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Dor do cotidiano

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Isaac Ribeiro
Repórter

Difícil não haver um dia sem que algum tipo de dor se manifeste em nós. E isso só aumenta com o avançar da idade. As engrenagens do corpo começam a dar sinais de desgaste e passam a ficar mais doloridas no executar de determinadas ações cotidianas.

Manifestações de dor atingem as pessoas das mais diferentes formas. Há quem aguente firme o rojão e quem seja sensível a qualquer pegada mais forte.
Pesquisa aponta quais tipos de dores incomodam mais o brasileiro e quais as mais causam afastamento do trabalho
Uma pesquisa online, inédita, realizada pelo Ibope e Instituto Conecta, encomendada pelo analgésico Advil,  traçou um panorama sobre a dor entre os brasileiros e como ela atrapalha o nosso dia a dia. Foram ouvidas 1.007 pessoas, homens e mulheres, a partir dos 18 anos, das classes ABCDE, de todo o país e com acesso à internet.

O impacto da dor na vida de algumas pessoas é tão grande que três em cada cinco cidadãos dizem deixar de realizar duas de três atividades diárias devido a ela.

As dores mais comuns entre os brasileiros são a de cabeça e enxaqueca (65%), dor nas costas (41%) e dor muscular (40%), apontadas como as mais frequentes nos últimos três meses. Mas a grande vilã é mesmo a dor de cabeça, tida como a que mais atrapalha o dia a dia de 20% de todos os entrevistados.

Dores no trabalho

Para 63% dos entrevistados, o trabalho é a principal atividade afetada, à frente do sono (32%), atividades domésticas (30%) e nem mesmo o lazer ficou de fora (29%).

Mas apesar das complicações que a dor causa no trabalho de muita gente, não é isso que vai fazer as pessoas se tornarem menos responsáveis. Apenas 6% dos consultados na pesquisa deixaram de cumprir suas responsabilidades.
Pesquisa aponta que, depois da dor de cabeça, dor nas costas é que mais atrapalha os brasileiros
Mas mesmo não fugindo da realidade diária, a execução das tarefas é afetada. “Sentimos dor devido a algum desbalanço entre estímulos dolorosos vindos do meio externo e ou interno do organismo e também pela capacidade do corpo em lidar com eles. Quando a dor persiste por mais tempo ou não é adequadamente controlada, há impactos em áreas do cérebro que podem comprometer o humor, o bem-estar, a capacidade de raciocínio, a concentração e até a qualidade de execução das atividades do dia a dia. É como se o trabalho estivesse sendo desempenhado, mas sem ser o foco principal, comprometido pela dor”, explicou Lin Tchia, fisiatra do Centro de Dor do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Ela considerou os resultados da pesquisa muito interessantes por ilustrar “exatamente” o pensamento no momento de dor. “Como precisamos de disposição para realizar todas as atividades, o alívio rápido da dor será sempre o maior desejo de todos.”

Dor é sinal de que algo está errado

Seja doença, inflamação ou resposta de defesa a alguma ação contundente, a dor sempre representa um alerta. Pior seria sem ela, pois dificilmente conseguiríamos defender ou proteger nosso organismo.

Independente do tipo, dor não é algo para ser guardado. O alerta é da reumatologista Maria de Fátima Fernandes Dantas, comentando serem cada dia mais constantes as queixas de dor em seu  consultório. 

Segundo ela, só para se ter uma ideia, existem mais de 130 tipos diferentes de doenças descritas como dores reumáticas. “Dor não é doença. Ela é um elemento auxiliar que chama a atenção para um problema. Ruim são as doenças silenciosas”, comenta Maria de Fátima.

Lombalgia, fibromialgia e artrite reumatóide são as campeãs de reclamações entre os seus pacientes. De acordo com a reumatologista, a primeira citada é a principal causa de faltas ao trabalho nos dias de hoje. E sua causa pode ser articular,  muscular, motivada por processos posturais, por hérnia de disco, por exercício físico mal executado ou ainda por artrose na coluna lombar.

A reumatologista suspeita estar havendo uma onda de excesso de diagnósticos relacionados à fibromialgia. Segundo ela, apesar de ser bastante comentada de uns tempos pra cá, a doença não é tão frequente como supõe a quantidade de novos casos identificados.

Fechar um diagnóstico preciso de fibromialgia não é tarefa tão fácil, já que não pode ser detectada por exames laboratoriais e radiológicos. “É preciso conhecer o perfil do paciente em, pelo menos, três consultas, para que se possa analisar melhor o caso. Deve-se fazer também um exame físico e conhecer o histórico da pessoa; além de apalpar pontos dolorosos. Também depende do perfil psicossomático do paciente, pois existem pessoas muito tensas e ansiosas.”

Maria de Fátima Fernandes Dantas faz questão de ressaltar a importância de não guardar dúvidas com relação ao aparecimento de algum tipo de dor. “Seja qual for o tipo, dor não pode ser rechaçada. Não pode guardar! Notando algo estranho, deve-se levar o paciente ao médico o mais rápido possível para que seja feita uma investigação do que está acontecendo, a causa daquela dor”, indica.

Alívio imediato é objetivo na hora da dor

A pesquisa “A dor no cotidiano” também relacionou resultados no tocante ao que as pessoas mais desejam no momento da dor. Resultado: alívio rápido para que possam voltar às atividades cotidianas — sendo que 92% esperam que passe rápido, 86% pensam no que pode ser feito para melhorar o mais rápido possível e 78% imaginam algum recurso para o alívio imediato.

E entre os recursos disponíveis para melhorar um quadro de dor estão os analgésicos e a acupuntura. As queixas sobre esse mal correspondem a mais de 70% dos pacientes que procuram consulta em sua clínica.

Ele comenta ser a acupuntura uma boa alternativa para tratar a dor, juntamente com medicamentos específicos. A milenas técnica das agulhas libera endorfinas, proporcionando uma sensação de bem estar.

De acordo com Levi Jales, acupunturista e presidente  da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor no Rio Grande do Norte (Sbed/RN), a dor mais frequente entre os paciente é a dor de cabeça — como bem aponta a pesquisa do Ibope Conecta —, seguida pelas lombalgias (dores nas costas), além das tendinites em ombros e articulações em geral.

Para Jales, as dores nas articulações podem estar ligadas ao estresse e à depressão, problemas bastante comuns nesses tempos atuais. Nesses casos, os antidepressivos acabam colaborando, principalmente em casos crônicos.

Ele, porém, lamenta o alto índice de automedicação, admitindo ser um comportamento bastante frequente. “A gente se preocupa, pois quando o paciente se automedica, encobre sintomas e acaba dificultando o diagnóstico para o médico.”

A fisiatra do Centro de Dor do Hospital das Clínicas de São Paulo, Lin Tchia, todas essas dores apontadas na pesquisa têm relação com a chamada vida moderna. “Hoje em dia a vida é muito corrida, o estilo de vida contemporâneo provoca, entre outros fatores, o aumento de estressores físicos e emocionais, as multitarefas, o sedentarismo e a alimentação fast food. Este aspectos estão totalmente conectados às queixas das pessoas com dor”, avalia a fisiatra.

Levi Jales comenta haver hoje no Brasil uma média de 20 mil acupunturistas, considerado por ele um número baixo, levando-se em consideração haver na Alemanha mais de 20 mil. “Todo profissional e acadêmico de saúde deve estudar a dor, porque é um dever nosso aliviar a dor de quem nos procura.”

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