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Estações entregues ao abandono

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Sara Vasconcelos – Repórter

O sistema ferroviário da Grande Natal descarrila na precariedade e insegurança encontrada nas estações de trem. São plataformas deterioradas, falhas na cobertura, grades e portões corroídos pela ferrugem, lâmpadas saqueadas, muita pichação e sujeira. A insegurança, sobretudo à noite, é agravada pela falta de iluminação e de profissionais de segurança – o que facilita o consumo de drogas e furtos no local. A cena se repete ao longo em boa parte dos 58 quilômetros entre as linhas Norte e Sul, percorridos pela TRIBUNA DO NORTE nos últimos dias.
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Os usuários padecem ainda com a redução da frota. Desde outubro do ano passado, apenas uma locomotiva – que data de 1968 – está ativa. O resultado é a redução pela metade do número de viagens, que passou de 24 para 12 (oito na Linha Sul e quatro na Linha Norte), horários irregulares e milhares de passageiros prejudicados todos os dias. Nos últimos cinco meses, a demanda de passageiros atendida caiu de 9 mil para 4 mil, por dia, segundo dados da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no Estado.

Na Estação de Trem localizada entre os bairros de Cidade Satélite, na zona Sul, e Planalto, na zona Oeste da capital, um lixão se forma ao pé do muro esburacado. A podridão piora às quintas, dia de feira livre, quando se junta o descarte de restos de vegetais, vísceras e peixe . Na plataforma de embarque e desembarque de passageiros, uma cratera aberta na lateral serve, segundo moradores do entorno, como “motel” e esconderijo para assaltantes e usuários de drogas.

Apenas duas lâmpadas fluorescentes, próximo à bilheteria, respondem pela iluminação na área com três abrigos. “Eu deixei de viajar depois das 17h, porque é arriscado”, confessa Isa Pereira de Albuquerque. “Muita gente já foi assaltada aqui na estação e nos trens. É muito perigoso. À noite, ninguém passa aqui perto com medo de assaltos, estupros”, completa Francineide Costa.

A estação foi arrombada três vezes em um ano e a abertura no teto da bilheteria usada pelos bandidos em todas as investidas, permanece aberta aguardando os reparos. Alguns dos usuários ignoram as orientações básicas de segurança e se expõem a outros riscos, como uma senhora que permanecia nos trilhos enquanto o trem se aproximava.

Dentro dos vagões, seguranças armados resguardavam quem entrava e saía. Mas depois que a locomotiva parte o espaço fica entregue à própria sorte. Ao menos nos períodos da tarde e noite. O expediente do pessoal da segurança nas estações é das 5h30 às 14h30. Já o de funcionamento segue até às 19h30. Quem frequenta a estação após as 14h30 se arrisca.

Situação se repete em toda a cidade

Na tarde de ontem, uma equipe de manutenção terceirizada soldava a roleta e grades da Estação de Trem do Pitimbu. O local foi novamente alvo dos vândalos, que arrombaram a bilheteria no último final de semana. Não havia guarda, no período que reportagem esteve no local. Semana passada, a diarista Maria Pedro, de 55 anos, que vem duas vezes por semana de Parnamirim para o Pitimbu, quase foi assaltada enquanto esperava. “Um homem pulou a grade e veio na minha direção, corri para junto dos funcionários. Sorte não estava armado. Se estivesse teria feito mal a todo mundo”, desabafa.

A pichação, insegurança e abandono também são as principais queixas na Estação de Trem ProMorar, em Cidade Nova. “Você tira pela falta de ambulantes. Não tem um, nem pra vender uma água”, observa a dona de casa Maria José Guimarães, de 64 anos, que esperava há cerca de uma hora pelo vagão. Muitos dos usuários desistiram do meio de transporte depois dos assaltos e mais ainda pela irregularidade das viagens, devido a retirada de uma das locomotivas em outubro. “Meus filhos estão prejudicados para ir trabalhar. Só tem uma máquina e mesmo assim, o estado é precário”, acrescenta Maria José. Em Cidade da Esperança, o equipamento que serve à comunidade aparenta menos estragos.

A rampa de acesso na Estação de Santa Catarina, na zona Norte da cidade, está com a grade de proteção quebrada. Os sprays de pichadores também não pouparam o equipamento. O casal Rubiana Leite Silva e Leonardo Valentino da Silva que desembarcavam, reclama que em Extremoz a situação é mais degradante. A calçada da Estação está quebrada em diversos pontos, não existem bancos para sentar enquanto espera e a cobertura dos abrigos está esburacada, pontua Rubiana. “A noite é um breu só. Um perigo para quem precisa voltar pra casa”, comenta o marido.

Sem muros de proteção e situada em área isolada, a Estação de Nordelândia, parece ainda mais vulnerável a ação de bandidos – apesar do equipamento bem conservado. A estrutura facilita o acesso de pessoas “sem bilhete” aos vagões. Segundo moradores, é comum pessoas descerem da rua até os trilhos e entrarem no trem escondido. Na Estação de Nova Natal, há banheiros quebrados, sujeira e paredes pichadas. Maria Salete de Souza Pinto conta que já teve a cigarreira de lanches assaltada.

Em frente a Estação de trem do Alecrim, crateras se formaram rente a estrutura de sustentação da linha férrea  devido a força de um bueiro de esgoto que jorra, há quase um ano. A rua em frente, a Vereador Pereira Pinto, que fica alagada.  “Além de toda imundície nosso medo é de um acidente maior com um passageiro e mesmo que os trilhos afundem”, disse o ferroviário Paulo Ferino, que mora ao lado da estação. Ele lamenta que os comunicados a CBTU e a Caern continuem sem resultados. 

Passageiros reclamam da redução da frota

Desde outubro, a redução da frota de trens que conta hoje com apenas uma locomotiva para fazer a linha Sul (Natal-Parnamirim) tem causado prejuízos a população. O custo mensal com uma tarifa de R$ 0,50, nos trens, salta para R$ 3,50 em ônibus para quem faz o trajeto Ceará Mirim-Natal.

A desativação da outra locomotiva para conserto se reflete ainda na superlotação de ônibus em Nova Natal. O problema, explica Maria Salete de Souza Pinto, é que o itinerário feito pelas linhas de ônibus (03, 28 ,64 e 10) não atendem somente o bairro, mas diversos loteamentos e bairros adjacentes. Sem contar que a frota é reduzida.“É um sufoco, o tempo e o dinheiro que você gasta nos ônibus torna maior o desrespeito”, lamenta.

Maria Lucinda de Souza Neto, 64 anos, espera a uma semana que o neto de 12 anos retorne de Parnamirim para casa, em Cidade Nova. “Os trens não tem horário certo e ele não tem dinheiro para voltar de ônibus”, diz a dona de casa, que esperava a mais de um hora, na Estação Promorar, em Cidade Nova, a condução para ir buscá-lo. “O cobrador nem me vendeu a passagem por conta da incerteza se vai vir ou não trem”, acrescenta.

 Isa Pereira de Albuquerque diz não conseguir calcular o prejuízo. O trem facilitava as vendas porta a porta. Sem ele, entrega de encomendas e cobranças deixaram de ser feitas e ela perdeu clientes,  nos últimos quatro meses. “Estou numa situação difícil”. Para ela, além do custo baixo (R$ 0,50 a tarifa) o trem tem a vantagem de fazer ser mais ágil. “Daqui para Parnamirim gasto apenas 12 minutos. De ônibus, tenho que pegar dois, pago mais e levo no mínimo 40 minutos”, observa a moradora do Planalto.

CBTU culpa vândalos por deterioração

A Companhia Brasileira de Trens Urbanos no Estado (CBTU), por meio da assessoria de imprensa, informou que a ação dos vândalos é a causa do mau estado de conservação. No ano passado, boa parte dos equipamentos passou por melhorias e reformas. Contudo, fiação, lâmpadas e outros equipamentos são constantemente furtados.

A assessoria de Imprensa do órgão informou ainda que nas estações de Nova Natal, Nordelândia, ProMorar, Igapó, Santa Catarina, Extremoz, Pitimbu e Cidade da Esperança existe segurança nos horários já descritos. Restrições orçamentárias, segundo o órgão, impede o aumento na contratação de pessoal e horário estendido. A segurança 24 horas ocorre apenas nas Estações Central (Natal), Ceará-Mirim e Parnamirim.

As tubulações de esgotos da estação de Trem do Alecrim foram vistoriadas e fotografadas por técnicos da CBTU, que fará a limpeza local. A solicitação de serviços à Caern e Semurb será encaminhada até amanhã. De acordo com a CBTU não há risco de desabamento da linha férrea.

 Ainda não há prazo definido para regularização do tráfego dos trens. De acordo com a assessoria de imprensa, o retorno depende do conserto da locomotiva, que teve o eixo e o motor central quebrados. A Empresa Natal Freza, contratada para retificar o eixo não conseguiu concluir o serviço, no prazo de 75 dias, devido a complexidade do trabalho e material. O contrato de R$ 14 mil expirou ontem, dia 15. A Companhia aguardava o envio de aditivo para renovação por mais 30 dias. O serviço de montagem será feito pela CBTU. A Companhia estuda a contratação ou cessão, junto a outras companhias, de uma locomotiva para amenizar o problema no tráfego.

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