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Dia de motins

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Ricardo Araújo – repórter

Quarta-feira, 14 de setembro. Duas rebeliões. Dois presídios. Um dia. O resultado: três homens feridos e 58 mulheres mantidas reféns no interior dos Pavilhões 1 e 3 de Alcaçuz. Os motivos dos motins, porém, são distintos. No Presídio Estadual de Parnamirim, a revolta de cerca de 150 apenados da Ala A foi causada pela notícia de que somente as mulheres poderiam entrar para a visita, sem nenhum dos mantimentos costumeiramente levados. No Presídio Estadual de Alcaçuz, a revolta de 101 homens transferidos do Pavilhão 4 para a Ala de Adaptação, culminou com a destruição de portões de ferro, estruturas de concreto e colchões queimados.  A situação nos presídios só foi controlada com a chegada do Grupo de Operações Especiais (GOE). São agentes penitenciários especificamente treinados para atuar em situações de rebelião nas unidades prisionais estaduais.

Após três horas do início do motim, agentes do Grupo de Operações Especiais conseguiram controlar a situação em Alcaçuz. Presos foram reconduzidos para celas do Pavilhão 4 do presídioNo Presídio Estadual de Parnamirim, no Pitimbu, o motim começou por volta das 9h, quando as primeiras mulheres entraram na unidade prisional. Quando os apenados perceberam que elas estavam sem os mantimentos que costumam levar para os companheiros nos dias de visita, eles orquestraram o motim.

 Detentos que estavam no solário, local no qual eles jogam futebol e tomam banho de sol, atiraram pedras contra as câmeras de segurança instaladas para monitorá-los durante os momentos que passam fora das celas. No Pavilhão A da unidade prisional, provocaram a destruição de grades de ferro que os separam das demais dependências do presídio. No refeitório, queimaram colchões, quebraram pias e tubulação hidráulica. Durante a confusão, feriram um dos presos na testa.

 “Como represália, os detentos derramaram no chão toda a comida que oferecemos para o almoço”, afirmou o diretor do Presídio Estadual de Parnamirim (PEP), Robson Gomes. A alimentação dos apenados do PEP é produzida numa cozinha industrial dentro da própria unidade carcerária. Chateados pela decisão do Sindicato dos Agentes Penitenciários em não permitir a entrada de comida nas unidades prisionais estaduais, eles iniciaram a rebelião. A direção do Sindicato recuou e permitiu que os mantimentos entrassem no presídio, diante do dano causado em pouco menos de três horas de motim.

 “O que eles fizeram em tão pouco tempo, retrata o que passamos em todas as rebeliões que ocorrem no sistema prisional do estado”, disse o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Alexandre Medeiros. Mesmo após a liberação da entrada dos alimentos, a rebelião não chegou ao fim. Foi preciso que o GOE interviesse no presídio para controlar a situação. Três horas depois do início, os apenados estavam de volta às celas e um ferido recebia atendimento médico. Numa revista posterior ao motim, os agentes encontraram somente no Pavilhão 1 do PEP, 11 facas artesanais e 5 aparelhos celular.

 No Presídio Estadual de Alcaçuz, a rebelião começou depois que todas as visitas estavam dentro da unidade, por volta das 14h15min. Revoltados com a medida disciplinar imposta pela direção após a descoberta de um túnel no final de semana passado, os apenados do Pavilhão 4 que ocupavam as celas da Ala de Adaptação, iniciaram o quebra-quebra. Em pouco menos de uma hora, todas as 14 celas da Ala estavam abertas, os presos amotinados e Valmir Soares dos Santos, recém-chegado na unidade, como refém.

 Foi preciso que o GOE, assim como no PEP, entrasse em ação para contornar a situação. Os presos se negavam a negociar diretamente com o diretor do presídio, major Marcos Lisboa. Meia hora depois do início da intervenção do Grupo, a rebelião estava controlada. Divididos em grupos, os detentos retornaram para as celas que poderiam recebê-los no Pavilhão 4. Alguns deles, entretanto, permaneceram detidos em algumas celas da Ala de Adaptação cujas grades de ferro não foram destruídas.

 Em paralelo, os apenados que ocupam os Pavilhões 1 e 3, decidiram manter as companheiras como reféns. Cerca de 58 mulheres não saíram da unidade prisional após o dia da visita íntima. “Nós não temos condições de fornecer comida para os presos e as acompanhantes”, disse major Lisboa. Ele acredita que as mulheres comecem a ser liberadas ainda na manhã de hoje, devido ao cansaço e fome. Os detentos do Pavilhão 1 estenderam uma bandeira na parede do complexo com a inscrição P.C.C. (Primeiro Comando da Capital), como forma de intimidar os agentes no início da noite de ontem.

O início

Colocados na Ala de Adaptação do Presídio Estadual de Alcaçuz desde o sábado passado, os 101 homens retirados do Pavilhão 4 após a descoberta de um túnel para fuga em massa, iniciaram o dia batendo nas chapas de ferro que isolam as celas da Ala. Inconformados com a medida disciplinar, iniciaram atos de vandalismo dentro das celas. Tudo em conjunto, orquestrado por gritos de líderes de cada cela. Às 14h15min, a primeira porta (chapa de ferro) cai. Em sucessão, as demais celas são abertas e um homem é feito refém.

O motim

 Entre gritos, palavras de ordem e insultos aos agentes  e ao diretor do presídio, o major Marcos Lisboa, os presidiários pediam a remoção do grupo para o Pavilhão 4, ao qual pertenciam. Para pressionar o Sindicato dos Agentes Penitenciários a ceder ao pedido, os amotinados pegaram um preso que também estava em uma das celas da Ala de Adaptação como refém. Valmir Soares dos Santos, 28 anos, foi espancado e amarrado. Durante quase três horas, seu coração permaneceu na mira de uma faca artesanal. O Pavilhão 1 e 3 iniciavam um motim.

A negociação

 Um grupo de agentes penitenciários que regularmente trabalha na unidade prisional, tentava acalmar os ânimos dos rebelados, além de convencê-los a acabar com o motim. Os pedidos, porém, foram em vão. Os presos eram representados por um dos colegas de motim que, em voz alta, pedia que a imprensa permanecesse no pátio da Ala de Adaptação para que acompanhassem a negociação e dizia o que queriam: voltar para o Pavilhão 4. Detentos do Pavilhão 1 ateiam fogoa colchões e atiram pedras nos agentes.

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 Com quase todas as celas destruídas e com apenas um portão de ferro separando os amotinados das demais áreas do presídio, o Grupo de Operações Especiais foi acionado. Cerca de 20 agentes penitenciários especialistas em intervenção em rebeliões, chegaram em Alcaçuz com o objetivo de acabar com a motim. Utilizando bombas de efeito moral e spray de pimenta, eles entraram na ala rebelada e controlaram os presos. Sem estrutura para mantê-los na Ala destruída, aos poucos, os presos retornaram às celas do Pavilhão 4.

O resultado

 Dois feridos e 58 mulheres feitas reféns. Os presidiários dos Pavilhões 1 e 3 não permitiram que suas companheiras não saíssem da unidade prisional no horário determinado pela direção. Os detentos Valmir Soares dos Santos, 28 anos, e José Rodrigo da Silva, 29 anos, foram feridos pelos demais presos amotinados. Ambos foram atendidos por uma equipe do Corpo de Bombeiros que foi acionada pela direção do presídio e depois encaminhados ao Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim. Nenhuma morte foi confirmada até as 21h de ontem.

O início

Eram 9h30min quando os cerca de 150 detentos do Pavilhão 1 do Presídio Estadual de Parnamirim, iniciaram o motim. Quebrando grades, estruturas de concreto e atirando pedras contra as câmeras de seguranças espalhadas pelo solário, local no qual tomam o banho de sol, eles reivindicavam a entrada da alimentação levada pelas famílias. A visita tinha começado há menos de uma hora e dezenas de mulheres aguardavam a oportunidade de entrar na unidade prisional. Ontem era o dia da visita íntima.

O motim

 Jogando pedras contra os agentes penitenciários, os presidiários gritavam palavras de ordem e reivindicavam a liberação da entrada dos alimentos. Com a negativa do Sindicato dos Agentes Penitenciários em ceder ao pedido, a situação se complicou. Os apenados derrubaram grades de ferro do próprio pavilhão, atearam fogo aos colchões e lençóis, destruíram paredes. Além disso, quebraram toda a estrutura hidráulica que fornece água à área do refeitório e solário.

A liberação

Em menos de trinta minutos de rebelião, parte da estrutura do Pavilhão 1 estava destruída. Temendo pela vida dos agentes penitenciários, o diretor do Sindicato liberou a entrada das esposas com os mantimentos (água mineral, refrigerante e comida) para os presos. Do lado de fora do presídio. O diretor, Robson Gomes, era pressionado para agilizar a entrada das mulheres. Elas também gritavam palavras de ordem e ameaçavam apedrejar os policiais militares que faziam a segurança da área.

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 Mesmo com a liberação da entrada dos alimentos, os apenados não se acalmaram. Foi preciso que sete agentes penitenciários que integram o Grupo de Operações Especiais (GOE), interviessem no presídio. Minutos depois da chegada do GOE, a situação estava sob controle. Os presos foram recolocados nas celas e a visita, encerrada antes do horário previsto.

O resultado

 Com o controle da rebelião nas mãos dos agentes, o diretor do Presídio Estadual de Parnamirim determinou que uma revista surpresa fosse feita nas celas do Pavilhão 1, que se rebelou por cerca de três horas. Foram encontradas 11 facas artesanais e cinco aparelhos celular. A maioria dos telefones móveis estava camuflada, envoltos em sacolas plásticas. Além disso, um dos apenados saiu ferido durante uma briga que ocorreu no pátio dos rebelados. Ele foi atendido por enfermeiros no próprio presídio.

Governo deve negociar hoje com agentes penitenciários

 O titular da Secretária Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc), Thiago Cortez, não respondeu às tentativas de contato telefônico da TRIBUNA DO NORTE. Entretanto, informações repassadas pela vice-presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários, Vilma Batista, afirmou que o Governo do Estado havia se proposto a dar uma posição às reivindicações da categoria até o final da tarde de ontem, o que não ocorreu.

 Hoje, os representantes do Sindicato terão uma reunião com o secretário e com o procurador-geral do Estado, Miguel Josino. “Nós vamos apresentar o que já apresentamos desde o ano passado. Nós queremos melhores condições de trabalho, além de um reajuste salarial”, destacou Vilma Batista. Caso o Executivo Estadual não sinalize positivamente aos pedidos dos agentes, a greve será deflagrada na próxima sexta-feira.

 A paralisação, mesmo sem ter sido iniciada, já preocupa do diretor do maior presídio do Estado, o de Alcaçuz. “Caso não haja uma negociação entre o Sindicato e o Estado, eu acredito que enfrentarei animosidades durante o final de semana”, afirmou major Lisboa.

 O diretor do Sindicato, Alexandre Medeiros, destacou que os apenados se rebelaram não só porque a comida não entrou nas unidades prisionais. “Os detentos querem que a comida entre, porque junto com ela entram drogas, armas brancas. Nossa máquina de raio-x está quebrada há mais de um ano. Somente a checagem humana das bolsas e mantimentos, não é capaz de identificar tudo que entra”, ressaltou.

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