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Essa brincadeira vai virar patrimônio

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Tádzio França – repórter

O que eles fazem é chamado de ‘brincadeira’, mas representa um elemento importante da cultura popular de algumas partes do Nordeste. O Rio Grande do Norte está incluído no rol de estados regionais que pediu o registro do mamulengueiro – o nosso João Redondo – como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Ainda não se chegou a uma decisão, mas a iniciativa mostra como a atividade se mantem viva, e mais organizada do que se pensa. Os brincantes e seus companheiros coloridos de madeira também ganharam mais espaço na programação do Agosto da Alegria 2012, através do 2º Encontro de Bonecos e Bonequeiros do Teatro de João Redondo, que começa nesta quarta-feira e irá até sábado, com apresentações em espaços variados da cidade.
Em vias de ter o registro de Patrimônio Imaterial, atividade do João Redondo do RN se mantém viva e organizada em associação, na internet e festival
Trinta mestres bonequeiros foram reunidos para o encontro, e se apresentarão entre feiras livres, instituições e eventos diversos ao longo da semana. Também haverá rodas de conversa, palestras e workshops com convidados nacionais. A presença dos brincantes no Agosto da Alegria cresceu desde o ano passado, devido ao trabalho que a Associação Potiguar do Teatro de Bonecos (APOTB) vem fazendo desde 2009, inventariando, organizando, divulgando e conectando todos os mestres em atividade no Estado.

“O Rio Grande do Norte tem o maior número de brincantes em atividade no país, superando Pernambuco, Ceará, Paraíba e Brasília, os estados que pediram o tombamento da atividade junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, afirma Graça Cavalcanti, presidente da associação. Segundo ela, o reconhecimento poderia gerar uma salvaguarda melhor para esses artistas, na maioria oriundos de cidades do interior e comunidades carentes.

A associação potiguar procura organizar e também movimentar a atividade no Estado, inscrevendo os brincantes em editais, e inventariando aqueles que estão em atividade. Boa parte deles pode ser conhecida através do site da APOTB. Há fichas com informações, portfólios, contatos e vídeos dos brincantes em atividade, podendo, a partir daí, contratar esses artistas para se apresentar em ocasiões diversas. As malas com os bonecos estão sempre dispostas para se abrir e atuar. O inventário realizado pelo Iphan também mostrou que a atividade se renova.

A maior parte dos brincantes é formada por homens com mais de 50 anos, mas que passam seu conhecimento aos mais jovens – uma característica da atividade. A maioria dos bonequeiros está no interior do Estado; na capital há cinco registrados. Um total de seis bonequeiros jovens estão em ação no Estado. O processo de tombamento ainda está passando pela comissão avaliadora do Iphan. O estudo é lento e minucioso, ainda mais por envolver cinco estados. “Espera-se   que o resultado saia ainda esse ano”, afirma Graça Cavalcanti. Ela ressalta que há um sentimento comum de insegurança por parte desses artistas, que precisam de garantias para sobreviver no mercado. “Os brincantes temem por seu futuro, daí é importante garantir uma salvaguarda para eles. É a melhor forma de garantir que essa cultura vai continuar”, explica.

TRADIÇÃO E MODERNIDADE ESTÃO NO II ENCONTRO DE BONECOS E BONEQUEIROS

O cenário atual de brincantes tanto se movimenta, que permite a absorção do contemporâneo aos elementos tradicionais. O 2º Encontro de Bonecos e Bonequeiros trouxe convidados que vão representar essa contemporaneidade entre os brincantes. A troca de experiências é um dos objetivos maiores do evento. “Queremos aproximar esses grupos que, em essência, trabalham o João Redondo, mas cada um com suas particularidades”, disse Graça Cavalcanti.

A programação começa hoje (quarta) com uma ‘brincadeira’ na Feira do Carrasco com os brincantes Tio João da Quadrilha, Felipe e Aderso, a partir das 8h; e a à noite, das 19 às 21h, apresentação no pátio do Palácio da Cultura, com Heraldo Lins, Chicó, Genildo Matheus e João Viana. A abertura oficial do encontro será na quinta-feira, às 8h30, no pátio do Teatro Alberto Maranhão. O bonequeiro pernambucano Danilo Cavalcanti se apresentará na ocasião e vai mostrar seu Mamulengo da Folia, que mescla a brincadeira nordestina com elementos urbanos. Danilo, um dos artistas mais articulados do país no segmento, promove há três anos o Encontro de Mamulengos de São Paulo.

Na quinta-feira também haverá um workshop com a atriz e bonequeira cearense Ângela Escudeiro, das 14 às 17h, no pátio do TAM. Ela já participou de mais de 40 festivais de Teatro de Bonecos nacionais e internacionais, entre Espanha, Portugal, Suíça, França, Argentina, e em quase todo o Brasil. O debate no teatro discutirá como o fazer tradicional dos mestres poderá se aliar aos novos elementos que podem ser incorporados pela contemporaneidade. Segundo Graça Cavalcanti, a discussão serve como uma espécie de “reciclagem” proposta aos mestres. “Mas, claro, sem tirar as características essenciais das brincadeiras que eles fazem”, ressaltou.

Aos tradicionalistas, o conferencista Humberto Braga falará, na quinta às 9h30, sobre a  Memória do Teatro João Redondo, tendo como foco o trabalho de Deífilo Gurgel. A plenária também será no salão nobre do TAM. Haverá apresentações de bonequeiros todas as noites no pátio da Pinacoteca e na livraria Potylivros   (do Praia Shopping) até sexta-feira, e encerramento do encontro no sábado, na Feira do Alecrim, a partir das 9h, reunindo Dona Dadi, Manuel de Dadica, Manuel do Fole, Daniel, José Targino e duplas de todos os mestres.

Serviço: II Encontro de Bonecos e Bonequeiros do Teatro de João Redondo. De quarta a sábado, em diversos pontos da cidade.

Para conhecer os artistas, bonequeiros e brincantes visite o site  www.apotb.com

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