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Esgotamento do trabalho?

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Paula Borba 
(Psiquiatra –  [email protected])

Quem disse que o esgotamento do trabalho é uma coisa da vida moderna? Ouvimos dizer que nos dias de hoje as pessoas vivem para o trabalho e são muito exigidas, chegando a vários casos de esgotamento por completo. Pois saibam que esse esgotamento profissional já foi relatado na década de 70, se não existir dados mais antigos. Em 1974, estudiosos já descreveram uma síndrome de esgotamento do trabalho caracterizada por um estado de exaustão emocional associada a uma diminuição da realização pessoal. Deram o nome de síndrome de Burnout. Como a pessoa chega a desenvolver isto?

 Inicialmente há uma história pessoal de grande engajamento no trabalho, visto como prioridade na vida daquela pessoa ou objetivo de realizar uma meta ou uma missão. Aliado a isso, existem os fatores relacionados à dinâmica do trabalho como tipo de atividade exercida, tempo, ritmo e duração da jornada de trabalho, remuneração e estrutura hierárquica, os quais são considerados também determinantes para o desenvolvimento da síndrome. A personalidade e o temperamento de cada pessoa também são considerados fatores de risco para Burnout, bem como para outras síndromes ou doenças.

A síndrome do esgotamento profissional integra a Lista de Doenças Profissionais e Relacionadas ao Trabalho e mesmo, parecendo, não integra exatamente um tipo de doença psiquiátrica. No entanto, tornando-se crônica, a síndrome de Burnout pode levar ao surgimento de transtornos ansiosos ou depressivos.

O esgotamento profissional apresenta um estado de exaustão emocional caracterizado por uma fadiga intensa, falta de forças para enfrentar o dia de trabalho e sensação de estar sendo exigido além de seus limites emocionais. Apresenta ainda um sentimento do que chamamos de despersonalização caracterizado por um distanciamento emocional e indiferença em relação ao trabalho ou aos usuários do serviço. Alerta-se por uma manifestação demonstrada pela diminuição da realização pessoal expressada por falta de perspectivas para o futuro, sentimento de frustração, de incompetência e fracasso. O profissional também pode se queixar de ansiedade, irritabilidade, dificuldade de concentração, alterações do apetite e do sono.

Este quadro pode parecer uma depressão, no entanto, a pessoa acometida pelo Burnout apresenta essas queixas somente na esfera profissional enquanto na depressão todas as esferas da vida estão comprometidas. A prevenção, portanto, está em não demorar a reconhecer a síndrome profissional e avaliar a vulnerabilidade da pessoa tanto do ponto de vista psicológico como biológico/genético.

E quais as consequências do esgotamento do trabalho? São efeitos semelhantes a uma situação de grande estresse. Tanto o corpo quanto a mente são afetados. Podem surgir doenças cardiovasculares, hipertensão, doenças endocrinológicas como resistência insulínica até o diabetes, doenças da pele, queda de cabelo, entre outras. E o estresse prolongado predispõe as doenças psiquiátricas já que há uma diminuição da ação dos neurotransmissores (serotonina e dopamina) no cérebro.

O que fazer para tratar? Em situações de reação ao estresse o ideal é afastar a pessoa do ambiente ou fator estressor. Portanto, nos casos de Burnout o interessante é afastar a pessoa do trabalho e encaminhá-la para um tratamento multidisciplinar. Podem ser necessários psicofármacos como antidepressivos e ansiolíticos e uma psicoterapia de apoio. Outras medidas auxiliares a recuperação do bem-estar e qualidade de vida podem ser atividade física e atividades de relaxamento, todas proporcionando a produção dos neurotransmissores que foram afetados durante o adoecimento. As vezes remanejar o profissional para outra função ou setor ajuda a superar e enfrentar o ambiente de trabalho.

A síndrome de Burnout ainda leva a algumas discussões por diferentes profissionais, por vezes sendo levada até a necessidade de intervenções judiciais. Para isso podem ser necessários mais estudos que deixem esclarecimentos bem definidos. Sabe-se que é uma situação que merece algum tipo de intervenção terapêutica já que há bastante sofrimento por parte do profissional esgotado.

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