terça-feira, 7 de maio, 2024
28.1 C
Natal
terça-feira, 7 de maio, 2024

“É preciso pensar globalmente, para agir localmente”

- Publicidade -

Uma das formas de se avaliar a qualidade de uma universidade é observar a quantidade de pesquisas desenvolvidas na instituição. E nesse quesito a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) deu um salto quantitativo e qualitativo nos últimos anos. Preste a deixar o cargo, o reitor Ivonildo Rêgo tem muito o que comemorar. Nesta entrevista ele comenta o avanço dos últimos anos e como a universidade vem acompanhando as tendências mundiais em inovação, internacionalizando sua produção científica e se transformando em uma referência na região.  O progresso da UFRN e outros aspectos ligados ao investimento em Ciência e Tecnologia no Estado serão debatidos na próxima edição do projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte, uma realização da TRIBUNA DO NORTE, UFRN, Fiern, Fecomércio/RN, RG Salamanca Investimentos e Governo do Estado, com patrocínio da Petrobras, Assembleia Legislativa e Cosern. O seminário está em seu quarto ano de realização e esta 9ª edição será realizada no próximo dia 11 de abril, no auditório da reitoria da UFRN, a partir das 8h.

Preste a deixar o cargo, o reitor Ivonildo Rêgo tem muito o que comemorar. Ele comenta o avanço dos últimos anos e como a universidade vem acompanhando as tendências mundiais em inovaçãoQuais são  as possibilidades de financiamento em pesquisa científica hoje?

O financiamento da pesquisa no Brasil ainda tem patamares muito baixos quando comparado com países que historicamente já investem em ciência e tecnologia. Não conseguimos chegar a um patamar de 1,5% do PIB de investimentos enquanto a maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento aplica entre 2% e 3%. Mas mesmo assim houve uma melhoria substancial durante o governo passado e especialmente no que diz respeito ao setor público. A expansão das universidades e o investimento em ensino criou um sistema de produção científica do país. O que se reclama é que o percentual de investimento do setor privado ainda é muito baixo.

Como o senhor vê a questão da internacionalização da pesquisa na UFRN?

A questão da globalização é recente, tem 15 ou 20 anos, mas a ciência sempre foi globalizada. Para se produzir ciência em qualquer parte do mundo, é preciso estar inserido na comunidade internacional. É preciso receber pesquisadores de outros países e mandar pesquisadores daqui para outros países. Não só para participar de congresso. Então nesse contexto, a internacionalização é algo fundamental. As pessoas acham que é possível fazer ciência olhando apenas localmente. Mas é preciso pensar globalmente, para agir localmente. Quanto mais internacional estiver a instituição, mais qualidade há na pesquisa e se consegue responder melhor aos desafios. E é nessa perspectiva que estamos trabalhando.

E como está esse processo de internacionalização hoje?

Hoje, a UFRN já tem mais de 80 cursos de mestrado e doutorado. Quando eu assumi a primeira vez em 1995, eram apenas 15, com dois doutorados apenas. Hoje há 30 doutorados e 53 mestrados. Havia 370 alunos e hoje com 3,6 mil somente em mestrado e doutorado. Estou citando esses dados porque o mestrado e o doutorado são os ambientes naturais para se fazer pesquisa. Você forma as pessoas enquanto elas produzem conhecimento. Então, com uma estrutura dessa nós temos que nos internacionalizar. Nós pensamos em alguns projetos estratégicos para acelerar esse processo. O Instituto Internacional de Física é um desses instrumentos importantes. Tem no comitê científico um prêmio Nobel, que inclusive vai fazer a aula inaugural desse semestre, o físico David Gross. Não era comum circular um prêmio Nobel na UFRN, então já se vê um resultado. O Instituto Internacional de Neurociências, do qual nós somos um parceiro importante, é outro exemplo. Lá existe o Instituto do Cérebro, também um elemento importante, financiado pela Finep. Temos também um Instituto de Língua Estrangeira, chamado Ágora, onde tanto as pessoas de outros países podem aprender português como nossos alunos e professores podem estudar qualquer língua estrangeira. De um modo geral, existe uma área de atuação muito forte para fazer essa inserção na comunidade internacional.

Então nós podemos dizer que  nos últimos anos a UFRN deu um salto na quantidade e na qualidade das pesquisas científicas?

 Há 15 anos a UFRN estava na periferia da região Nordeste e hoje em todos os rankings nós estamos muito bem situados, seja nos nacionais ou internacionais. Temos evoluído bastante. Todas essas ações vão produzir forte resultados daqui a 10 anos. Em uma instituição de pesquisa, os resultados são mais lentos. Você não cria um curso de graduação e em cinco ou seis anos vai ter mestrado e doutorado. Você não vê esses cursos surgindo em cada esquina, porque a pós-graduação tem um nível de controle muito grande. Então, a Universidade que temos hoje nós plantamos na primeira gestão e a que estamos plantando hoje irá aparecer daqui a alguns anos.

A área de Petróleo, Gás e Energias Renováveis é fundamental para o Estado e para o país. A UFRN tem um importante núcleo de pesquisa nessa área. Como ele funciona? 

Em petróleo, já temos uma tradição com cursos de mestrado e doutorado. Fora do eixo Rio-São Paulo é a única instituição que conta com essa estrutura envolvendo Engenharia do Petróleo, Química do Petróleo, Geofísica, além dos cursos que tradicionalmente nós já oferecíamos nessa área. Hoje temos cerca de 200 professores e 500 alunos. Os projetos que temos com a Petrobras e a ANP financiam bolsas para esses alunos e o desenvolvimento de projetos de pesquisa que geram produtos. Alguns desses novos produtos a Petrobras já está fazendo uso em seus processo. Os alunos envolvidos nisso são empregados muito facilmente pela indústria do Petróleo. Não só na Petrobras como em toda a cadeia. Formamos alunos de graduação e pós-graduação e temos desenvolvido produtos importantes.

O senhor pode citar algum exemplo?

O sistema de monitoramento dos poços em terra da Petrobras foi feito aqui na UFRN em um projeto de mestrado que desbancou um software importado. Tem várias outras tecnologias, como o poço em U, também um projeto daqui, a cimentação de poços é outro. É uma cadeia bem consolidada com mais de 30 laboratórios. Junto com isso há alguns projetos na área de renováveis, porque a Petrobras não é somente uma empresa de Petróleo, mas de energia. Já temos projetos na área de energia eólica e biomassa. Temos um laboratório especializado em realizar o controle de qualidade na área de petróleo. E agora vai-se fazer o mesmo na área de biodiesel. A excelência que temos em petróleo automaticamente passa para a área de energia em geral. Essa área é muito interdisciplinar, exige o envolvimento de várias especialidades.

Como fica a questão da Ciência Humana nesse processo, onde a sociedade muitas vezes valoriza mais a parte tecnológica e exata?

Eu acho que dentro da Universidade não existe essa distinção. Aqui nós temos um compromisso de equilíbrio. E se você for olhar como está distribuída a pós-graduação, por exemplo, em 1995 o núcleo da pós estava nessas áreas duras, exatas, saúde, etc. Hoje está equilibrado. O problema é que, por serem áreas que exigem forte investimento, para laboratórios normalmente caros na área de tecnologia e exata, existe ummaior volume de recursos disponíveis – e em todo o mundo é assim. Um equipamento para o Instituto Internacional de Física, por exemplo, está custando um milhão de dólares. Com o dinheiro apenas desse equipamento eu construiria um prédio na área de humanas.

Mas ainda assim, há uma reclamação de escassez de profissionais capacitados. Como o senhor vê essa questão? 

Os empresários reclamam que o Brasil tem dificuldades de conseguir inovação porque não há engenheiros em número suficiente. E a pós-graduação em engenharia que eles tentaram fazer crescer não teve sucesso porque falta aluno. No Brasil, 10% dos alunos de graduação estão em áreas relacionadas a engenharia. Na Coréia ou no Japão, por exemplo, esse número fica em 30%. Há uma reclamação grande que essas áreas precisam crescer e isso é fundamental. O Governo pensa nisso. Os fundos de pesquisa são principalmente direcionados para essa área, de exatas e tecnologia. Existe o fundo do petróleo, agronegócio, mineral, da parte de águas. Mas não é só isso. O próprio Governo quer criar um fundo financiado pelo mercado financeiro para as áreas de humanas. Na UFRN, os investimentos do Reuni modificaram o Centro de Humanas. A parte de Artes, principalmente, com um novo teatro. Mas essas áreas que tem uma relação forte com o mercado e precisam de infra-estrutura de laboratório terminam tendo um custo maior. Eu gosto dessa briga, porque há quem ache que basta formar engenheiros para o país. Mas isso é um equívoco. É preciso ter os dois.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas