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Diamante reaviva suspeita antiga

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Judith Hartl e Clarissa Neher
Deutsche Welle

Berlim – Um diamante encontrado no Brasil ajudou a comprovar uma teoria antiga de cientistas: nas profundezas da Terra, corre um oceano. Pesquisadores já presumiam a presença desse recurso no interior do planeta, mas somente agora foi possível provar sua existência a uma profundidade de até 600 quilômetros abaixo da superfície. Cientistas da Universidade de Alberta, no Canadá, autores do estudo publicado na última edição da revista Nature, acreditam que essa zona de transição entre o manto superior e o inferior do planeta armazene a mesma quantidade de água de todos os oceanos juntos. “As suspeitas já existiam há muito tempo. Agora temos a confirmação”, afirma o geólogo Hans Keppler, da Universidade de Bayreuth em entrevista à DW.
Descoberta de falso diamante põe Brasil no centro da pesquisa
Essa confirmação veio por acaso, com o diamante de apenas três milímetros encontrado em 2008 na cidade de Juína, no Mato Grosso. A peça marrom possuía algumas infiltrações verdes e, por isso, não tinha um valor comercial para a indústria joalheira. Dessa maneira, foi repassada a pesquisadores.

O diamante continha ringwoodite, um mineral com alta concentração de água. Era a primeira vez que esse material era encontrado na superfície da Terra. Até então, o mineral havia sido localizado apenas em meteoritos, ou criado em laboratório por pesquisadores.

A análise desse mineral revelou que ele possuía cerca de 1,5% de moléculas de água, provando que ele se originou em uma região bem úmida. O ringwoodite surge somente quando há uma pressão extrema, como a existente nessa região do manto terrestre.

Assim que essa pressão é liberada – quando ele é lançado para a superfície devido a uma erupção vulcânica, por exemplo –, ele se torna um mineral discreto e banal. “Então, não seria notado”, conta Keppler. Contudo, uma eventualidade fez com que o pedaço desse mineral permanecesse preso em um duro diamante.

Os pesquisadores acreditam que o ringwoodite foi lançado do manto para a superfície em uma rápida e extrema erupção vulcânica, há cerca de 100 milhões de anos, fazendo com ele permanecesse nesse estado.

Líquido nas profundezas da Terra jamais será explorado

Para o geólogo  Hans Keppler, a localização acidental do diamante foi um tiro certeiro, uma “pequena sensação”, comprovando a existência de água dentro da Terra. “Há 20 anos, nós conseguimos comprovar no laboratório que o ringwoodite pode absorver uma grande quantidade de água”, conta o geólogo. Por esse motivo, pesquisadores esperaram que uma grande quantidade do recurso corra nessa zona de transição entre os mantos.

Mas o pesquisador não acredita na utilização dessa água. “Esse líquido nunca será explorado. A escavação mais profunda, alcançada com as técnicas modernas, chega a uma profundidade de dez quilômetros”, avalia.

Inicialmente, a reserva de água nas profundezas da Terra não tem nenhum significado econômico. Esse reservatório profundo estaria em constante troca com os oceanos, assegura Keppler, e acrescenta que esse processo acontece “em longos períodos geológicos.” Ou seja podem durar muitos milhões de anos.

Em 2011, pesquisadores brasileiros da Universidade de Brasília descobriram a presença de carbono no manto inferior da Terra, a uma profundidade de 660 quilômetros. O estudo foi publicado na época na revista Science.

O carbono, geralmente encontrado somente na superfície terrestre, foi achado também no interior de diamantes, originários do manto interior, recolhidos no município de Juína.

O estudo comprovou, então, a presença de uma composição similar à crosta oceânica no manto inferior terrestre. Imagens anteriores produzidas a partir de tomografias já haviam alertado para a hipótese da crosta oceânica penetrar em direção a essa região. A análise da composição de diamantes profundos pode ajudar a desvendar alguns mistérios sobre a composição da Terra. E o Brasil está no centro dessa pesquisa.

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