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Esforço do governo contra insurgentes foge do controle

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Peter Leonard e Maria Danilova
Associated Press

Horlivka (AE) – O combustível é local, mas a engrenagem é russa. Em poucas palavras, isso resume a forma como a insurgência que ameaça a sobrevivência da Ucrânia como um Estado unificado está se desenrolando. Nos últimos 15 dias, mais de uma dúzia de escritórios do governo no leste da Ucrânia foram tomados por forças pró-Rússia, com a maioria das apreensões seguindo o mesmo padrão. Gangues agressivas, às vezes portando armas de fogo e usando uniformes militares, invadem os prédios. A bandeira ucraniana é substituída por uma russa. Em seguida, as forças de segurança locais se mobilizam para impedi-las.
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Aqueles que capturaram os edifícios insistem que estão realizando a vontade do povo e exigem um referendo sobre a autonomia para a região de Donetsk. No entanto, um número relativamente pequeno vai às ruas em apoio e é cada vez mais evidente que a suposta revolta está longe de ser espontânea e vem sendo realizada com uma coordenação infalível.

A Rússia tem dezenas de milhares de soldados concentrados ao longo da fronteira leste da Ucrânia. Os governos ocidentais acusam Moscou de alimentar a agitação e se preocupam que o espectro do derramamento de sangue que poderia ser usado como pretexto para uma invasão russa, em uma repetição dos acontecimentos na Crimeia há algumas semanas.

A incapacidade do governo ucraniano de reprimir a insurgência pró-Rússia ficou ainda mais evidente quando o presidente interino, Oleksandr Turchynov, pediu o envio de tropas de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) para o leste do seu país. O governante disse que era claro que havia uma interferência russa nos protestos da região.

“A Federação Russa está enviando unidades especiais para o leste do país, tomando nossos prédios administrativos com o uso de armas e colocando a vida de centenas de milhares de nossos cidadãos em perigo”, disse Turchynov para o site da presidência. O envio das forças de paz, no entanto, teria de ser autorizado pelo Conselho de Segurança da ONU, no qual a Rússia tem poder de veto.

Ativistas pró-Rússia justificam suas ações dizendo que o governo interino é de extrema-direita e que apoia a xenofobia. De fato, o gabinete formado após a derrubada do presidente Viktor Yanukovich em fevereiro inclui algumas figuras nacionalistas, mas não há nenhuma prova substancial de que os russos étnicos tenham sido sujeitos a qualquer intimidação generalizada nas últimas semanas.

A relativa facilidade com que os grupos pró-Rússia dominaram a resistência ucraniana foi exibida na última segunda-feira em Horlivka, cidade da região de Donetsk. Naquele dia, centenas de pessoas se concentraram em uma praça em frente a uma delegacia. Oleksandr Sapunov, que se descreveu como chefe de uma unidade de autodefesa pública em Horlivka, disse que a multidão estava lutando contra as nomeações do governo de Kiev, incluindo o chefe da polícia local. “As pessoas vieram para dizer que ele é um fantoche do governo de Kiev e que a população local não vai aceitá-lo”.

Em seguida, veio o momento da troca da bandeira ucraniana para a russa. Mas, em Horlivka, o chefe da força policial chegou ao limite, perseguindo um ativista pró-Rússia e derrubando-o de uma altura de seis metros.

Unidades levantam bandeira russa
Testemunhas relataram ter visto milícias camufladas semelhantes às observadas na Crimeia antes da anexação da península ao território russo. “Essas unidades armadas levantaram bandeiras russas e separatistas sobre edifícios apreendidos e clamaram por referendos e pela união com a Rússia”, disse a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power, durante uma sessão do Conselho de Segurança no domingo passado. “Nós sabemos quem está por trás disso.”

Desde que Yanukovych fugiu para a Rússia no final de fevereiro, o Kremlin exigiu reformas constitucionais a fim de transformar a Ucrânia em uma federação.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse ter recebido “numerosos apelos do leste da Ucrânia” pedindo para ajudar a interferir nas questões do país “de uma forma ou de outra”, segundo relatos do porta-voz da presidência, Dmitry Peskov, para agências de notícias locais. O porta-voz acrescentou que o governo russo “acompanhou os acontecimentos nas regiões com grande preocupação”, mas não era responsável pelos eventos.

Enquanto isso, Putin pediu ao presidente dos EUA, Barack Obama, que desencorajasse o governo ucraniano a usar a força contra manifestantes no leste do país.

O Kremlin informou, em comunicado emitido após a conversa telefônica dos dois líderes, que Putin considerou as alegações de envolvimento de agentes russos nos protestos como “especulações baseadas em informações não confiáveis”. O presidente russo afirmou ainda que os protestos desabafaram a raiva pública sobre a relutância do governo ucraniano em reconhecer os interesses de russos étnicos do leste do país.

Em outro caso, que dá ainda mais combustível para a recorrente alegação russa de interferência dos Estados Unidos, o secretário de imprensa da Casa Branca, Jay Carney, confirmou na segunda-feira passada que o chefe da CIA, John Brennan, tinha visitado a Ucrânia no final de semana. O órgão negou que a autoridade tinha usado a sua viagem para aconselhar as forças ucranianas em operações táticas.

No começo da semana, depois de rejeitar a realização de uma consulta popular reivindicada por partidários separatistas do leste, Turchynov acenou para a possibilidade de convocar um referendo sobre a concessão de mais autonomia a regiões do país. O presidente interino disse também que essa votação poderá ocorrer junto com as eleições presidenciais, marcadas para 25 de maio.

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