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Dos amores e das paixões

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Laurence Bittencourt – Jornalista

O amor como as paixões sempre foram temas que perpassaram a história do homem em suas mais variadas fases. O tema sempre marcou o interesse do humano. Sendo assim, é possível ouvirmos eco desse interesse nas religiões, na filosofia, na sociologia, na psiquiatria, na psicologia e também na psicanálise.

Nas religiões de natureza judaico-cristã vemos os aportes sobre o amor através de termos como amor-ágape, amor da concupiscência, amor ao próximo, amor a Deus. Na filosofia, e ai já estamos em um terreno mais promissor e fértil tivemos grandes momentos na tentativa de se falar e buscar entender o amor e as paixões.

Rene Descartes, por exemplo, o pai da filosofia moderna, em um livrinho muito interessante chamado “As paixões da alma” tentou decifrar as paixões vendo nelas o lado irracional do homem em contraposição ao intelecto. No entanto fez um comentário extremamente pertinente e interessante ao dizer, “a experiência faz ver que aqueles que são os mais agitados por suas paixões não são aqueles que as conhecem melhor”.

O filósofo Blaise Pascal foi outro que viu nas paixões o “transbordamento da razão”, ou seja, as paixões derivavam da razão, mas a ultrapassava. No entanto, em minha opinião, o melhor exemplar ainda sobre o amor e paixão continua sendo o livro “O Banquete” de Platão, que em torno de uma comemoração pela vitória de Agatão em um dos festivais de teatro que os gregos antigos promoviam, um grupo de filósofos e literatos da época, todos na casa de Agatão, resolvem cada um a sua maneira falar e expor seu ponto de vista sobre Eros, sobre o amor.

É neste livro que vamos ter a famosa teoria do “Mito do andrógino”, exposto, segundo Platão, por Aristófanes, o grande teatrólogo da comedia na antiguidade. Nesse mito, de acordo com Aristófanes, o ser humano na origem do mundo era de três tipos: o homem, a mulher e um terceiro que era homem e mulher juntos, portanto andrógino. Ou seja, no andrógino havia sempre os corpos em dobro, dois rostos, duas cabeças, quatro braços, quatro pernas, etc.

Esse ser se achando forte resolve desafiar os deuses. Como represália, Zeus então decide cortar ao meio o ser andrógino, separando as duas metades, e como castigo ainda maior uma parte agora vê a outra separada de si.

Essa visão de uma parte afastada da outra, causa então em cada parte uma angústia incontida e o que se passa é que a partir desse momento cada uma delas quer recuperar a sua outra metade, a cara metade (a ideia de cara metade vem desse mito). Quer voltar, portanto, do “dois” a que passou, para apenas Um. Voltar a ser um só corpo. Isso sob pena de morrer pela ausência.

Mas ai é que reside a moral dos deuses, quando cada parte se junta novamente à outra, não consegue mais se separar o que também leva a morte. Os amantes, as grandes paixões parecem viver esse dilema, de quererem se fechar “no dois”, como se não houvesse mais vida, nem outros interesses. Bom, de qualquer forma Platão não nos deixa tão desamparados com o Mito do Andrógino, logo após a fala de Aristófanes entra em cena o bom velhinho Sócrates discorrendo sobre o amor e através de Diotima de Mantinea irá fazer uma critica ao mito. Mas isso é outra historia que fica para outra vez.

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