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Falta rede especializada no interior

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Quase três meses depois de o Ministério da Saúde confirmar a relação entre o vírus zika e os casos de microcefalia na Região Nordeste, o Estado do Rio Grande do Norte –  que hoje tem 287 casos suspeitos de microcefalia relacionada a zika notificados, ainda não tem uma rede de assistência e reabilitação aos bebês que abranja todo o Estado. No interior, os atendimentos às crianças com microcefalia estão restritos aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf), que não têm equipes especializadas.

Dentro da construção da Rede de Atenção à Pessoa com Deficiência, segundo informou ontem a Secretaria Estadual de Saúde Pública do RN (Sesap), existem serviços descentralizados nas regionais de saúde para acompanhamento e reabilitação – os Centros Especializados em Reabilitação e Habilitação (CER) – antigo Centro de Reabilitação Infantil (CRI)). Mas estão habilitados apenas os CER da Região Metropolitana (CERHRN) e da 6ª Região de Saúde (Pau-dos-Ferros). Outros, que a Sesap não informou quais, aguardam habilitação.
Dos 70 bebês que tiveram a microcefalia associada à zika confirma, 23 são acompanhados pela equipe multidisciplinar do CER
Segundo a Sesap, cabe aos municípios onde residem as famílias de todas as crianças com suspeitas de microcefalia relacionada à zika a responsabilidade do acompanhamento, seja na Atenção Básica, por equipes da Estratégia Saúde da Família e pelos Nasf. A Sesap informou que, em parceria com a UFRN, será feita uma qualificação das equipes do Nasf.

#SAIBAMAIS#Das 70 crianças com microcefalia e/ou malformações, sugestivos de infecção congênita confirmada, 23 estão sendo acompanhadas pelo CERHRN e 45 pelo Hosped/HUOL, de acordo com dados do dia 1º de fevereiro, segundo informações da Sesap. Finalizado recentemente, o Protocolo Estadual da Microcefalia estabelece a rotina de atendimento. Ao nascer, os bebês identificados com microcefalia – apresentando menos de 32 centímetros de perímetro cefálico – são encaminhados para o Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL), para a realização de exames e dimensionamento do impacto da doença na evolução das crianças. No HUOL, as crianças passam por triagem auditiva, com exame do fundo de olho, ultrassonografia total, tomografia craniana e Acompanhamento de Crescimento e Desenvolvimento (ACD).

Depois, os bebês são encaminhados pela Central de Regulação da Sesap para o CERHRN, onde recebem o atendimento multiprofissional,  com estimulação precoce para os bebês, fonoaudiologia, psicologia e terapia ocupacional. Em Natal, a diretora técnica do CERHRN, Marilene  Soares, explica que a unidade já realizava o atendimento para crianças com microcefalia, mas que a demanda cresceu e a estrutura, tanto física, como de profissionais, é insuficiente para atender a todos os casos notificados no Estado.

Segundo ela, a maioria das 23 crianças atendidas no CERHRN são de Natal. Mas há pacientes de Ceará-Mirim, Serra de São Bento, Mossoró, Nova Cruz, São Gonçalo do Amarante, Caicó, Parnamirim, Arês e Brejinho sendo acompanhadas na unidade. “A demanda é maior que a estrutura física e de mão de obra. Sempre atendemos bebês com microcefalia, mas a demanda cresceu muito. Sabemos que uma equipe do Ministério da Saúde estará em Natal, ainda este mês, para cobrar medidas do Estado”, disse Marilene Soares. O Ministério da Saúde confirmou a relação entre zika e os casos de microcefalia no dia 28 de novembro de 2015. O Estado, segundo a assessoria de imprensa da Sesap, oferece além do acompanhamento no CERHRN, os exames laboratoriais, exames de imagem, de Emissão Otoacústica, avaliação oftalmológica com avaliação de fundo de olho.

“Nós precisamos nos ajudar mutuamente”
Diante da carência de informações por parte do poder público – que ainda não formou uma rede de atendimento especializado para as crianças com microcefalia relacionada ao zika vírus no RN – a advogada e socióloga, Marília Lima, de 40 anos, mãe do pequeno Artur, de apenas 3 meses e cinco dias de vida, está decidida a formar um grupo de mães de bebês com microcefalia.

“Nós precisamos nos ajudar mutuamente. A ideia surgiu diante da dificuldade que encontramos na busca de informações e tratamento. Muitos pais não sabem nem onde buscar ajuda. O grupo também poderá se tornar um suporte emocional para muitas. Em Pernambuco essas redes já existem de forma bem organizada”, disse Maríla, que esteve ontem no CER para fazer o cadastramento de Artur.

Ela contou que teve zika na sétima semana de gestação. “O médico passou um e só. Na ultrasson morfológica, com 23 semanas, nada foi detectado. Com 33 semanas veio a notícia e o choque, fiquei sem chão, pois sabia que o cérebro do meu filho estava afetado de forma devastadora”, desabafou.

Já a jovem Lindenai Maria de Oliveira deu a luz à pequena Andreia Beatriz de Oliveira Fonseca, agora com 3 meses de vida, na Maternidade Escola Januário Cicco, e após a confirmação de que a recém-nascida tinha microcefalia provocada pelo zika vírus a mãe foi encaminhada ao CER.

“Passamos por uma avaliação global, com psicólogo e fisioterapeuta. Tenho fé e esperança de que minha filha terá uma vida normal, apesar de algumas limitações e do desenvolvimento mais lento. Eu descobri que estava com dengue do quarto para o quinto mês de gestação, mas depois soube que na verdade foi o zika vírus”, afirmou Lindenai.

Sesap faz busca ativa por bebês sem atendimento
Dentre as crianças com suspeita ou diagnosticada com microcefalia, algumas ainda estão sem fazer o acompanhamento especializado, segundo a Sesap, por vários fatores. Entre eles, estão a dificuldade de inserção no sistema de regulação (agendamento) de consultas pelo município; a negação da doença pela família; e a mudança de domicílio, que dificulta a sua localização da família pela equipe de Estratégia de Saúde da Família – ESF.

Segundo a diretora do CERHRN, Marilene Soares,  o fato de apenas 23 bebês, dos 70 confirmados com microcefalia, estarem sendo acompanhando na unidade decorre de diversos fatores, inclusive porque falta informação aos pais. “Há ainda casos de mães que rejeitam o filho, sofrem de depressão pós parto, enfim, essas, com casos notificados, são buscadas por uma assistente social quando não comparecem ao CERHRN. Segundo ela, O CER tem o projeto ‘Criando Laços’ para dar suporte emocional às famílias.

A Sesap informou que as áreas técnicas de Saúde da Mulher e Saúde da Criança estão em contato telefônico e virtual com o profissional responsável pelo acompanhamento da criança no município, no sentido de identificar essa criança sem atendimento e dar início e seguimento ao seu acompanhamento, de modo que ela não fique desassistida nem pela equipe de referência especializada, nem pela atenção básica da sua área.

 A Atenção Básica do município deve realizar, segundo a Sesap, todo o acompanhamento da criança menor de 3 anos, que compreende o Crescimento e Desenvolvimento (CD), vacinação, estímulo ao aleitamento materno e apoio à família. A central de regulação do Estado regula os exames de alta complexidade, tomografia e ressonância. Os exames de média complexidade são de responsabilidade do município.

Segundo o Boletim Epidemiológico de 07/02, existem 287 casos de microcefalia com suspeita de associação ao zika vírus em 67 municípios (201 sob investigação, 70 confirmados e 16 descartados). Destes 14 evoluíram para o óbito após o parto ou durante a gestação, sendo 10 confirmados e 4 ainda em investigação.

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