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Em busca do tempo perdido

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Nei Leandro de Castro
Escritor

Aos 19 anos, ganhei um prêmio literário nacional, com direito a uma viagem a qualquer país da América do Sul. Escolhi Argentina, passando pelo Rio de Janeiro. Minha paixão pelo Rio foi à primeira vista, com direito a conhecer Maria Lina, que foi minha namorada e a Madame Lage, uma viúva milionária. Se eu fosse esperto como o maior pensador de Lagoa Seca, eu seria hoje um milionário, herdeiro da viúva que não tinha filhos. Ela me levava para o apartamento de suas amigas, na Avenida Atlântica, e eu era olhado como um troféu. Nas despedidas, roçava os meus lábios com beijos e eu não entendia nada.

Algo parecido ocorreu comigo em Lisboa, onde passei oito meses, fazendo um curso de pós-graduação na Faculdade de Lisboa. Aluguei um quarto na Rua do Malpique, hoje Rua João Soares. Nas noites de frio, a dona do apartamento, dona Manuela, vinha ajeitar minha coberta e fazia carícias no jovem que aparecia estar em sono profundo.

Foi em Lisboa que conheci Esmeralda. Era véspera do Natal e eu gastei todo o dinheiro que tinha em passeios e restaurantes com ela. Véspera do Ano Novo, ela disse que ia para o interior, visitar parentes, e eu fiquei só e abandonado na cidade. Sem um centavo, eu me alimentei vários dias de Nescafé com muito açúcar. No primeiro dia útil, fui ao Restaurante Monte Castelo, onde costumava fazer refeições com Esmeralda. Expliquei minha situação ao garçom, que chamou o mâitre.

– Quando pagarás? – perguntou o mâitre.

Eu informei que pagaria no próximo dia 5 do mês, quando recebesse a mensalidade de minha bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian.

– Podes pedir o que quiseres – disse o mâitre.

Comi mais do que Volonté em festas de lançamentos de livro.

Também passei por problemas em Paris. Essa bela cidade é terrível quando não se tem dinheiro no bolso. Minha refeição diária era um sanduíche, até que descobri os restaurantes marroquinos, com seus pratos abundantes e preços bem baratos. James Joyce também teve problemas de falta de dinheiro em Paris. Mas ele era cara-de-pau. Pedia dinheiro aos amigos. E quando algum amigo atrasava na remessa do cheque, ele escrevia: “Por favor, não atrase na remessa do meu dinheiro.”

Aos 28 anos, com sete anos de um casamento que quase me destruiu, fugi de Natal para o Rio de Janeiro. Moacy Cirne já morava no Rio e me acolheu com amizade. Fique morando num apartamento da Rua Silveira Martins que ele dividia com amigos. Foram tempos  difíceis. Todos os dias, eu saía à procura de emprego e não conseguia nada. Até que o poeta Álvaro de Sá conseguiu para mim um emprego na Editora Bruguera, que ficava em Ramos. Depois fui transferido para uma filial da editora, na Rua México, e as cansativas viagens de ônibus tiveram seu fim.

Citação da semana:

 “Aí Deus criou o beijo exatamente pros casais pararem de falar tanta besteira.”

(Roberto Rodrigues Roque)

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