Yuno Silva
Repórter
Bem que o livro “DoSol 10 Anos de Música” poderia vir com um aviso de que ‘qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência’. Sem qualquer pretensão literária, Anderson Foca, produtor e músico, faz um recorte da primeira década – entre 2001 e 2011 – de atividades do combo DoSol e relata de forma pessoal seu envolvimento com cena roquenrou natalense desde o final do século passado. Seu diário de memórias, compiladas a partir de recortes de jornais, fotos, vídeos e lembranças que não se perderam no tempo, chega às mãos dos leitores/ouvintes nesta quinta-feira, às 19h, no El Rock (antigo Hells Pub) em Candelária. Com 176 páginas, formato revista e miolo em preto e branco, o título sai sob a tutela da Editora Jovens Escribas.
#saibamais#Foca conta sua versão dos fatos em um resumo geral da história que tem como ponto de partida a criação do Selo DoSol em 2001. De lá para cá, a marca se desdobrou em estúdio, festival e espaço para shows. O lançamento abre a programação do projeto Pensando Música, que promove palestras, debates e shows até sábado (19).
“Uma hora essa documentação seria publicada, com ou sem a editora. Passei três anos envolvido na organização do conteúdo e fiquei satisfeito com o resultado”, disse o autor, confessando que a intenção era mesmo conferir características de diário ao título. “Esse livro material é muito mais documental do que uma peça literária, por isso a opção por uma narrativa modular”, acrescentou Foca, lembrando que antes de sentar para escrever lançou alguns convites: “Quando os candidatos viam o tanto de material para pesquisa se assustavam. Terminou eu mesmo tendo que fazê-lo”.
Dividido em capítulos que se complementam, mas funcionam de maneira independente, o livro revela detalhes de bastidores como a empreitada para gravar o único disco (até agora) da banda General Junkie; toca em assuntos delicados como a morte do empresário Paulo Ubarana, capitão do saudoso Blackout na Ribeira; comenta os tempos do Officina e de como foi incômodo carregar o rótulo de banda líder do movimento cover da cidade; o racha com a cena alternativa após perrengues no show da carioca Jason ainda no final dos 1990; a rusga que existiu com a turma do Brigite Beréu; entre outros detalhes que certamente despertarão o interesse de quem testemunhou o período.
Foca garante que não precisou exorcizar fantasmas nem utilizar filtros. “É a nossa (do DoSol e seu entorno) história apenas. As boas, as ruins, as correrias. Não destaquei polêmicas. É um documento das coisas mais importantes que fizemos e o que que é realmente importante (para nós) que consegui lembrar/pesquisar. O assunto mais delicado, que detestei lembrar, foi da morte de Paulo Ubarana – fiquei muito mal de escrevi sobre isso, passei quase um mês sem pegar no livro. Muito triste”.
Méritos
O que pode ser visto como desnecessário, também é um dos maiores méritos do livro: o mérito de documentar uma época. Independente do tom personalista, o diário de Anderson Foca ‘gasta’ páginas e mais páginas para falar de bandas que já se dissolveram no intuito de contextualizar toda sua trajetória de Anderson, da companheira Ana Morena e do combo DoSol. Nesse grupo estão bandas como Jane Fonda, Peixe Coco, Allface, Base Livre, Experiência Ápyus, Arquivo, Calibre, Fliperama, Calistoga, Memória-ROM e o próprio General Junkie.
Mas “DoSol 10 Anos de Música” também traz informações sobre bandas ativas que giram na órbita do festival/selo/estúdio: Talma&Gadelha, Monster Coyote, The Sinks e Camarones Orquestra Guitarrística. Já os dois maiores capítulos do livro são os que falam da criação do Centro Cultural e o surgimento do Festival. “O livro também é uma forma de vermos o quanto evoluímos e o quanto ainda podemos evoluir. Olhando para trás não faria nada diferente”, finaliza Anderson Foca.
Quem
Anderson Foca é músico e produtor do combo DoSol (selo/estúdio/festival/bar)
O que
Lançamento do livro “DoSol 10 Anos de Música” (Jovens Escribas, 176 páginas, R$ 40), nesta quinta-feira (19h) no El Rock em Candelária – antigo Hells Pub
