Andrielle mendes – repórter
A dragagem do Porto de Natal deve ser concluída ainda em abril. O novo prazo foi anunciado ontem pelo presidente da Companhia Docas do Rio Grande do Norte, Emerson Fernandes, durante audiência pública na Assembleia Legislativa. Segundo ele, faltam apenas 3%. Emerson negou que a obra esteja atrasada e afirmou que o prazo sempre foi maio. “Nós é que tentamos antecipar a conclusão”, esclareceu. Com a dragagem, a profundidade do ‘calado’ (área onde os navios atracam) sobe de 10 para 12,5 metros, e a largura da bacia (onde os navios realizam as manobras) passa de 250 para 300 metros. Dragar o rio e ampliar a largura da bacia, segundo Emerson Fernandes, é o primeiro passo para viabilizar o sistema de cabotagem, sistema de transporte que baixa os custos dos produtores e deixa o produto mais competitivo. Com a dragagem, navios maiores poderão entrar no Porto de Natal.
Para Francisco de Paula Segundo, presidente do Comitê Executivo de Fitossanidade do RN (Coex), aumentar a profundidade do ‘calado’ e largura da bacia não basta. “Precisamos investir no Porto de Natal, que é o temos, mas precisamos também construir um novo porto fora da capital”. A localização do porto, considerada estratégica pela proximidade com a Europa, nem sempre é vantajosa. Carretas trafegam com dificuldade pelo centro da capital, principalmente as que transportam peças de turbinas eólicas. A situação ficaria ainda mais caótica se todos os fruticultores potiguares exportassem através do Porto de Natal.
Durante o pico da safra, fruticultores exportam cerca de mil containers por semana. Deste total, o Porto de Natal só pode receber 360, devido ao número reduzido de tomadas. Se conseguisse atender toda a demanda, cerca de 500 carretas entrariam e sairiam do porto de Natal todos os dias, congestionando o trânsito. Para Emerson Fernandes, o Porto de Natal, apesar das deficiências, ainda é a melhor alternativa logística para importações e exportações no RN.
Segundo o deputado estadual Hermano Morais, que propôs a audiência para debater a atividade portuária e a situação da logística no estado, o RN acumula enormes prejuízos devido a falta de infraestrutura e logística, começando pelas deficiências do porto. “Outros estados puderam avançar nos últimos anos e hoje apresentam resultados maiores que os nossos. Devemos recuperar o tempo perdido e aproveitar todo nosso potencial”, afirmou. A bancada federal potiguar também participou da audiência. O deputado Federal Henrique Alves, líder do PMDB na Câmara Federal, falou sobre as oportunidades geradas com a construção do aeroporto de São Gonçalo, cujo edital deverá sair também neste mês.
Porto vai ocupar as duas margens do Potengi
Nos próximos anos, o Porto de Natal crescerá, ganhará um terminal marítimo de passageiros e se transformará em um complexo portuário, ocupando as duas margens do Potengi. As obras, algumas realizadas com recursos do PAC, incluirão o estabelecimento de conexões entre centros de produção, ferrovia e aeroporto de São Gonçalo.
A Codern já planeja uma segunda dragagem no rio Potengi, ampliando a profundidade para 17 metros, e a largura da bacia para 500 metros, atendendo as exigências do mercado. Para atender os produtores, a Codern recuperou o pátio do porto e agora pode receber containers com até 5 metros de altura. Antes, só podia receber com até 2 metros de altura. Também ampliou o canal de acesso, que passou de 100 para 120 metros e ainda pode subir para 140 metros, segundo Emerson Fernandes, presidente da Companhia.
“Na hora que concluirmos o complexo, vamos atender todas as necessidades do estado e aí diremos ‘agora temos um porto’”. Ele descartou a possibilidade de construir um novo porto fora da capital – proposta feita por produtores e políticos. “Não há outra alternativa de localização. Não temos no RN um local com profundidade adequada junto ao litoral. A única opção é o Porto de Natal”.
Fruticultores potiguares buscam outros portos
Fruticultores potiguares têm exportado parte da produção por portos localizados em estados vizinhos, como o de Pecém, no Ceará, e o de Suape, na Bahia. A razão é simples. Apesar das reformas, o Porto de Natal ainda não é tão competitivo. Só atende um terço da demanda gerada pela fruticultura local, segundo o presidente do Comitê Executivo de Fitossanidade do RN, Francisco de Paula Segundo. Mauro Antônio Gurjão, dono da CMR Brasil, é um deles. Produtor de melão, com plantações em Jandaíra, exporta 7,5 milhões de toneladas por ano. Deste total, 60% saem pelo Porto de Pecém, Ceará. O restante, através do Porto de Natal.
Mauro queria exportar tudo pelo RN, mas afirma que as condições do porto potiguar não permitem. Devido a baixa profundidade do ‘calado’, que será ampliada com a conclusão da dragagem, navios maiores não conseguem atracar no porto potiguar e desviam da rota. Seguem até Pecém ou Suape para onde produtores potiguares enviam a mercadoria. “Converso com armadores (empresas que transportam os containers) e eles dizem que tem interesse em atuar em Natal, mas não conseguem por falta de condições do porto”.
Mandar parte da produção para o Ceará tem um preço. Para transportar a produção de Jandaíra para Natal, Mauro gasta, em média, US$ 400 dólares. Para mandar para Pecém, gasta o dobro. Por ano, chega a gastar US$ 288 mil – considerando que gasta US$ 800 para transportar cada um dos 360 containers que exporta por ano. “Com esse dinheiro eu poderia aumentar a área de produção, melhorar embalagem, tratar bem a fruta. Estou arcando com esse prejuízo e isso tem pesado muito no desempenho financeiro da minha empresa”, afirma.
A CRM Brasil, empresa de Mauro, gera 200 empregos diretos. Poderia gerar mais, não fossem as dificuldades encontradas no estado. Segundo ele, outro problema é o descumprimento da Lei Kandir no RN, lei federal que obriga os estados a devolverem os impostos gastos com exportação aos produtores. No Ceará, é norma. No RN, um favor. A solicitação, em alguns casos, vai parar na Justiça. “Esse é outro ponto que nos leva a Pecém. Lá, eles devolvem os impostos gastos com exportação”, afirma Mauro, que tem sido procurado por representantes do governo cearense. Eles lhe oferecem lotes, financiamento e estrutura. Em troca, pedem para que Mauro comece a produzir melão do outro lado da divisa RN/CE.
Para Segundo, do Coex, quando potiguares deixam de exportar pelo porto potiguar, é preciso investigar o porquê. Atualmente, vários navios têm desviado o Porto de Natal, indo desembarcar as cargas no Porto de Pecém, Ceará, devido as deficiências do estado. Esta mudança de rota gera um prejuízo de, no mínimo, US$ 150 mil por viagem para cada navio. “Atualmente, o aviões cargueiros saem dos Estados Unidos, sobrevoam o RN, e desembarcam em São Paulo. De lá, a carga volta para o RN em caminhões, por que o estado não tem condição de recebê-las”, complementa Gurjão.