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Djalma, Ney e Agenor

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Valério Mesquita*
Escritor

A figura humana de Djalma Marinho é inesquecível. Não apenas pelo brilho da Inteligência, da cultura jurídica ou da sabedoria política, mas pela verve repentina no exercício da vida pública. Numa reunião política em Natal, fez-se uma roda de amigos para papos difusos e infusos. O então prefeito da capital Jorge Ivan Cascudo Rodrigues, sempre observador de detalhes, de vestuários e de pessoas, viu que o cigarro do fumante inveterado deputado federal Djalma Marinho deixara cinzas na sua gravata. Com extrema cortezia, advertiu: “Doutor Djalma as cinzas do seu cigarro caíram em sua gravata”. “Meu filho, este é o único fogo que me resta…”.

02) Quem não se lembra dos tumultuados tempos da inflação galopante e da desvalorização diária da nossa moeda? Eleito senador da república em 1974,  Agenor Nunes de Maria ao receber o primeiro salário de congressista, não sabia o que fazer com tanto dinheiro. Perguntou em Brasília a um amigo como que deveria proceder. “Senador, aplique esse dinheiro no overnight. É o que todo o mundo está fazendo.” “O que diabo é isso?”, quis saber Agenor. Ao ouvir a explicação de que era um procedimento para que da noite ao dia seguinte o valor do dinheiro não sofresse desvalorização maior, o senador e ex-feirante de São Vicente do Seridó, foi taxativo: “Só conheço duas coisas que trabalham à noite: cabaré e casa de jogo”.

03) Ney Aranha Marinho foi uma das figuras mais queridas de Natal. Exerceu a advocacia, passou pela Assembleia Legislativa, ocupou o cargo de procurador do DER e na vida social, ser amigo e solidário foi inexcedível. Daí ter sido assediado permanentemente por gregos e troianos. Certa vez, num círculo de amigos, não conteve um desabafo: “Quando entrei num banco ou em qualquer ambiente público e percebo que estão correndo atrás de mim, eu me sento…”. O pior é que tal coisa já havia se tornado uma mania de perseguição.

04) Djalma Marinho disputou a presidência da Câmara Federal, ao tempo do governo militar, contra o deputado gaucho Nelson Marquezan, candidato da situação. Foi difícil. “Dejinha” (como em Natal seus amigos o tratavam), não conseguiu vencer o gigantismo e o tráfico de influência oficial do seu oponente. Todavia, reuniu em torno do seu nome o apoio das maiores Inteligências da Casa, ameaçando o favoritismo de Marquezan. Ao sair do plenário, no “túnel do tempo” que separa a Câmara do Senado, após proclamado o resultado, o vencedor o cumprimenta com ar de triunfo: “Djalma não poderei presidir esta Casa sem o seu valioso concurso”. Humilde como era do seu feitio, ele respondeu: “Bobagem Nelson, você tem os generais”. 

05) Antes do embate pela presidência da Câmara Federal, Djalma parecia ser o mais cotado aos olhos da imprensa nacional. Vez em quando, era entrevistado por jornalista que também o admiravam desde o episódio famoso da cassação do deputado Márcio Moreira Alves. Não tendo mais nada a inquirir, uma jovem repórter foi levada pela cusiosidade: “Deputado, o senhor está usando meias brancas com sapatos sociais pretos?”. Suspendendo um pouco as calças, com ar de leve sorriso, ponderou: “Minha filha, não presidirei a Câmara com os pés…”.

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