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Este ano, já são 104 assaltos a ônibus

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Ricardo Araújo – repórter

Insegurança, escuridão e desconforto. Esta tríade compõe, diariamente, o percurso de  determinadas linhas de transporte público em Natal e região metropolitana. Assaltantes se utilizam destas vantagens e, em alguns casos, da impunidade para praticarem furtos e roubos. A maioria deles, praticados à mão armada, sem distinção de turnos. Os relatos de assaltos e atos de violência dentro das conduções são comuns e ocorrem, costumeiramente, em horários nos quais poucos passageiros ocupam o veículo. 

 Viajar em ônibus na Grande Natal - antes uma ação tranquila - está ficando perigoso. Empresas investem em monitoramento eletrônicoEm Natal, de acordo com o Setor de Estatísticas do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (Seturn), já ocorreram 104 assaltos entre janeiro e setembro deste ano. Cinco deles, no fim de semana passado. Já na região metropolitana, somente na empresa Trampolim da Vitória, que realiza o transporte de pessoas entre Parnamirim, Macaíba e Natal, nove assaltos foram registrados entre os dias 4 e 17 deste mês. Os empresários e cidadãos vítimas dos marginais, contabilizam os danos.

“Já fui assaltada dentro do ônibus. Foi horrível. Eram dois homens. Um armado fazendo ameaças e o outro fazendo o arrastão. Eles se aproveitaram pois só tinha mulheres, além do motorista na hora da ação”, relatou a universitária Fernanda França. Ela detalhou sua experiência enquanto o ônibus da Linha J, o qual utiliza diariamente, fazia seu percurso que chega a durar até 140 minutos. A TRIBUNA DO NORTE acompanhou a viagem do Alecrim ao terminal da linha, em Parnamirim. Os usuários afirmaram que o trecho da BR-304 – entre o complexo viário de Parnamirim e o retorno próximo a uma fábrica de sorvetes – é o mais escuro e perigoso.

“Nós precisamos vir até este ponto, pois o retorno que tinha próximo à entrada do bairro Jockey Club foi fechado”, explicou o motorista que não terá a identidade revelada. Após entrar no bairro, as ruas escuras e esburacadas, retardam a viagem e se transformam num risco a mais para os passageiros. “Os bandidos se aproveitam do escuro, da marcha lenta. Eles colocam uma arma na nossa cabeça e levam tudo”, relatou o motorista.

O maior número de ocorrências, porém, são no mesmo local e em horários similares. A partir das 15 horas, quando a movimentação na rua Canadá, em Passagem de Areia, começa a diminuir, os marginais começam a manipular a próxima estratégia de assalto. Entre os dias 4 e 12 de setembro deste ano, foram quatro assaltos na parada em frente à Escola Municipal Manoel V. De Paiva. “Eu acompanho o horário dos ônibus pela internet e só saio de casa cinco minutos antes dele passar aqui. É muito perigoso”, ressaltou a dona de casa Francisca Pereira, enquanto subia na condução.

Os motoristas relataram que só realizam paradas em frente à escola quanto percebem que tudo está “tranquilo”. De acordo com o diretor da empresa Trampolim da Vitória, Eudo Laranjeiras, uma média de R$ 200 é levada pelos marginais em cada assalto.

 Além dos objetos pessoais e dinheiro dos passageiros, quando eles também são vitimados. “Os assaltantes conhecem o movimento dos ônibus. As linhas G e J, do ponto de vista dos ladrões, são as que transportam mais dinheiro”, afirmou o diretor.

Com o intuito de reduzir o número de assaltos e os recorrentes prejuízos financeiros, além dos danos psicológicos aos funcionários e passageiros, a direção da empresa decidiu investir em equipamentos de vigilância para os ônibus. Os casos de assaltos não se resumem, porém, aos ônibus que operam nas linhas intermunicipais.

 O diretor da empresa de Transportes Guanabara, Fernando Queiroz, afirmou que os proprietários de companhias de viação, passageiros, cobradores e motoristas, estão vivendo numa fase muito vulnerável em Natal. “Eu nunca tinha visto atentados como o da semana passada em 36 anos de experiência. A Polícia Militar precisa retomar a fiscalização aos ônibus, como fez no início do ano”, destacou.

Ações dos bandidos são filmadas

 A última ação dos assaltantes,  registrada pelas câmeras de segurança do ônibus da Linha J (Trampolim da Vitória), foi às 22h do dia 17/09, no cruzamento das ruas Pres. Sarmento e Manoel Bandeira, no Alecrim. No mesmo dia, algumas conduções que circulam em Natal foram alvos de atos de vandalismo. Ao todo, foram oito ônibus danificados pela ação dos vândalos.

Já na região metropolitana, as linhas escolhidas pelos assaltantes são sempre a G (que leva passageiros de Macaíba a Natal) e a J (que parte do bairro de Passagem de Areia com destino ao centro da capital). As duas linhas percorrem áreas de Natal e Parnamirim com histórico de violência, como assaltos e homicídios. Há, ainda, os casos de assaltos aos transportes alternativos.

Das nove ocorrências da Trampolim da Vitória, quatro foram registradas em Natal, uma em Macaíba e quatro no mesmo local, em frente à Escola Municipal Manoel V. de Paiva, no bairro Passagem de Areia, em Parnamirim.

Para tentar coibir a ação dos assaltantes, câmeras de segurança que captam a movimentação durante as viagens, foram instaladas em toda a frota. Todos os assaltos deste mês, conseguiram ser registrados pelo circuito interno das conduções. De acordo com Eudo  Laranjeiras, cerca de R$ 500 mil estão sendo investidos em equipamentos cujo intuito é dar mais segurança a funcionários e usuários do transporte coletivo.

Segundo o diretor, desde que as câmeras foram instaladas, o índice de ações dos bandidos reduziu. O titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Parnamirim, Graciliano Lordão, afirmou que ainda não havia sido comunicado dos assaltos cometidos contra os ônibus da Trampolim da Vitória neste mês. “Eu vou verificar a existência de boletins de ocorrência em relação a este assunto”, ressaltou o delegado.

Polícia Militar intensifica fiscalização

No primeiro dia útil após os atos de vandalismo, o Comando Geral da Polícia Militar colocou um efetivo extra nas ruas para fiscalizar e garantir a segurança dos usuários de transporte público em Natal e região metropolitana. “A fiscalização foi tranquila. Nós não apreendemos nenhum material suspeito e não detemos ninguém. Nós realizamos várias abordagens e a sensação de segurança entre a população aumentou”, ressaltou o comandante do Policiamento Metropolitano, coronel Wellington Alves.

Ele disse que as ações irão continuar sendo realizadas por um período de tempo indeterminado. “Somente após nos certificarmos de que tudo está sob controle, além da decisão do comandante geral, é que iremos suspender as fiscalizações. Do contrário, permanecem”, explicou. Os policiais deslocados para o trabalho de fiscalização noturna nos ônibus são os que estavam de folga. A mesma ação da Polícia Militar ocorreu no início do ano.

Em Natal, no dia 8 de janeiro, o motorista  da empresa Guanabara, José Ferreira de Morais, de 46 anos, foi assassinado após um assalto no prolongamento da avenida Floriano Peixoto, nas Rocas. José Ferreira foi morto ainda na cadeira de motorista, quando se levantou sem avisar aos assaltantes.

De acordo com dados da Polícia Militar, cinco homens participaram da ação. Dois deles adolescentes, um inclusive com três acusações de assassinato. Os cinco envolvidos foram presos. “Tive a informação de que um deles já estava solto na semana passada. Não podemos deixar que homicidas fiquem impunes”, comentou o diretor da Guanabara, Fernando Queiroz. José Ferreira foi cobrador, antes de ser motorista, e dedicou mais de 20 anos a transportar passageiros.

“Hoje a gente tem um apoio da Polícia Militar, mas ainda é pouco. Nós sentimos uma deficiência nos bairros periféricos, onde ocorrem a maioria dos assaltos. Nós pedimos uma atenção especial à  Polícia. É preciso mais patrulhamento”, destacou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes de Passageiros (Sintro RN), Nastagnan Batista.

Confira o vídeo:

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