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Dias longos…

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Vicente Serejo
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LUA

Alguns dias são assim, principalmente se vividos sob os frios ditames da burocracia, o inferno criado pelos homens. Dias longos e alongados pelo desprazer da luta contra fantasmas invisíveis e medonhos. Muito diferente do Dia Longo, o livro de poemas de Ribeiro Couto. E que tenho aqui. Belo, encadernado em couro pleno, como se fosse um valioso e velho Adoremus. Desses que se deixam viver, intactos, na reclusão conventual de um criado mudo.

Encontrei num velho e austero alfarrábio de Recife, numa manhã de sol verânico, mas ainda lavado de chuva, ali na Praça Maciel Pinheiro. Couto – Rui Esteves Ribeiro de Almeida Couto, seu nome todo – foi promotor em Pouso Alto, Minas. Depois, na diplomacia, esteve na Suíça, França e Portugal. Acabou na Iugoslávia, embaixador e ministro plenipotenciário. Anticomunista e culto ficou amigo do Marechal Tito, poderoso e eterno chefe dos iugoslavos.
Páro aqui, Senhor Redator, nesse acento diferencial que não existe mais, só para poder justificar esse singular que, a rigor, se inspira no belo livro de Couto. Aliás, e se fosse para acrescentar algum detalhe, a tradução francesa feriu a beleza do ‘Dia Longo’ ao adotar “Un jour est long”. A solução pluraliza na tradução da edição Pierre Seghers, Paris, 1958, 14 anos depois da edição Portugália, Lisboa, 1944, com exclusivo desenho de capa de Cícero Dias.

Esses dias andam longos, devo reconhecer, pela escassez de novidades que realmente sejam novas. O pleonasmo ganha o perdão diante das vozes sempre iguais que repetem as promessas monótonas de um futuro que não chega nunca. De dias melhores que, se sabe, não virão, a não ser quando surfam nos slogans que não mais persuadem caídos nas pobres trevas da mesmice de um povo hoje sem líderes e cercado de chefes e chefetes por todos os lados.

Talvez coubesse como numa parábola a dúvida que um dia assaltou Machado de Assis quando, perplexo diante da festa do Natal, indaga a si mesmo: “Mudou o Natal ou mudei eu?”. Aqui a Natal é uma cidade e viver no seu chão não é uma festa. Virou a cidade do medo que se arrasta entre assombrações. Muito diferente da Natal de ontem que tinha poucos donos, principalmente não era prisioneira de tantos especialistas, o bom lugar de se viver sem heróis.

Hoje, Senhor Redator, ninguém mais ouve a canção votiva dos velhos sinos da sua catedral tocando as trindades do anoitecer chamando a noite que nascia das águas do Potengi, subia os becos suspeitos da Ribeira e chegava à Praça André de Albuquerque. Natal que, se tanto, e na compreensiva inquietude dos jovens rebeldes, lá nos anos sessenta, foi a Londres Nordestina. O Rio Grande era cinema e não uma igreja. E o Poço do Dentão era um perigo.

CIDADES – Convenhamos, e com respeito: o Brasil e o RN incharam municípios na base do fermento populista sem critério de sustentação econômica para a saúde, educação e segurança.

PIOR – Houve, desde a concepção, um afrouxamento de princípios e regras que levaram a um surto de novos municípios. Enquanto outros já nasceram presos ao poder de chefes políticos.

EFEITO – Nossos deputados prestam homenagem ao ex-deputado Rogério Marinho, mas as poucas conquistas não vieram de suas mãos, mas da Câmara e do Senado. É um triste destino.

ARG! – Que a Prefeitura de Natal lute na justiça pela demolição do Reis Magos, é legítimo. Não há o que contestar. Cercá-lo pelo risco de desabamento é pantomina que beira o ridículo.

ORA – Se for por isso, cabe a pergunta: quantos cercos a Prefeitura precisa fazer em torno dos casarões em ruínas, abandonados nas ruas da Ribeira Velha de Guerra? Uma despesa enorme.

PRATO – Hoje, em Nazaré, boca da noite, 18h30, lançamento do Festival Gastronômico no Beco da Lama, como parte dos festejos pelos 90 anos da visita de Mário de Andrade a Natal.

GOL! – Certeira a emenda do deputado Nélter Queiroz estendendo o reajuste de 16,38% aos servidores estaduais. Reduzir aos 4% é ser conivente com as castas e seus vários privilégios.

TIRO – A decisão – se não for para todos – deixa a governadora Fátima Bezerra na saia justa. Se a crise impede, negue-se para todos. Só que algumas castas já recebem há tempos os 16%.

RÉQUIM – A Arquidiocese de Natal concluiu dissolução do Centro de Treinamento de Natal, em Ponta Negra, não apenas uma área física, mas um símbolo das lutas da Igreja em favor do seu rebanho, tendo à sua frente, durante anos, a figura proeminente do cardeal Eugenio Sales.

LUTA – Foi no Centro de Treinamento, instituição com mais de sessenta anos, que nasceram as idéias que gerariam do Movimento de Natal, não só histórico do ponto de vista local, mas também nacional. Nenhum conselho se reúne sequer para tomar conhecimento. Uma lástima.

CRISE – É grave a crise de gestão da Arquidiocese. Já fecharam: a Faculdade de Teologia Heitor de Araujo Sales, Instituto de Teologia Pastoral e o Centro de Treinamento de Ponta Negra. Além da alienação de dois grandes terrenos. Cristo, na sua misericórdia, nos perdoará?

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