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Escolas públicas saem à “caça” de estudantes

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Paulo Sérgio Freire – Jornal de Fato

Mossoró – Elas já foram – e ainda são para alguns – exemplos do bom ensino público que existiu no Brasil, pelo menos até o fim da década de 70. No entanto, com o crescimento da cidade, com a mudança de finalidade inicial a que estas escolas se propunham e a um aumento substancial da rede pública de ensino (tanto estadual, quanto municipal), elas hoje sofrem problemas para preencher suas vagas ofertadas a estudantes, seja do ensino médio, seja do ensino fundamental.

Faixas pelas ruas de Mossoró informam aos alunos o período de matrícula nas escolas estaduaisNuma tentativa de “convocar” os alunos para ocuparem as vagas abertas, as escolas estaduais Abel Freire Coelho e Lavoisier Maia, além do Centro Integrado Professor Eliseu Viana (Ceipev), todas localizadas na confluência dos bairros Nova Betânia e Abolição, apostam na velha máxima de ‘quem não é visto, não é lembrado’ e, assim, fazem a boa propaganda boca a boca, em carros de som e em muitas faixas a fim de atrair os pais e também os estudantes. “Já pedimos aos professores que falem para os alunos que conhecem e também colocamos faixas na rua a fim de que as pessoas procurem o Eliseu”, conta a vice-diretora do Ceipev, Ivete Carlos.

O Ceipev, que originalmente foi construído com a finalidade de ofertar cursos profissionalizantes juntamente com a grade curricular normal, tem espaço ocioso e, segundo sua vice-diretora, daria para comportar até 1.800 alunos, em média, mas na prática isso não ocorre. Em 2010, a escola teve 1.347 alunos matriculados e espera para esse ano uma redução desse número. “Ano passado o matutino era bastante procurado, este ano nem isso. Estamos bastante preocupados, principalmente com o turno noturno que até o momento só tivemos oito matrículas”, explica Ivete.

Na Rua João Marcelino, distante apenas uma quadra onde está o Ceipev (localizado na Rua Duodécimo Rosado), está a tradicionalíssima Escola Estadual Professor Abel Freire Coelho. O diretor Francisco José Alencar está temeroso com a possível “sangria” de pelo menos 300 alunos a menos. “Nunca tivemos dificuldade como a que encontramos neste ano. Nossa esperança é que muitos alunos que ainda não renovaram possam vir de última hora”, diz ele. Com 1.318 alunos matriculados em 2010, o Abel Coelho oferece apenas o Ensino Médio. É umas das escolas com maior tradição no ensino público de Mossoró e antes oferecia aulas no três turnos e teve que extinguir o turno noturno numa tentativa de se readequar diante do pouco alunado existente. Problema idêntico sofre seu vizinho, a Escola Estadual Lavoisier Maia, que oferece o ensino fundamental e já fez de tudo para atrair os estudantes: carro de som, faixas espalhadas pela cidade e até instalou câmeras de segurança, mas até agora não surtiu o efeito esperado. “Temos ainda esperança de aumentar, vamos aguardar até o final do período de matrícula”, diz a diretora Maria Nelbe. Com 380 alunos, o Lavoisier Maia está localizado (assim como o Abel Coelho e o Ceipev) numa região que atualmente é considerada “nobre” em Mossoró. Se, no passado, a localização era considerada periférica e de fato existiam áreas carentes como as antigas comunidades dos Cordões e da Baixinha, hoje a especulação imobiliária transforma rapidamente a paisagem urbana e, consequentemente, seus moradores que agora residem nos bairros Nova Betânia ou Abolição.     

Matrículas definem recursos

O número de alunos é de suma importância para o funcionamento da escola. São inúmeros os recursos onde a quantidade de alunos matriculados define o valor a receber. Entre os recursos, estão: o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa de Desenvolvimento da Escola (PDE), o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), além de recursos para compra de material de consumo entre outros programas. Todos estes, são orientados pelo número de matrículas e os recursos são oriundos do Ministério da Educação e repassados diretamente às escolas públicas de todo país.              

Localização e violência atrapalham

Se a localização é um fator forte para a dificuldade de algumas escolas em atrair alunos, este não pode ser considerado um motivo isolado. Além da distância, a crescente expansão da rede pública de ensino em bairros periféricos associada à violência, é citada pelos diretores como pontos que merecem atenção. “Estamos prevendo uma redução de 10% nas matrículas esse ano por conta de três pontos: a violência que cerca as escolas, a redução das famílias e a concorrência de escolas mais próximas às residências”, diz Ivete Carlos do Eliseu Viana.

Para Francisco José – diretor do Abel Coelho – a tradição da escola faz a diferença e as matrículas podem melhorar antes do início do ano letivo, previsto para 14 de fevereiro. “Estamos com esperança que antes do início letivo, com os resultados que obtivemos no vestibular da Uern, sirva de exemplo para atrair estudantes, pois são poucas as escolas que possuem uma estrutura física e humana como o Abel”, diz.

Além de tradição, as escolas também investem em segurança. No Lavoisier Maia, duas câmeras de segurança foram instaladas para  garantir maior segurança aos estudantes. “É uma tentativa de fazer o diferencial de nossa escola”, mostra a diretora Maria Nelbe.

Maioria das mulheres está fora da escola

Brasília (ABr) – Parte da população de 18 a 24 anos do país faz parte de um grupo que nem estuda nem trabalha. São cerca de 3,4 milhões de jovens que representam 15% dessa faixa etária. Um estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostra que as mulheres são mais afetadas por esse problema, muitas vezes em função da maternidade e do casamento. Do total de jovens fora da escola e do mercado de trabalho, 1,2 milhão concluiu o ensino médio, mas não seguiu para o ensino superior e não está empregado. A proporção de jovens nessa situação aumentou de 2001 a 2008, segundo o Inep, e quase 75% são mulheres. Uma em cada quatro jovens nessa situação tinha filhos e quase metade delas  (43,5%) era casada em 2008.

Para Roberto Gonzales, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o estudo reflete que a desigualdade de gênero ainda persiste não apenas na diferença salarial, mas no próprio acesso ao mercado de trabalho. “Isso tem muito a ver com a divisão do trabalho familiar, seja doméstico ou de cuidados com o filho. É uma distribuição muito desigual e atinge em especial as mulheres, por isso você tem tantas meninas fora do mercado e da escola”, diz.

Entre as mulheres de 18 a 24 anos que estão na escola e/ou no mercado de trabalho, o percentual daquelas que têm filhos é cinco vezes menor. Segundo o estudo, os dados comprovam que “existe forte correlação entre casamento/ maternidade e a saída, mesmo temporária, da escola e do mercado de trabalho observada para as mulheres”. 

Uma vez que o processo de escolarização foi quebrado, o retorno aos estudos é bem mais difícil. Para Gonzales, esse afastamento do jovem do mercado de trabalho ou dos estudos pode não ser apenas uma situação “temporária”, como sugere o estudo. Um dos fatos que corroboram essa teoria é a queda da matrícula entre 2009 e 2010 nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), segundo dados do último censo escolar.

“A baixa escolaridade não é uma barreira absoluta ao mercado de trabalho, mas é um problema porque há a possibilidade de criar-se um círculo vicioso. A mulher não terá acesso a bons empregos que dariam experiência profissional e poderiam melhorar sua inserção no futuro”, alerta.

Gonzales afirma ainda que as políticas públicas precisam ser mais flexíveis e acompanhar os “novos arranjos” da sociedade para garantir mais apoio a esse grupo de jovens mães. “As pessoas costumam ter uma ideia mais tradicional de educação em que os pais provêm o sustento para que o filho termine a escolaridade, depois ele segue para o ensino superior e entra no mercado de trabalho. E, na realidade, esses eventos não acontecem necessariamente nessa ordem. Assim como temos muitos jovens casais, também temos famílias monoparentais chefiadas por mulheres com filho e isso, muitas vezes, abre espaço para outras trajetórias de vida”, explica.

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