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Enquanto a chva cai lá fora

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Nelson Mattos Filho
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Nesses tempos de El Niño, em que o clima do nosso planeta se parece com uma orquestra em que os músicos tocam um ritmo e o maestro insiste em reger outro, decifrar as previsões meteorológicas passa a ser um exercício de futurologia.

O El Niño é um fenômeno encrenqueiro sem tamanho e que foi descoberto pelos pescadores da costa oeste da América do Sul. Os pescadores observaram que em anos aleatórios – e sempre no período de fim de ano, por isso deram o nome de O Menino, em referência ao Menino Jesus – as águas do Pacífico Sul esquentavam mais do que o normal e isso interferia na produção do pescado. Os cientistas foram na conversa dos homens do mar e caíram em campo para descobrir quais as verdadeiras intenções e qual o quadro genético da criança.

Descobriram que o El Niño inverte os ventos do Pacífico Sul, que muda algumas correntes marinhas profundas, que diminui a produção de peixes e além de uma série de consequências, descobriram até que o clima no Brasil fica assim meio sei lá. Diante de tantas descobertas, o brasileiro passou a conhecer em 2014 um morto chamado Cantareira e que a Terra da Garoa já não está com essa bola toda. Até ai tudo bem, mas saber exatamente quando é que O Menino vai dar as caras é outra história. A informação é assim: Entre dois e sete anos. Então tá! Sendo assim vamos em frente.

Como O Menino resolveu bagunçar o coreto e fazer chover apenas sobre a Baía de Todos e Santos e as cidades do Recôncavo Baiano, e como o Avoante insiste em sentar praça nas águas dos Orixás, vamos levando a vida a bordo entre uma chuva e outra curtindo a velha e boa preguiça. Dizem que um paulista falou para um baiano que preguiça é pecado. O baiano devolveu na mesma moeda: Inveja também!

Pois é, nessa onda de fecha o barco, abre o barco, vai chover, não vai, vamos levando a vida navegando apenas nos oceanos internéticos. Não que a chuva seja algum empecilho para velejar. Mas para que sair debaixo de chuva?

O mar da internet é fantástico, carregado de pérolas e a gritaria corre solta e tudo passa como num passe de mágica. Pensando bem: Tudo sempre foi assim. No mês de abril os grupos sociais que povoam o mundo náutico se remoeram numa guerra sem generais por causa de alguns roubos e assaltos que ocorreram em Paraty/RJ e Itaparica/BA. Pelo barulho que se ouviu dava para imaginar a batalha que as autoridades teriam que enfrentar.

Absurdo. Fim do mundo. Onde vamos parar? Vamos fazer isso. Vamos fazer aquilo. Vamos convocar reuniões. Vamos fazer barulho. Essas e outras frases foram ouvidas e lidas, mas em menos de uma semana havia muito pouca gente interessada no assunto e assim ele caiu no esquecimento.

Lembrei-me desse fato agora, que até noticiei, porque na época me alistei para participar de uma das reuniões propostas em Salvador e que até hoje nunca saiu da intenção. Tudo continua do mesmo jeitinho até que aconteçam novos casos. É aja chuva!

Viro a página virtual e lá está outro grupo, em outra discussão acalorada, falando das maravilhas dos últimos modelos eletrônicos de navegação. Interessei-me em ver o perfil dos debatedores e deparei com os velhos conhecidos velejadores de palhoção. Aqueles que não navegam, mas que conhecem todas maruagens dos oceanos e dos ventos. Para eles nada do que o outro comprar serve, porque já existe algo mais moderno e que ele viu numa revista ou em algum site. O conselho que o velejador de palhoção tem na ponta da língua é esse: Se eu fosse você não iria para o mar com um equipamento tão obsoleto. É melhor esperar por algo mais moderno que deve ser lançado daqui a dois anos. Ah bom! Divirto-me lendo essas coisas enquanto a chuva castiga o convés do Avoante.

Teve um desses velejadores que quando soube que eu morava há dez anos em um veleiro e esse veleiro não tinha geladeira, ar condicionado, forno micro-ondas, chuveiro com água quente, radar, DVD, GPS Plotter e mais uma lista interminável de coisas boas, o cara nunca mais se reportou a mim no grupo. Só faltou ele perguntar: E como você consegue velejar?

Com todo esse moído, acho que o assunto El Niño caiu bem melhor nessa página. Ainda mais diante dessa chuvarada violenta que cai sobre a velha e boa Salvador e que nos prende na beira de um caís.

Será falta de assunto?

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