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Devoto da guitarra, Pepeu Gomes está entre os melhores do mundo

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Yuno Silva – Repórter

O baiano Pedro Anibal de Oliveira Gomes faz parte de um grupo seleto. Seu nome figura na lista dos melhores guitarristas do mundo, segundo publicações internacionais especializadas, mas nem adianta procurar por Pedro: ele aparece por lá como Pepeu. Espécie de ‘embaixador oficial’ da guitarra no país, Pepeu Gomes, 61, entrou para a história da música brasileira como integrante da lendária Novos Baianos. Ao lado de Moraes Moreira, Baby Consuelo (com quem foi casado) e Paulinho Boca de Cantor, preencheu o vácuo deixado pelos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados na Inglaterra durante a ditadura Militar, e construiu seu principal legado sonoro.
Pepeu Gomes fala sobre Novos Baianos, direitos autorais em tempo de internet, as restrições quanto as biografias e sua participação no Rock in Rio
Único artista brasileiro a participar das cinco edições do festival Rock in Rio, Pepeu transita pelos caminhos da música instrumental, onde mistura sua forte pegada rock com samba e frevo, porém seu lado pop e romântico é o mais conhecido do grande público – são dele os sucessos “Eu também quero beijar”, “Masculino e Feminino” e os temas de novela “Mil e Uma Noites de Amor” (Roque Santeiro), “A Lua e o Mar” (Tieta) e “Sexy Iemanjá” (Mulheres de Areia).

O músico passou rapidamente por Natal como convidado especial do Prêmio Hangar de Música, que na última terça-feira (8), durante cerimônia no Teatro Riachuelo, anunciou os destaques da música produzida no Rio Grande do Norte, e concedeu a seguinte entrevista a TRIBUNA DO NORTE:

A cena musical brasileira de hoje está mais sem graça se comparada ao tempo dos Novos Baianos?

A palavra não é sem graça, diria que é falta de criatividade mesmo. Quando comecei minha carreira, nós, no Novos Baianos, fazíamos música pensando em eternizar, em deixar para as futuras gerações músicas com acordes, poesia e boas letras. A música brasileira vai muito bem, sempre existiram os altos e baixos, ela nunca foi soberana. Hoje, no terceiro milênio, com a ascensão da abertura do exterior, principalmente da Europa, passamos a ser referência. O (produtor musical britânico) David Byrne até comentou isso. Tem muita coisa boa acontecendo e muita coisa ruim, e nas horas que aparecem as coisas ruins temos que lembrar que existe João Gilberto, Antônio Carlos Jobim, Canhoto, Valdir Azevedo, Jacob do Bandolim. Fazer essa peneira, para que a gente deixe o melhor às futuras gerações, é o que busco dentro do meu trabalho.

E quanto a questão de direitos autorais, internet, download, como é que você, que veio antes disso tudo, está lidando com essa nova realidade?

É tudo moderno demais pra mim, ninguém sabe direito o que vai acontecer; é uma faca de ‘dois legumes’. Ao mesmo tempo que todos os meus discos lançados em CD estão à venda no iTunes, e em qualquer lugar do mundo você comprar Pepeu Gomes; também podem piratear. Estamos todos procurando respostas para essa pergunta ao participar de simpósios, de debates. Ganhamos pelo lado do marketing e da divulgação 0800 (grátis) total, mas ao mesmo tempo ficamos muito expostos. Nossa obra está escancarada. No meu caso, já não tenho mais controle sobre a minha obra.

Você fez o quinto Rock in Rio agora em 2013, como avalia essas participações?

Dos cinco festivais, considero o de 1985 o mais importante, foi ele que projetou minha carreira para o exterior. Passei por 90 países e a partir dali comecei a representar o Brasil com a guitarra brasileira. Tive vários bem interessantes, principalmente com Armandinho, quando fizemos o primeiro show totalmente instrumental dentro do Rock in Rio. Fico muito feliz por ser o único artista a marcar presença em todas as edições.

A Folha de São Paulo vem publicando uma série de matérias desde a semana passada sobre a polêmica das biografias não autorizadas. O Roberto Carlos foi o primeiro a tentar (e conseguir) controlar esse tipo de publicação, e essa questão ganhou reforço com a adesão de nomes de peso como Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan e Gilberto Gil. E você, tem restrições se alguém quiser escrever sobre você?

Tenho restrições sim. Quando o artista já tem uma certa idade tem coisas que não gostaria que fossem citadas em uma biografia. É um direito conquistado com o tempo, pela bagagem que você tem e está deixando para as futuras gerações. Eu já tive muitos convites de gente querendo escrever minha biografia, inclusive supervisionadas por mim, mas não sei ainda se é a hora. Talvez só se for falando do meu lado bom. A galera acha que falar de podridão é uma coisa que vende, e não é. Falar de alegrias, de vitórias, de filhos, de um bom casamento, do processo de composição, o que te inspira a compor… essas coisas acho que dá uma ótima biografia, sem precisar contar o que aconteceu no ‘quintal’. Sem falar que quando se escreve uma biografia parece que você está se aposentando. É como se o cara dissesse ‘estou desacelerando, tô parando’; como se não fosse acontecer mais nada, e não é meu caso.

E quanto a planos?

Sou uma pessoa muito ativa, estou compondo o tempo todo: agora em dezembro vou gravar um novo DVD, tenho um disco instrumental para fazer, um projeto com a Elza Soares, uma releitura dos Novos Baianos com minha linguagem. Enfim, muitos planos e muitos sonhos

O que achou do documentário “Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano”, do diretor Henrique Dantas, lançado em 2009 sobre os Novos Baianos?

Vi o filme, gostei bastante, inclusive fui convidado para representar os Novos Baianos em um festival de cinema na Alemanha. O filme é muito natural, aquilo tudo que se fala aconteceu, é uma verdade viva pois todos estão vivos. Mostra o lado sobrevivente da gente: nós nascemos em plena ditadura Militar e conseguimos vencer, chegamos vivos pós-ditadura. É um filme totalmente atual, não escondemos nada, todo mundo falou o que aconteceu

Ainda joga futebol como visto no filme?

Não, que nada, não consigo correr mais, só consigo andar agora; andar na esteira. Correr que nem um desenfreado daquele jeito não dá mais, mas adoro esporte.

Qual a maior saudade que o Novos Baianos deixou?

Saudade é uma coisa que não existe, está na cabeça da gente, e meu pensamento está sempre na frente. Sou de aquário, então minha cabeça está sempre na frente. Acabei de receber um prêmio aqui no Hangar (Trajetória Musical) e já foi… já estou pensando no dia de amanhã. Mas os Novos Baianos deixaram um legado muito rico e importante dentro do cenário musical. Fomos pós-Tropicalista e tomamos a responsabilidade de segurar aquele estandarte que Caetano e Gil deixaram quando foram expulsos do país. Seguramos a onda por dez anos (1969-1979)!

E o que explica o interesse da nova geração pelo seu trabalho?

Isso é muito bacana, e a guitarra ajuda muito, é o símbolo do rock’n’roll, ritmo que traz renovação ao ser humano, e isso contribui muito para que meu trabalho atravesse gerações. A própria dose dos Novos Baianos que tem dentro do meu trabalho funciona assim: quando canto “Preta, Pretinha” é como tivesse sido feita hoje. Quando os filhos dos meus fãs me descobrem, me mostra que eu não estava tão errado.

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