quarta-feira, 24 de abril, 2024
29.1 C
Natal
quarta-feira, 24 de abril, 2024

Dupla de estrelas da bola pesada

- Publicidade -

Tiago Menezes
repórter

Você conhece Ricardo Câmara Sobral? E Emerson Júnior de Lima? É, pelos nomes de batismo fica complicado saber quem são. Mas esses “desconhecidos” na verdade são dois dos maiores craques que o futsal potiguar já produziu: Cacau e Dentinho. Depois de rodarem o mundo, conquistando títulos e admiradores, a dupla passa férias no Rio Grande do Norte, e aproveita para curtir o aconchego da família e as maravilhas da nossa terra.

Na agenda dos atletas não poderia faltar uma visita à redação da TRIBUNA DO NORTE. A nossa reportagem teve o privilégio de conversar com eles, e, a partir de agora, o amigo leitor também terá a chance de conhecer um pouco mais de Cacau e Dentinho, ou simplesmente Ricardo e Emerson.
Cacau nasceu em Ceará-Mirim e, depois de brilhar no Rio Grande do Norte, ganhou o mundo
Aos 16 dias de setembro de 1971, em Ceará-Mirim, na região metropolitana de Natal, nascia o garoto Ricardo Câmara Sobral. O pai, seu Gilberto Sobral, caminhoneiro, transportava gado, e durante as longas e cansativas viagens sob o Sol escaldante do Nordeste brasileiro, remediava as inevitáveis rachaduras nos lábios com manteiga de cacau. Um certo dia, ao abrir a geladeira de casa, o pequeno Ricardo deu de cara com uma barra daquele produto. Pensando ser chocolate, o moleque não fez cerimônia; traçou tudo. Você já deve estar imaginando a confusão que aconteceu quando seu Gilberto procurou o cacau e não encontrou. Pois é. “Você comeu o cacau, menino? Você comeu?”, perguntava o pai. Inocente, Ricardo respondia: “Chocolate, pai; eu pensei que era chocolate”. Nesse mesmo dia Ricardo virou Cacau, para o bem do nosso futsal. Convenhamos, ele não teria o mesmo sucesso sendo chamado de Ricardo Câmara, ou mesmo Ricardo Sobral. Defendo a ideia de que jogador tem de ter nome fácil. Pelé não seria Pelé se fosse Edison Nascimento, não é mesmo? Ricardos existem aos montes por aí. Mas Cacau só existe um. Só Cacau é Cacau.

Doze anos depois de Cacau, em Ielmo Marinho, cidadezinha do agreste potiguar, ali pertinho de Ceará-Mirim, veio ao mundo Emerson Júnior de Lima, no dia 15 de julho de 1983. Confesso que nesse caso cheguei a pensar que o entrevistado encararia como gozação a pergunta sobre a origem do seu apelido. E foi exatamente o que aconteceu. Enquanto ele ria da minha “piada”, Cacau fez questão de explicar a alcunha do amigo: “Olhe o tamanho do dente do bichinho”. Sobre esse assunto os dois ainda deram boas risadas, lembrando da última temporada (2010-2011), onde jogaram juntos no Era-Pack, da República Tcheca. “A primeira pergunta que o tradutor me fez foi sobre o meu apelido, e respondi que era porque minhas orelhas são grandes”, brincou Dentinho.

Para Cacau tudo começou aos 12 anos, na escolinha do Serrinha, em Ceará-Mirim. “Eu era muito novo na época do Serrinha, mas tive a oportunidade de aprender bastante. A gente jogava com ABC e América lá em Ceará-Mirim e não perdia nunca”, falou. Aos 15 anos o garoto já atuava pela AABB de Natal. “Eu também tentei jogar futebol de campo, e até cheguei a ser campeão juvenil pelo América, em 1988. Daí eu passei a treinar com a equipe júnior, e já estava prestes a assinar com o time profissional, mas desisti, porque o futebol de campo do América pagava muito pouco, e o futebol de salão se mostrou mais rentável para mim” acrescentou.
Dentinho iniciou a carreira ainda na escola e ficou conhecido por seus lances de habilidade
Dentinho iniciou a carreira no colégio, ganhando bolsas em escolas privadas. “Em 2000 eu fui campeão e Atleta Ouro do Jern’s, jogando pelo Expansivo. Foi aí que recebi o convite para jogar no São Gonçalo, meu primeiro clube profissional de futsal”, disse. “Meu pai queria que eu fosse jogador de campo, por achar que eu ganharia mais. Mas, ao contrário do que a maioria pensa, é muito mais vantagem jogar num clube grande de futsal que num de campo com pouca expressão”, comentou Dentinho.

O atleta jogou no Wimpro-SP, Barueri-SP, Palmeiras-SP, América-RN, AABB-RN, Farroupilha-RS, UCS-RS, Kairat Almaty (Cazaquistão), ABC-RN e Era-Pack (República Tcheca). O veterano Cacau tem um currículo mais extenso, e atuou pelo Bandern-RN, Votorantim-PE, Perdigão-RS, Super G Dênia (Espanha), Bizontes De Castelleon (Espanha), Ulbra-RS, Tio Sam-RJ, Vasco da Gama-RJ, Playas de Castelleon (Espanha), Cartagenna (Espanha), Muebles Calloto (Espanha), Spartak Moscou (Rússia), Foz do Iguaçu-PR, Fluminense-RJ, Atlético-MG, Malwee Jaraguá-SC, Confiança-SE, Kairat Almaty (Cazaquistão) e Era-Pack (República Tcheca), além de passagens pela seleção brasileira entre 1998 e 1999. No Atlético/MG, Falcão foi reserva de Cacau.

Craques jogam na República Tcheca

Atualmente, Dentinho e Cacau são parceiros no Era-Pack, da República Tcheca. Dentinho é o camisa dez do time, e Cacau, além de jogador, é técnico e manager, uma espécie de gerente do clube. “O presidente do Era-Pack diz que eu sou o Alex Ferguson deles”, brincou, referindo-se ao treinador escocês que comanda o Manchester United (ING) há 25 anos. Além de técnico e manager do Era-Pack, Cacau é manager do Kairat Almaty (Cazaquistão) e o segundo treinador da seleção tcheca de futsal.

O cearamirinense revelou ter sofrido bastante nos primeiros anos vivendo na Europa, onde chegou ainda adolescente e sem o domínio de um idioma estrangeiro sequer. “Quando a gente vai para fora, acha que tudo vai ser uma maravilha. Mas assim que cheguei na Espanha, com 18 anos, eu sofri muito. Meu maior problema foi ter de fazer comida. Eu não sabia de nada, e tive que me virar. Mas é assim que a gente aprender a viver, e hoje eu cozinho para os brasileiros do time”, declarou. “Cozinha muito bem, diga-se de passagem”, interveio Dentinho. O baiano Max, o cearense Sidney e o potiguar Douglas, este último natural de Guamaré, são os outros brasucas no elenco do Era-Pack.

Na temporada 2010-2011, encerrada recentemente, o Era-Pack disputou cinco títulos, sagrando-se campeão em quatro oportunidades. Na última delas, a Liga Tcheca de Futsal, Dentinho conquistou a artilharia, com 37 gols, e foi eleito o melhor jogador da competição, que teve a partida final transmitida ao vivo para todo o país. Os outros troféus foram erguidos na Copa da República Tcheca, no Torneio Internacional da Eslováquia e na Rhumell Cup.

Na opinião de Cacau, Dentinho já está merecendo uma vaga na seleção brasileira. “Dentinho joga comigo há bastante tempo, e eu sei que ele tem potencial para vestir a amarelinha. Não estou falando como amigo, mas na condição de treinador de um atleta incrível”, disse. “O problema é que nem sempre os melhores são chamados. E como a convocação não depende de mim, só nos resta esperar”, lamentou.

Quando começar a próxima temporada, Cacau e Dentinho podem se separar. O primeiro permanecerá no Era-Pack, mas o destino do segundo ainda é incerto. O contrato de Dentinho com os tchecos já se encerrou, e ele tem propostas do Azerbaijão, Benfica (Portugal) e do ex-clube, o Kairat Almaty (Cazaquistão), além do próprio Era-Pack, que tem prioridade na renovação de contrato.

Em determinado momento do bate-papo com os craques, a dupla queixou-se do tratamento que recebe dos conterrâneos. “Na Espanha, no Cazaquistão, na República Tcheca, onde quer que a gente vá, nós levamos o nome das nossas cidades e do Rio Grande do Norte. Somos conhecidos lá fora como ‘Dentinho de Ielmo Marinho’ e ‘Cacau de Ceará-Mirim’, mas quando voltamos para a nossa terra percebemos que praticamente ninguém sabe que a gente existe”, disse Cacau. “Na República Tcheca as pessoas nos param na rua e agradecem o orgulho que lhes damos. Em contrapartida, na minha cidade tem gente que faz questão de me colocar pra baixo, dizer que eu sou mau jogador e coisas do tipo. Não tenho mágoa do povo daqui, mas sinto falta de um tratamento melhor”, afirmou Dentinho.

Tanto o menino dos dentes grandes quanto o garoto que comia manteiga de cacau pensando ser chocolate tornaram-se grandes estrelas do futsal mundial.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas