Jennifer Kay
Associated Press
Miami (AE) – O ponto em que o oceano turbulento se encontra com a fúria dos ventos de um furacão pode ser a chave para melhorar as previsões sobre a intensidade desse fenômeno meteorológico, mas é quase impossível para os cientistas conseguir visualizá-lo.
Isso, porém, pode mudar em breve nos EUA, graças ao financiamento liberado pelo governo após a supertempestade Sandy para aeronaves não tripuladas (drones) com capacidade de passar horas voando em espiral nos pontos escuros de uma tormenta, transmitindo dados que podem ajudar os meteorologistas a compreender o que faz com que algumas tempestades desapareçam e que outras se transformem em verdadeiros monstros.
Dispor dessas informações, enquanto as tormentas ainda estão longe da costa, pode levar coordenadores de esforços de emergência a planejar a retirada de habitantes de um determinado local com mais facilidade ou avaliar melhor os riscos relacionados a tormentas.
Um furacão é como um motor, cujo combustível é a água quente do oceano. A questão, segundo os meios científicos, é descobrir como essa água transfere a energia de tempestades tropicais.
“Nós realmente precisamos ter uma noção melhor do que acontece antes de conseguirmos melhorar nossos prognósticos de intensidade”, comentou Joe Cione, cientista que estuda a interação das tormentas com os oceanos na Divisão de Investigação de Furacões da Administração Nacional dos Oceanos e Atmosfera dos EUA (NOAA, na sigla em inglês), com sede em Miami
Aviões usados para caçar furacões normalmente não voam abaixo de 5 mil pés (1,5 quilômetro) e não podem descer para menos de 1,5 mil pés, enquanto radares em tempo real não oferecem informações sobre a termodinâmica que ocorre dentro do núcleo nebuloso de uma tormenta.
Atualmente, as aeronaves lançam cilindros repletos de sensores eletrônicos que transmitem dados sobre pressão, temperatura, ventos e umidade de uma tormenta à medida que caem em direção ao mar, mas que conseguem permanecer suspensos por apenas poucos minutos.
O tipo de drone que Cione planeja arremessar a partir de aviões caça-furacões pode passar horas descendo lentamente, aproveitando as próprias correntes de ar que giram em uma tormenta, inclusive com a possibilidade de orbitar o vórtice de um furacão.
O drone, chamado Coyote, pesa três quilos, tem forma de um míssil delgado e asas retráteis, e poderá recolher uma grande quantidade de dados das partes inferiores de um furacão, com informações muito mais detalhadas do que as dos cilindros, explicou Cione. O aparelho tem um propulsor e é controlado pelos pilotos das aeronaves caça-furacões, mas são projetados para flutuar em correntes de ar, mas não contra ventos fortes. Além disso, os drones são descartáveis – assim que atingem a água, não podem ser recuperados.
Especialistas em previsão de furacões melhoraram sua capacidade de apontar os locais que as tormentas atingirão e o chamado “cone de incerteza”, que mostra a provável trajetória de uma tempestade, vai diminuir de novo este ano. Não houve avanço significativo, porém, nas projeções para a intensidade de tempestades.
Vários fatores podem alterar a intensidade de uma tormenta, como a água fria do fundo do oceano que se mistura à água quente da superfície, ventos cruzados, a reconstrução cíclica da parede de ventos que formam o olho de um furação ou mudanças na energia que as tempestades sugam do oceano. Essa última variável é o que Cione chama de “região sem dados” e é justamente o que os drones irão mirar.
“Existe um motivo de não haver furacões em solo – eles precisam de água, precisam da evaporação e da condensação, que é a fonte de sua energia. Então, como isso acontece?”, comentou Cione. “Se não conseguirmos amostragens confiáveis e precisas dessa região o tempo todo, poderemos errar o cálculo da energia gerada pelo oceano em 30% ou até 50%.”
Cione planeja testar cinco ou seis drones no auge da temporada de furacões e, possivelmente no ano que vem, checar como eles transmitem dados em tempo real. O projeto, de US$ 1,25 milhão, está entre outras pesquisas sobre furacões da NOAA financiados pela legislação suplementar que autorizou a liberação de US$ 60 bilhões para agências de ajuda humanitária após a ocorrência da supertempestade Sandy.