telefone ao VIVER.

 Ator potiguar radicado em São Paulo, João Júnior transforma suas vivências no projeto Portar(ia) o silêncio: um experimento não dramático existencial, com o qual foi contemplado com o Prêmio Myriam Muniz de TeatroEm contato com o mundo dos por-teiros e o seu próprio mundo, já que mora na capital paulista desde 2007, João traz para Natal o resultado de seu experimento não dramático existencial: “Portar (ia)silêncio”. Ganhador do Prêmio Myriam Muniz de Teatro 2009, do Ministério da Cultura, o experimento terá a sua estreia em Natal, em duas jornadas. A primeira acontece entre os dias 25 a 27 de outubro no Teatro Municipal de São Gonçalo do Amarante, às 20h, com entrada franca. A segunda, de 28 a 31 e de outubro e 03 a 06 de novembro no Teatro Alberto Maranhão, às 18h, também com entrada franca.

 “Portar (ia) o silêncio: um experimento não dramático existencial” parte do desejo do ator em compreender o movimento migratório, do qual também fez parte. João fez uma incursão na história do país, mas as repostas não se mostraram palpáveis. Então foi além. Pesquisou o homem.  Passou a dialogar com os porteiros de seu prédio. Dos quatro, três eram nordestinos.

Na portaria encontrou a metáfora perfeita. Melhor, encontrou o não lugar onde todos os nordestinos se encontram. “As histórias deles são muito parecidas com a minha, com a de outros em igual situação”, disse João, que defende o exercício da memória como uma questão de sobrevivência.

“Num grande centro urbano como São Paulo, que tem identidades múltiplas, para conseguir existir, você precisa reservar lugares aqui dentro”, disse o ator. E reservar o lugar não é igual a construir uma casa, ou alugar um apartamento. É recriar com base na memória, lugares simbólicos semelhantes aos de origem. “Aqui precisei criar grupos de amigos migrantes, pois doía saber que aquela geografia não me pertencia”, revelou João.

Com o projeto já delineado, o ator destinou-se a recolher o depoimento de 9 porteiros, com uma câmera de filmagem. João queria que os nordestinos pudesse narrar as experiências que ficaram no passado. Queria que eles descrevessem as imagens, revivessem os momentos, relembrassem a infância. Contrariando as expectativas, as respostas foram monossilábicas: “era bom”, “foi legal”.

A delas, as respostas, o trabalho ganhou outro rumo. O desejo de ver construída uma narrativa afetiva do passado daquelas pessoas não se configurou. “Não sei se pela relação de poder estabelecida pelo uso da câmera, ou pelo pensamento fragmentado demais, não consegui extrair nada”, contou. Foi quando caiu a ficha para João: “não sou detentor do discurso, deles”.

Se a verdade era aquela: o pensamento fragmentado, o seu experimento teria que partir deste lugar. Os depoimentos foram divididos em blocos: infância, família, morte, artista. As falas foram colocadas lado a lado, simbolizando um único discurso: o do migrante nordestino.

A partir da metodologia de construção audiovisual: criação do roteiro, captura de imagem, decupagem e edição do material bruto; João construiu o seu texto, deu forma ao espetáculo. “Trata-se de uma dramaturgia polifônica, onde as múltiplas vozes ecoam dentro destas histórias”. Mas o que o publico vai ver não é um documentário em vídeo. É um documentário escrito no corpo do ator.

O trabalho tem supervisão artística e roteiro de Luiz Fernando Marques (Lubi), diretor conceituado e premiado Grupo XIX de Teatro (SP), preparação corporal de Joana Levi (atriz e assistente de direção de Cacá Carvalho na Casa Laboratório para as Artes do Teatro – SP) e Lina Lopes (formada em Cinema na Universidade de São Paulo – USP).

Juntos eles uniram teatro e cinema, numa experiência de sensações e um profundo estudo sobre a existência humana. Após o recolhimento dos depoimentos dos porteiros, mesclados com as inquietações e leituras do próprio ator, o experimento ficou dividido em etapas. A primeira é auditiva e imagética, com a utilização da narrativa. A segunda é composta pelo jogo visual com imagem e corpo, quando entra em cena tudo aquilo que a palavra movimenta no inicio.

O ator adianta que a apresentação é a primeira de uma trilogia. Com “Portar (ia) o silêncio: um experimento não dramático existencial” João desenvolve o tema da migração e nas outras duas serão trabalhadas a morte e o renascimento. Por se tratar de um experimento, o público deverá ser composto por no máximo, 60 pessoas. As apresentações serão realizadas nos salões nobres dos teatros de Natal e São Gonçalo do Amarante. A retirada dos ingressos acontecerá no dia das apresentações, a partir das 14h.

Serviço

1ª jornada, local: Teatro Municipal de São Gonçalo do Amarante.
Dias: 25, 26 e 27/10.
Hora: 20h.
Entrada Franca.
Retirada de ingressos nos dias de apresentação no teatro.

2ª jornada, local: salão nobre do Teatro Alberto Maranhão
Dias: 28 a 31/10
03 a 06/11
Hora: 21h
Entrada Franca.
Retirada de ingressos nos dias de apresentação no teatro.

Obs.: No dia 06 haverá uma sessão extra às 18h.

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