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Esqueceram o Menestrel

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Woden Madruga [ [email protected] ]

Os trinta anos das Diretas Já (25/04/1984) foram lembrados semana passada em alguns atos semioficiais, um discurso no congresso, um registro em algum sindicato ou associação de classe (na OAB não vi nada), uma oração solitária numa igreja idem, um brinde noturno num bar qualquer. Os jornais abriram suas páginas, destaque de capa. Na tevê, também. A Rede Globo mostrou no seu Bom Dia Brasil, na sexta-feira, 25, uma reportagem quase perfeita. Quase, porque omitiram dois nomes fundamentais do movimento: o senador alagoano Teotônio Vilela (batizado de “O Menestrel das Alagoas”, na voz de Fafá de Belém interpretando a bonita canção de Milton Nascimento e Fernando Brant) e o cartunista Henfil. Omissão imperdoável.

Henfil foi das primeiras vozes, um dos primeiros traços – certamente o mais forte – na imprensa brasileira na luta pela volta das eleições diretas para presidente da República, uma das suas frentes na batalha contra a ditadura. Está nos seus cartuns, nas suas crônicas, nas suas entrevistas, nas suas charges, nas suas Cartas a Mãe, na engrenagem do combate, sublime conspiração. Fez dupla com  Teotônio. O senador já doente por conta de um câncer, não conseguiu escapar  da convocação de Henfil. Fez-se uma dobradinha cívica emocionante.

Dênis de Moraes, que escreveu a biografia de Henfil, “O Rebelde do Traço”, conta: “Henfil interpôs-se como anjo rebelde na peleja de Teotônio contra a morte, e não apenas por solidariedade humana. O ‘grão-senhor como mel de coração’ – como Otto Lara Resende pintou o senador alagoano – representou para Henfil uma espécie de farol no vale de tépida mediocridade da política brasileira. Ambos odiavam a facilidade dos falsos consensos e os arremedos de solução para os conflitos. Não se ajustavam a armaduras partidárias e personificavam a crença num futuro que  não durasse muito tempo”.

Henfil queria que Teotônio fosse o candidato a presidente da República. No carnaval de 1983 se mandou para Alagoas para entrevistá-lo. A entrevista foi publicada no Pasquim, em março, ocupando quatro edições (uma para cada capítulo) E dela surgiu  a legenda que iria definir a campanha das eleições diretas: “Diretas-já!”. A frase ganhou o país, estampado nas camisetas e faixas. À frase, Henfil completou com um desenho  de Teotônio Vilela, chapéu-coco  na cabeça, corpo inteiro, em pé, erguendo uma bengala. O desenho se reproduziu nas camisetas de milhares e milhares de manifestantes pelo país afora.

Em 1984, Henfil publicou o livro “Diretas Já!”, pela Record, uma edição graficamente modesta, franciscana. Textos, desenhos, charges, tiras. Numa das crônicas (há várias  Cartas à Mãe) Henfil conta essa viagem a Alagoas para visitar Teotônio Vilela e mais uma outra, esta última para os funerais do Menestrel:

“Carnaval de 83. Eu e a Lúcia subimos pras Alagoas com o amigo recente: Teotônio Vilela. Fomos para o Cumbe, perdidos no labirinto dos canais, com os pés na água, como era do agrado dele: ‘Isto é que a vida do cidadão decente, democrático’. Eu sabia, ele sabia, era uma despedida. ‘O câncer estava se espalhando feito boato’, dizia antes de decidir se ia rir ou não. Riu. Eu não. Não estava acostumado com o tirinete.”

Henfil continua:
“E assim foram as três noites seguintes. Bastava ligar o gravador para o homem sair do torpor e virar um tribuno em chamas, um profeta da salvação”. Teotônio Vilela morreu no dia 27 de novembro de 1984, no mesmo dia do comício que o PT realizava  em São Paulo, o primeiro comício do partido pelas Diretas Já. Está contado assim no livro de Dênis de Moraes:

– Na noite de 27 de novembro, em frente ao estádio do Pacaembu, o PT patrocinou o primeiro comício pelas diretas em São Paulo. A convite de Lula, Henfil subiu ao palanque montado na praça Charles Muller. Vestia uma camiseta com a figura destemida de Teotônio. Lula contou-me como os dez mil presentes souberam da morte de Teotônio, ocorrida pouco antes: “O senador Fernando Henrique Cardoso estava com medo de ser vaiado, porque se dizia que ele já articulava, nos bastidores, a candidatura Tancredo Neves ao Colégio Eleitoral. Para discursar, Fernando Henrique anunciou a morte de Teotônio ao microfone”.

Olhe a chuva
Boas chuvas no Oeste e no Seridó. As máximas no boletim da Emparn chegam à casa dos 90 milímetros, como em Florânia (Sítio Jucuri, 94), mas nos blogues regionais  tem chuva passando dos 100, em fazendas e sítios, como ocorreu em alguns pontos do município de Currais Novos. Lá por exemplo, o Rio Barra Verde desce com cheia no rumo do Açude Gargalheira, do Acari. O Rio Potengi, que nasce em Cerro Corá, chegou à cidade de São Tomé com cheia (a primeira deste ano), passando por Barcelona no rumo da Barragem de Campo Grande, em São Paulo do Potengi, segundo o blogue de Silvério Alves.

Mais chuva
Na região Oeste as chuvas de segunda-feira para o amanhecer de ontem foram mais fortes em Upanema, 82 milímetros, Mossoró, 74, Campo Grande de Apodi, 69, Governador Dix-sept, 59, Caraúbas, 53, Itaú e Tibau, 47. Janduís, 45, Felipe Guerra, 44, Assu, 40, Paraú, 39, Jucurutu, 37, Ipanguaçu, 30. No Seridó: Florânia, 94, Cerro Corá, 57, Currais Novos, 41, Tenente Laurentino, 38, Santana do Matos, 35, Lagoa Nova, 25, Carnaúba dos Dantas. No Sertão Cabugi:  Pedro Avelino e Pedra Preta, 60, Angicos, 27, Fernando Pedrosa, 21. No Agreste, Campo Redondo (Polícia Rodoviária), 78, Campo Redondo (Emater), 66, Jandaíra, 17. Em Baia Formosa, Litoral Sul, 56.

Arte
Se você estiver pensando em dar uma esticada até o Campus da UFRN, passe pela Galeria Convivart, dê uma paradinha e veja a exposição “Sentidos”, da artista plástica Raquel Lima. Vai até o dia 9 de maio.

Chico
Deu na coluna de Ancelmo Gois:

– Chico Buarque, um apaixonado por futebol, embarcou neste final de semana para Paris e só retorna após a Copa. Vai ficar por lá para poder se concentrar e terminar o novo romance, e assistir aos jogos pela televisão.

Felomenal
A propaganda do governo Rosalba na tevê é  simplesmente “felomenal”.

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