Engenheira pela UFRN e Doutora em Engenharia de Produção, pela Universidade Politécnica de Madrid, Ana Célia Cavalcanti, foi professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte de 1978 até 2009, onde também exerceu cargos administrativos. Tem diversos trabalhos publicados no Brasil e no exterior em sua área de pesquisa. Autora do livro “Pés no caminho, campo de estrelas”, diz que viajar é seu hobby preferido.
Seu livro não tem nada daquela coisa mística, parece que você quer mesmo é dar dicas de viagens, né?
Não, na verdade já existem muitos livros de dicas, tipo guias, etc. Eu quis contar a minha viagem, a qual teve mais um espírito aventureiro, buscando conhecer vilarejos, cidades antigas e fazer um caminho milenar a pé apreciando a natureza, em especial. De certa forma, buscando, em parte, aprofundar meu lado religioso. Mas, principalmente, conto o dia-a-dia da viagem, os momentos de diversão e de apreciação da natureza, falo das pessoas que encontrei, um pouco do que aproveitei da gastronomia local, etc… De toda forma, dou algumas dicas também, ao final, com base em minha experiência!
Você tem escritores na família. Vai enveredar também por este caminho?
Tenho dois irmãos que escrevem, Carito e Mário Ivo. Eu sempre gostei de escrever, mas nunca escrevi nada para publicar. Escrevia pra mim mesma, às vezes para a minha família e alguns amigos… Tenho um blog (faz mais ou menos um ano) e pretendo continuar a escrever nele. www.ananomundo-ananomundo.blogspot.com (Principalmente sobre viagens, que sempre foi meu hobby nº 1).
Como foi a experiência de ser viajante e ao mesmo tempo escritora?
Durante a viagem, eu apenas curti a viagem. Não pensava em escrever um livro. Mas fazia anotações diárias, e, ao voltar transcrevi as anotações no Word. Daí percebi que poderia ser um livro… Aperfeiçoei o que escrevi e… Taí o livro. Na verdade, eu sempre pensava em escrever um livro, mas não sabia sobre o quê. Queria escrever algo verdadeiro, nada de ficção, tampouco nada técnico, nada a ver com minha profissão… Algo sobre a vida… Viagens… Enfim, porque adoro viajar… Até que depois do caminho, vi que esse seria o assunto que eu tanto buscava antes…
Tem muita gente que sonha fazer essa viagem que você fez? Como é que se faz para realizar tal sonho?
Ah, vejo gente falando sobre isso, mas daí a transformar em realidade… Conheço poucos que o fizeram (a pé ou de bike!). Na verdade fui incentivada por uma amiga brasileira que morava em Madrid. Ela tinha feito apenas um trecho do Caminho. Vi as fotos e me encantei. Vi também que era possível fazer só um trecho, sem precisar passar um mês inteiro caminhando… Não é difícil, basta querer e planejar. Eu passei uns meses planejando, estudando, lendo, pesquisando… Além disso, treinar, porque caminhar a pé por vários dias precisa de treinamento.
Qual o conselho que você daria às pessoas, ser turista aprendiz ou ser escritor aprendiz?
Acho que cada um tem seu sonho e faz sua própria viagem. Se quer fazer o caminho pelo lado religioso, como uma peregrinação de fato, acho legal. Mas, se quer apenas ser um turista no caminho, aproveitar os hotéis bons, as casas rurais, a comida local, também acho super válido. Se quer viajar pensando em escrever, falar de sua experiência, compartilhando com outros, também é ótimo. E se alguém que fazer tudo isso junto, melhor ainda!
Viajar torna as pessoas mais felizes ou mais sábias?
Bom, eu não abro mão disso. Acho que as pessoas que viajam são sempre mais abertas, têm sempre mais o que conversar e são mais interessantes. Na verdade, essas pessoas aprendem muito nas viagens, mas (ou pelo menos coisas diferentes) que em bancos de escolas. E, sinceramente, cada vez que viajo volto mais renovada, mais feliz e menos estressada! E, claro, mais sábia!
As pessoas deveriam conhecer primeiro o Brasil antes de conhecer o exterior?
Bom, eu conheci primeiro o Brasil “pelas mãos” de meus pais. Eles foram os primeiros “incentivadores” das minhas viagens. Desde pequena que eu viajava pelo Brasil com eles. Conheci quase todo o Brasil e algumas cidades da América do Sul junto com eles! Realmente me parece lógico que se conheça primeiro o próprio país, mas não tenho nada contra quem preferir o contrário. Eu também tive muitas oportunidades de viagens no Brasil e no exterior por ser professora-pesquisadora da UFRN. Com trabalhos científicos para apresentar em congressos, pude conhecer muitos lugares, além de ter feito meu mestrado e doutorado fora (o primeiro em Florianópolis e o segundo em Madrid). Fora isso, continuei viajando nas minhas férias e agora sempre que posso!!! Tudo isso fez (e faz) de mim uma pessoa melhor, tenho certeza!
Livros de viagens ensinam mais que divertem?
Acho que as duas coisas. Como eu gosto de viajar, sou fã de livros de viagens. Sempre que vou viajar (especialmente a trabalho, que vou só) compro um livro pra ir lendo no avião. Escolho, na maioria das vezes, um livro que tenha a ver com viagens! Termino aproveitando o que li, em viagens de fato.
Qual o melhor lugar do mundo?
“O melhor lugar do mundo é aqui e agora”, como diz Gilberto Gil. Mas, na verdade tenho minhas preferências. Adoro Madrid, suas ruas, sua noite, as pessoas… A Espanha toda, enfim… Mas também gosto muito de qualquer cidade pequena da Europa. São vivas e têm suas lembranças antigas ao mesmo tempo. Amo também New York. Adoro passar uns dias por lá… Do Brasil, adoro o Rio! De todo jeito, aprendi uma coisa, o melhor lugar é quando você está acompanhado de quem você gosta. Ponto.
O que você não faria de novo?
Sei não… Não tenho nada do que me arrepender das minhas viagens. Acho que não faria de novo aqueles passeios com guia, acho horrível. Fiz algumas vezes por falta de opção, mas nada melhor do que desbravar sozinho (acompanhado, de quem você gosta, de amigos…) os lugares… É emocionante, mais privativo, mais inteligente… Sobre o caminho de Santiago, faria quase tudo igual, quase tudo. Dou algumas dicas no livro, hehehe!
