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Esgoto afasta banhistas de Areia Preta e Miami

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VAZIO - Areia Preta perde banhistas por causa do esgoto

O turismo litorâneo que inicia nas praias de Areia Preta e Miami, Zona Oeste de Natal, está comprometido. Apesar do número de frequentadores estar aumentando no local, a insatisfação com problemas relacionados à poluição, ameaça diminuir este número e revolta os comerciantes e banhistas dessas praias.

Os turistas são atraídos pela beleza natural e pela estrutura que vem sendo implantada no local. Sabe-se que, quanto maior a beleza do local, mais as pessoas se interessarão a conhecê-lo. Contudo, esgotos e lixos despejados nas praias  diminuem o prazer que as pessoas esperam. Com o tempo a praia vai sendo abandonada, piorando o comércio local.

AREIA PRETA

Várias correntes de esgoto são despejadas diariamente nas praias de Areia Preta e Miami. Em épocas de chuvas, grande parte do lixo é levada em direção ao mar, aumentando a incidência de doenças nos banhistas.

Sol, mar, edifícios luxuosos e a poluição, completam o cenário atual da praia de Areia Preta. Primeira escolhida, na década de 20, pela Intendência para a função balneária, por ser considerada em boas condições para tal fim, e que agora está marcada pelo esgoto.

Frequentadores da praia relatam que o problema piora com as chuvas e afasta os banhistas e turistas do local. “Antigamente só se tomava banho quando a maré estava seca. Tudo isso aqui era só pedra. Agora, com as barreiras construídas, o movimento tinha aumentado, mas voltou a cair por causa desse esgoto”, falou o pescador, Flávio Araújo, que trabalha na praia há 28 anos.

Com uma sinalização de balneabilidade instalada pelo Idema, a praia de Areia Preta foi classificada como imprópria para banho. Alguns banhistas porém, ignoram o aviso e continuam no mar em frente ao esgoto.

MIAMI

O esgoto também degrada o antigo ponto de campeonatos de surf, a praia de Miami, (chamada assim pelas ondas radicais e pela presença de muitos surfistas, características da praia com mesmo título nos Estados Unidos), vizinha à de Areia Preta. Aos poucos, o local foi perdendo espaço para outras praias devido à poluição.

“Alguns de nós continua aqui porque a poluição é menor. O esgoto vai todo lá para baixo, para a praia do Meio. As ondas são o que marca. O ruim é essa sujeira que sai daqui”, falou o surfista, Clésio França.

Apesar de no local a balneabilidade da praia ser registrada como própria para banho, alguns comerciantes, como a dona de um bar no local, Francisca Cunha da Silva, a conhecida “Tia Chica”, reclamam que vendiam bem, mas que um esgoto, próximo ao local das barracas, está afastando os clientes.

“Muita gente reclama. Já perdemos o campeonato e vamos acabar perdendo os turistas por causa desse esgoto”, disse Francisca, acrescentando a necessidade da construção de quiosques com energia. “Aqui deveria ter um projeto de melhorias. Alguns clientes nossos são de classe alta”, concluiu.

Caern informa que poluição vem dos esgotos irregulares

O Gerente de Obras da Caern, Ricardo Varela Filho, aponta as ligações clandestinas de esgotos, feitas por alguns moradores do bairro de Mãe Luiza, como causa do despejo de água servida nas praias de Areia Preta e Miami. Segundo o gerente, o problema será solucionado com a conclusão das obras de saneamento do bairro, que foram paralisadas, mas serão retomadas nesta segunda-feira.

“A Caern não tem como controlar essas ligações, mas agora, com as obras de saneamento do bairro, iremos identificar os locais que fizeram a ligação clandestinamente. Aquelas tubulações que desembocam na praia são galerias que a prefeitura colocou para escoamento da água de chuva. Só polui por causa da água servida infiltrada clandestinamente”, falou Ricardo Varela Filho.

As obras de saneamento do bairro de Mãe Luiza foram paralisadas no mês de dezembro do ano passado e estão previstas para reiniciarem na próxima segunda-feira. “As obras paralisaram por causa da burocracia da Caixa Econômica, que é a financiadora da obra”, disse o gerente.

No total, foram investidos R$ 2.995 milhões, mas somente 46% da obra foi realizada desde dezembro de 2005, quando foi iniciada. A previsão é de que, após retomados os serviços, as obras de saneamento estarão concluídas em um ano.

Prédios encobrem a vista para o mar

As humildes casas do morro de Mãe Luíza vão perdendo aos poucos a visão do mar. Os grandes edifícios fazem agora parte da nova paisagem vista pelos moradores do bairro. Hoje, as praias de Areia Preta e Miami detém o metro quadrado mais caro de Natal, com edifícios residenciais de alto padrão e que conseguiu encobrir a visão do mar e do farol, um dos símbolos da nossa capital.

Em 2001, os chamados espigões começaram a ser erguidos nas praias visando proteger as encostas da erosão e revitalizando a área. Os altos prédios também erguidos em frente à praia trás para o local, ao mesmo tempo, satisfação e tristeza de quem sempre teve o mar como paisagem preferida. “É bom porque valoriza tudo aqui. Mas imagine quem tinha essa vista maravilhosa do mar e que agora está empatada por causa desses prédios. Gostava de ver esse azul do mar, quando ia para a janela de casa”, falou o servente de pedreiro, Daniel Souza.

Um recanto para os pescadores

Um recanto de pescadores. Esse foi o registro de Câmara Cascudo sobre o bairro de Areia Preta em 1920. Com o tempo, os pescadores do local foram vendendo suas casas e novas construções apareceram. Mas a atividade simples do pescado permanece em muitos descendentes desta história.

O pescador, Flávio Araújo, conta que trabalha na praia de Areia Preta há 28 anos e que seu pai, também pescador, falava das mudanças do local. “Aqui era tudo areia. Muitos terrenos baldios. As casas eram simples e ficavam na beira da praia. Meu pai saía cedo para trabalhar e vendíamos os peixes no mercado”, disse o pescador.

Os pescadores contam que o nome da praia veio da cor das falésias ou barreiras ali existentes. “Pode ver. Aquelas pedras (que estão nas barreiras) eram tudo aqui. Ficava tudo preto, mas não deixava de ser bonito”, continuou Flávio, acrescentando que a retirada das pedras contribuiu para o aumento de pessoas que frequentam a praia. “Nós usamos a sardinha do Sul como isca. Pescamos sempre xaréu, cavala, galo. O que tiver na época de pescado a gente trás. Tiramos nosso sustento como nossos pais. Agora com mais gente vindo aqui, vendemos melhor”, concluiu Flávio Araújo.

Capela é reformada com a ajuda dos moradores

Uma capela com telhas losangulares chama a atenção de quem passa por Areia Preta. A capela de São Francisco, que fica de frente para o mar estava prestes a desabar, mas foi reformada com a ajuda de moradores da região. O formato das telhas foi escolhido devido à beleza exótica e à grande inclinação do telhado.

O terreno da Capela foi doado por uma senhora conhecida por Joaninha Vasconcelos. A construção iniciou logo após, na década de 1940 por Monsenhor José Landim.

 Durante a Segunda Guerra Mundial, antes da sua inauguração, a capela serviu de abrigo para os soldados da localidade. À direita do prédio, de frente para o mar, teria sido instalado um canhão para a defesa da cidade contra ataques marítimos. Hoje não há nenhum vestígio do tal canhão, nem se sabe quem o teria retirado de lá.

Quando a guerra terminou, a capela pôde ser complementada e inaugurada, em 16 de dezembro de 1945 e, com o tempo, ela passou a ser muito freqüentada pelo povo da região e mesmo de outras áreas da cidade.

Com a construção da igreja de Nossa Senhora de Lourdes, próxima a Petrópolis, a paróquia começou a ter dificuldades em manter financeiramente as duas igrejas. Devido à falta de manutenção a capela acabou se tornando um alvo fácil para os marginais que acabaram de roubar praticamente todos os seus bens. Agora está com a reforma quase concluída.

No passado área para serenatas

O bairro de Areia Preta, onde estão localizadas as praias de Miami e Areia Preta, era um local de festas, serenatas, banhos de mar e piqueniques. Lá veraneava o comerciante Jorge Barreto, aclamado pelos amigos como Conde D’Areia Preta.

Até a década de 40, Areia Preta era a praia da moda. Durante o veraneio, foi erguido um enorme tablado ao ar livre onde dançaram oficiais da Marinha americana com moças das mais ilustres famílias natalenses da época para promover a confraternização entre grupos de recém chegados e as famílias norte-rio-grandenses.

Na década de 70, a praia já se configurava uma mistura de características de veraneio e urbana. Antes ocupada por casas, da praia dava-se para ter uma visão  de Mãe Luíza. Era época também do conhecido Yara Bar, que avançava mar adentro com suas palhoças.

Comparando a situação da década de 70 com a de hoje, em percurso no sentido da Praia do Meio para a Via Costeira, não se encontra mais a paisagem encoberta com o tempo. Para ver o Farol temos que fazer uso de um certo malabarismo.

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