Nadjara Martins
Repórter
Os programas públicos que auxiliam o ingresso de pessoas no mercado de trabalho também sentiram a redução na oferta de vagas durante o primeiro semestre de 2015. Com a desaceleração econômica, a oferta de vagas via Sistema Nacional de Emprego (Sine), estadual e municipal, diminuiu, principalmente para jovens. De acordo com a Secretaria Estadual de Assistência Social (Sethas), até junho, apenas seis vagas foram ofertadas para jovens de 14 a 24 anos pelo programa federal Primeiro Emprego. No mesmo período, 9.003 jovens se inscreveram no programa, mas apenas cinco conseguiram a inserção no mercado.
A desaceleração econômica trouxe impacto para todos: de acordo com o Sine estadual, a redução na oferta de vagas chegou a 35% entre 2014 e 2015. Em média, 140 vagas são abertas diariamente. A situação é mais complicada para o jovem, principalmente para aqueles que tentam o primeiro emprego: além de exigirem a qualificação da mão de obra, também buscam a experiência.
#SAIBAMAIS#Pela Lei da Aprendizagem (nº 10.097/2000), todas as empresas de médio e grande porte devem destinar de 5% a 15% do quadro de pessoal para a contratação dos aprendizes – jovens de 14 a 24 anos que ainda cursam escola regular. Entretanto, segundo Margarete Pereira, diretora do departamento de desenvolvimento e qualificação profissional da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas), algumas empresas não tem cumprido a cota.
“Os jovens estão fora do mercado de trabalho pela falta de experiência. Às vezes as empresas exigem de seis meses a um ano. E se não for dada a oportunidade, como ele vai adquirir experiência. Sabemos de empresas que não cumprem as vagas de aprendizagem”, assegura.
O município iniciou a qualificação profissional para jovens em maio, como o programa ‘Passos para o Futuro’, que trabalha oficinas de orientação profissional, qualificação e intermediação de mão de obra. O programa também surgiu como uma alternativa ao encolhimento dos cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), custeados pelo Governo Federal, mas cuja pactuação do ano — 10 mil vagas – não foi homologada. De acordo com Margarete Pereira, a procura por vagas juntos às empresas acontece “todo dia” pela Semtas, mas a oferta é pouca.
A mesma retração foi sentida pelo Estado, segundo a subsecretária estadual do Trabalho, Olga Pinto. “O mercado não está procurando jovens. Estamos cadastrando, mas a procura é muito pouca”, salienta. Para Vanessa Dantas, isso é causado pelo custo da manutenção do jovem aprendiz nas empresas. “Em época de recessão, a procura é pequena porque a carga horária (do jovem) é menor e o custo sai muito alto para a empresa”, salienta.
Hoje, o Estado não oferta qualificação profissional: convênios federais para programas foram suspensos por deficiências na prestação de contas durante a última administração. Além disso, o Sine Candelária, que seria voltado para esta qualificação, foi fechado por falta de infraestrutura. Uma reforma deve ser iniciada no ano que vem.
Entretanto, o diretor da Casa do Menor Trabalhador, Jorge Medeiros, acredita que a falta não é de vagas, mas de jovens qualificados. “Eu não diria que a dificuldade é das empresas absorverem, mas é a mão de obra qualificada que o jovem não tem por falta de oportunidade. Faltam políticas públicas voltadas para atender o jovem na sua capacitação, com consistência, não uma de 30 horas. Eu não posso pegar este menino, que nunca trabalhou, vem de uma estrutura familiar inexistente, de uma vulnerabilidade e colocar para trabalhar. Ele não se acredita, nem vê a relação de empregador e trabalhador como uma troca”, aponta.
Na Casa do Menor Trabalhador, que conta com 1,4 mil jovens, a inserção no mercado varia de 90% a 95%, segundo Jorge Medeiros. É um dos índices mais elevados do mercado de trabalho na capital.