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Eike Batista e o efeito da crise, no RN

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Andrielle Mendes – Repórter

Considerada uma das principais empresas do empresário Eike Batista, a OGX Petróleo entrou com pedido de recuperação judicial junto ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro essa semana. A aprovação do pedido permitirá que a empresa continue operando enquanto negocia suas dívidas com os credores, mas poderá comprometer os investimentos da companhia na área de petróleo e gás no Rio Grande do Norte.

A análise é do ex-secretário de Energia do estado e atual diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias do RN (Cerne), Jean-Paul Prates. Segundo ele, caso o pedido de recuperação judicial seja aprovado pela Justiça, a prioridade da empresa passará a ser o pagamento dos credores, e não novos investimentos.
Eike Batista: petroleira do empresário arrematou dois blocos para explorar petróleo no Estado
Eike Batista já chegou a ser considerado o homem mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo, mas viu sua fortuna cair de US$ 34,5 bilhões, em março do ano passado, para US$ 73,3 milhões, em setembro deste ano, segundo a agência de notícias Bloomberg. A queda foi atribuída à desvalorização das ações de algumas de suas principais empresas, como a OGX.

A companhia arrematou, em maio deste ano, dois dos dez blocos marítimos ofertados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP) no RN. Os contratos de exploração foram assinados nos dias 30 de agosto e 17 de setembro.

Investimentos

A cifra paga (R$ 101,2 milhões) representa quase 90% do que era esperado em investimentos na bacia marítima potiguar e quase metade dos investimentos totais previstos no estado em decorrência do leilão.

A empresa não informou quando começará a explorar os dois blocos de petróleo e gás no RN nem quanto investirá na exploração. Segundo Prates, a empresa não teria mais recursos para investir. A companhia, que chegou a um valor de mercado de R$ 75,2 bilhões no auge, terminou o dia valendo R$ 550 milhões, de acordo com reportagem publicado no último dia 30 pelo Globo.

“A prioridade num processo de recuperação judicial é pagar aos credores. Eles não vão investir em coisa nova. Não há hipótese deles voltarem a investir no curto prazo. Acredito até que eles vão vender os blocos para alguma empresa interessada ou incluí-los num pacote maior e vender junto com a própria OGX”, analisa Prates.

A empresa afirmou, em nota à TRIBUNA DO NORTE, que manteve os dois blocos que arrematou na bacia de Potiguar, “projetos que serão conduzidos em parceria com a ExxonMobil”. Os blocos, no entanto, poderão ser retomados pela ANP se constatado que o pedido de recuperação judicial prejudica o cumprimento das obrigações contratuais da companhia, como a execução do Programa Exploratório Mínimo, proposta de trabalho de exploração que as empresas apresentam a ANP.

‘Crise de confiança’ afeta empresas

A crise que afeta os negócios de Eike Batista é uma crise sobretudo de confiança. “Eike não cumpriu as promessas que fez. O mercado ficou sem parâmetros para avaliar o valor das suas empresas”, analisou Vinício de Souza e Almeida, professor adjunto do Departamento de Administração e coordenador do programa de especialização em mercado de capitais da UFRN, em entrevista à TV TRIBUNA, da TRIBUNA DO NORTE, em julho deste ano. Na época, a OGX havia anunciado que buscava parceiros para viabilizar os investimentos no Rio Grande do Norte.    

Reportagem publicada pelo Estado de São Paulo, também em julho deste ano, afirmava que a ‘bolha’ da OGX – que estourou recentemente – teria sido inflada por 55 anúncios de descobertas de petróleo, alguns deles sem fundamentação técnica. A petroleira teria feito, segundo o jornal, 105 comunicados ao mercado em apenas dois anos e meio, a maioria anunciando descobertas em um mesmo poço.

“Mas com petróleo e energia não se brinca, principalmente com petróleo. As reservas de petróleo tem que ser medidas por gente idônea, por técnicos. Quem tem que dizer se tem petróleo ou não e em que quantidade é o geólogo. O que aconteceu foi que o mercado foi levado a acreditar em reservas e descobertas que não foram bem medidas. Faltou responsabilidade pelos órgãos reguladores com relação aos anúncios feitos pela OGX”, afirmou Jean-Paul Prates, diretor do Cerne, que chegou a comparar Eike com o empresário norte-americano Rockfeller, que montou uma grande companhia do setor de petróleo, a Standard Oil,  sem deter uma gota de óleo, baseando-se apenas no refino e transporte nos Estados Unidos.

Recuperação

Prates comentou a opção da empresa pela recuperação judicial e disse que a aprovação do pedido não livrará a OGX de nenhuma dívida, apenas permitirá que ela não vá a falência e continue operando, enquanto quita o débito junto aos credores.

Além da petroleira, a OSX, empresa da indústria naval do grupo de Eike Batista, também admitiu a possibilidade de entrar com pedido de recuperação judicial. O pedido, segundo informou a Agência Estado, poderá ser feito na próxima semana, caso a OSX não consiga assegurar uma injeção de capital até a próxima sexta-feira (08).

A OSX, segundo a Agência, estaria tentando assegurar US$ 350 milhões em capital novo para aumentar o seu caixa antes do fim do ano. A empresa estaria tentando levantar US$ 100 milhões com Santander Brasil e o Votorantim. A empresa também tenta uma parceria com a companhia espanhola de construção naval Dragados Offshore. Boa parte da dívida total da OSX, de US$ 2,41 bilhões, é devida ao BNDES e à Caixa Econômica Federal. “Ao meu ver, a OGX e a OSX, criada para construir plataformas de petróleo para a a petroleira do grupo, não têm mais salvação em seu modelo inicial”, analisou Jean Paul Prates, do Cerne.

Ex-MPX mantém projetos de energia

Investimentos em energia eólica no Rio Grande do Norte estão garantidos, apesar da crise que o grupo de Eike Batista atravessa. O grupo comandado pelo empresário comprou, em agosto de 2012, os parques eólicos Jandaíra, Pedra Petra 1 e Pedra Preta 2, no estado, por R$ 22 milhões.

Os projetos, segundo Jean-Paul Prates, diretor do Centro de Estratégias em Recursos Renováveis e Energia do RN, serão executados pela Eneva, ex-MPX. O nome e o comando da empresa foram alterados depois que Eike Batista vendeu 24,5% de suas ações para a alemã E.ON, elevando a participação da sócia para 36,2% na Eneva.

“O que posso dizer é que a Eneva está bem encaminhada. As ações foram compradas pelos alemães e a empresa hoje tem vida própria. É por isso que digo que os investimentos na área eólica estão garantidos. Pelo que sei, o que está acontecendo com a OGX não está afetando em nada a Eneva. É por isso que digo que os investimentos em eólica não vão sofrer nenhum impacto”, afirmou Jean Paul.

Em nota encaminhada à TRIBUNA DO NORTE em julho deste ano, a empresa, que ainda se chamava MPX, confirmou que os projetos executivos já estavam prontos e que os parques disputariam os próximos leilões de energia. A Eneva, afirma Prates, deverá participar do leilão de dezembro, “ou no mais tardar no de 2014”. A TRIBUNA DO NORTE tentou contato com a empresa na sexta-feira da semana passada para detalhar os planos para o Rio Grande do Norte, mas a assessoria de comunicação da companhia não conseguiu disponibilizar porta-voz nem encaminhar as respostas solicitadas até o fechamento da edição.

Segundo Prates, a empresa pode investir até R$ 2,5 bilhões na construção dos três parques, que deverão gerar juntos 600 MW e poderão ter a capacidade instalada ampliada para 1,2 mil MW.

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