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Dos Cárpatos às Pinturas

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Woden Madruga [ [email protected] ]

Depois de um silêncio de várias semanas, eis que me chega carta do doutor Paulo de Balá Bezerra, agora dando conta de uma novidade que nunca antes havia acontecido por aquelas bandas do Acari. Um tal de “extreme duro”, coisa – confesso a minha ignorância – só vim saber agora o que é, lendo a missiva do ilustre sertanejo. O personagem principal dessa história é um inglês, campeão de pilotar motocicletas pelo mundo inteiro, de nome Graham Jarvis, vencedor de não sei quantos “reides” em vários continentes, entre eles o “Red Bull Ramaniacs”, subindo e descendo as veredas estreitas e abissais das montanhas dos Cárpatos, a Romênia aqui, e lá, do outro lado, ao pé daquelas serras de quase 3 mil metros de altura, a Ucrânia que o Putim quer invadir. Pois bem, o mister Jarvis passou alguns dias no Seridó, hospedado na Fazenda Pinturas, subindo e descendo as serras ao seu redor, montado em sua moto possante e famosa no mundo inteiro, como canta o doutor Paulo Bezerra:

“Meu velho e letrado amigo:

Vou lhe falar do sucedido que nunca acontecera cá em nós nem nunca fora nem sequer sonhado roncando ladeira acima ladeira abaixo, assombrando passarinho, lagartixa e mocó, numa zoadeira dos diabos, subindo e descendo a Serra dos Bois, a Serra Preta e Serrinha, por riba de pau e pedra, em trilhas perigosas no que chamavam de motocicleta nos outros  tempos, mas que agora suprimindo “cicleta” virou moto. Pois tudo aconteceu por causa de um cidadão com nome estrangeiro – Graham Jarvis, 39 anos – um inglês considerado o maior piloto de “extreme enduro” do mundo. Do mundo, ouviu? Basta dizer que o supracitado cidadão dos onze pegas-pra-capar lá em Sibiu, na Romênia, num tal de Red Bull Ramaniacs, disputou sete e ganhou quatro (2008, 2011, 2012 e 2013) e em dois ficou em segundo. Então, arrastaram o homem para o Brasil para dar curso de pilotagem em Caxias do Sul nos dias 2 e 3 de agosto; em Belo Horizonte a 5 e 6; e em Brasília a 9 e 10, para amantes do esporte, a eles transmitindo fundamentos, técnicas e dicas de pilotagem.

Foi então que alguns aficionados juntaram esforços para trazê-lo aqui (e por que não?) e ministrar o tal curso nos dias 12 e 13, em terras das Pinturas: 1) Cassiano Bezerra e os filhos 2) Felipe e 3) Paulo. 4) George Cirne. 5) Antônio Gomes Barbosa Jr. 6) Ipiranga Jr. 7) Teófilo de Souza Jr e seu filho 8) Rafael. 9) Cidmar Mineiro e 10) Alexandre Negreiros. Gente daqui, de Minas, do Ceará e de São Paulo.

Tudo combinado, dia 11, segunda-feira, para jantar e dormir, aqui estavam todos, inclusive Graham Jarvis e seu empresário, o mineiro Sebastião Lago Jr., aniversariante do dia 13. A noite chegou quieta, sem calor, a cruviana soprando no terraço descoberto da casa grande. E no dia seguinte, 12, após o café sertanejo, o primeiro encontro no pátio da fazenda para demonstração de fundamentos básicos. Um após o outro foram mostrados na teoria e na prática, ele próprio montando uma moto que Cidmar trouxe de Fortaleza. Em tudo admirou a simplicidade do homem, como os saltos sucessivos sobre dez mourões deitados no chão, com espaço entre eles, apoiado apenas na roda traseira e, mais tarde, a subida em pedra alta, a que ele batizou de “Jarvis Rock, só acessível a bode.

A cada instante causava admiração a sua desenvoltura. Dali então o pilotar em trilhas, algumas com passagem difícil para os de cá, mas sem nenhum temor para ele. Tudo era divertimento. No dia seguinte, 13, em novas trilhas, caminhou sereno sobre larga parede de cimento e pedra de um tanque para segurar águas caídas sobre o lajedo e a descida pela gigante de proteção à parede, muito inclinado, a moto apenas apoiada na roda dianteira. Um aluno temeroso exclamou: “Dessa vez agora o cabra vai ao  chão”. Qual nada! À noite, após o jantar com palmas e berros efusivos, a cada participante foi entregue o certificado de aprovação no “Curso de Graham Jarvis – enduro extreme”, e uma camisa do evento, tudo devidamente gravado e fotografado.

O novo amigo simples e educado esteve confortavelmente inserido no ambiente, à vontade o seu traje das grandes batalhas, aberto às conversas quando solicitado pelos irmãos Filipe e Paulo e por Sebastião, todos eles fluentes no inglês. Meticuloso na hora de dormir, de levantar, de caminhar, tomando muita água, aquela nossa água caída do céu, suco de frutas, queijo do sertão, leite, coalhada… Gostou, mas muito mesmo, quando lhe serviram umbuzada. Pena que não tivesse a fruta para conhecê-la pessoalmente, lamentou. À mesa, sentou-se sempre no mesmo lugar em tamborete forrado de couro sendo o primeiro a sentar e o  último a sair, um bom garfo, tudo comendo e achando bom. Olhava admirado para a arquitetura da casa – o telhado, o piso, os retratos e os objetos de uma época, e a arataca, e o pote d’água, e tudo mais. Nada escapando à sua curiosidade.

Na manhã da sua saída, cumprimentou a todos e a cada um com um aperto de mão e um abraço no instante mesmo em que Carlúcio, um moto taxista de Acary, ia chegando devidamente equipado. Abraçou-o, montou em sua moto e, lá fora no estranja,  em seu twitter, publicou a fotografia do mesmo com uma frase em tom de troça que traduzida diz: “Meu instrutor amigo”. Depois, autografou as tais camisas. E se foi em busca da República Dominicana. Deixara, no entanto, uma mensagem escrita:

“Foi uma incrível experiência e agradeço pela maravilhosa hospitalidade. Espero que todos tenham aprendido alguma coisa e que eu os tenha inspirado a alcançar seus limites. Vocês podem encontrar alguma dificuldade no caminho, mas eu gostaria de vê-los conquistar a “Pedra de Jarvis”, brevemente”.

Fazenda Pinturas, 11, 12, 13 e 14 de agosto de 2014

Paulo de Balá Bezerra”

Ano-Novo
Na gaveta dos papéis desarrumados, encontro um cartão de Ano-Novo de Joanilo de Paula Rego. Advogado, jornalista, professor, poeta em disponibilidade, figura maior da Confraria do Grande Ponto. Estava findando 1984:

“Woden e família:

Que o Ano Novo (85) seja de um forte inverno, de amor, graças, bênçãos, felicidade, saúde e prosperidade, e que rios e açudes se encham, e rebanhos cresçam, e tudo seja um seio de Abraão (?). Melhor de Sara ou Sulamita para nossa glória terrena e temporal.

Um abração de Joanilo e família”

Poesia
“Não conheço a primavera/ nem dialogo com a flor/ interessa-me o longo caule/ as folhas verdes/ o movimento secreto das raízes // Rondo a estação das palavras/ os poetas bêbados nas sarjetas” (do poema Estação das Palavras, de Diva Cunha, em seu livro Resina).

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