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“Fazer rir é um trabalho dificílimo”

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Do palco do circo para o livro dos recordes. Do sorriso provocado pelas piadas à expressão de tensão com os perigosos saltos no cabo de aço. A trajetória do venezuelano Henry Ayala chama atenção pela diversidade e a atuação em dois extremos em curto espaço de tempo. No Circo Tihany, onde atua há um ano de meio, ele tem duas participações muito marcantes no espetáculo. O palhaço, “non sense” interpretado por Henry, é uma das principais atrações do circo.Mas o que poucos sabem é que o equilibrista que pula corda em um cabo de aço a 9 metros de altura e sem rede de proteção é o “mesmo palhaço”. Na platéia do mundo inteiro Henry Ayala provoca muitos sorrisos e também aplausos, pelo palhaço que apresenta, mas também no trabalho de equilibrista. Duas atuações que já lhe renderam repercussões internacionais. Ele é conhecido como o “príncipe dos palhaços”, título dado por jornalistas ingleses. Quando fala da arte de fazer sorrir, Henry Ayala chega a emocionar o espectador, para ele é gratificante fazer sorrir o adulto e mostrar a criança que há em cada um. No papel de equilibrista ostenta dois recordes mundiais: em um minuto deu 211 pulos de corda em cima de um cabo de aço; e ainda fez 1.105 pulos sem parar.  Por essas duas estatísticas ele figura no Guiness Book. A fama do palhaço e do equilibrista, ambos concentrados em Henry Ayala, pode até surpreender muitos, mas basta uma rápida conversa com esse venezuelano para perceber a persistência e obstinação. Aos 32 anos recém completados, o artista já se coloca um novo desafio: percorrerá os 1.400 metros do cabo do bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Medo? Não, essa palavra não há no vocabulário de Henry Ayla. O que ele demonstra é empolgação.O palhaço equilibrista, ou o equilibrista palhaço, traz alegria e prazer com o próprio trabalho, o que reflete diretamente no palco. Seja com as palhaçadas ou com os números de equilíbrio, Ayala congrega muitos aplausos para o palco, o reconhecimento pelo grande artista.O nosso convidado de hoje do 3 por 4 é um palhaço singular, um equilibrista que se tornou recordista mundial, um homem que demonstra o grande coração, um artista empolgado com sua arte, uma pessoa simples e de fino trato, um cidadão do mundo que encanta com a arte, seja de piadas ou de equilíbrio.Com vocês, Henry Ayala:

A trajetória do palhaço venezuelano Henry Ayala chama atenção pela diversidade e a atuação em dois extremos em curto espaço de tempoComo ser palhaço, como fazer sorrir as pessoas?

Na profissão circense uma das  mais difíceis é a de palhaço. Fazer rir as pessoas é um trabalho dificílimo porque não é como um número de equilíbrio, de malabares porque aí você pode treinar essa apresentação e mostrar ao público. Com palhaço é algo que você aprende a cada espetáculo, não é ensaiar e apresentar. É preciso escutar, observar a reação das pessoas. Você vê se estão gostando ou se é preciso mudar. Cada apresentação é diferente.

Você afirma que cada apresentação é diferente. E qual um caso que tenha lhe surpreendido?

São muitas coisas diferentes. Tem casos bons, casos ruins. Tenho muitas lembranças boas. É o caso de usar um erro para fazer uma apresentação depois. É um número que faço com minha esposa. Ela usava uma peruca  na apresentação e durante o espetáculo saiu a peruca  e eu fiquei com o cabelo na mão. As pessoas riram muito. Não foi culpa minha, foi um erro, mas terminou que coloquei isso no espetáculo. Agora eu apresento todos os dias.

A sua apresentação chama atenção porque você não fala nada, mas todas as pessoas lhe compreendem e sorriem com suas piadas. Isso é “mágica”?

Isso é um dom que tenho para poder apresentar algo sem falar e todo mundo entende, crianças e adultos. É algo que vem de dentro, algo especial, um pouco de magia, que vem de dentro mesmo. Aprendi isso porque meu maior ídolo é Charles  Chaplin. Desde pequeno olhava Charles Chaplin e gostava de ver. Observava que ele não falava nada e eu entendia tudo ainda pequeno. Era algo muito gostoso. A mímica me chamava muita atenção. Ser palhaço de forma muda é algo que me encanta. Tem também os Três Patetas que eu gosto, eles fazem palhaçadas muito bacanas. Eu sempre busquei fazer minhas apresentações sem falar. E nisso também tem outra vantagem: assim eu posso trabalhar em qualquer parte do mundo. Se trabalho na China ou no Brasil as pessoas irão me entender da mesma forma.

Mas não se torna complicado ser palhaço sem falar?

Eu creio que é mais difícil sem falar porque quando eu falo o idioma, faço uma piada, ou coloco uma voz cômica é mais fácil as pessoas riem. Sem falar, é tudo em mímica, expressão de cara, o gestual, as pessoas vêem, mas não escutam nada. Graças a Deus estou me saindo bem.

O que lhe ajudou a ser palhaço?

Somos de cinco gerações de circo na minha família. E sempre na minha família tinha pessoas palhaças ou equilibristas. Meu tataravô era palhaço, meu pai também foi palhaço. Parte da minha família também é equilibrista. Meu pai é equilibrista, minha mãe equilibrista. Então eu tenho sempre aprendido. Primeiro comecei como equilibrista desde muito pequeno, aos quatro anos.

E como descobriu o palhaço?

Também desde pequeno. O trabalho de palhaço me encanta. Quando tinha 12 ou 13 anos eu comecei a trabalhar. Então, fazia algumas palhadas, mas eram coisas pequenas. E depois estava trabalhando em um espetáculo em Londres e não tinha palhaço na apresentação. Então eu disse que fazia um pouco de palhaço e me ofereci enquanto o outro palhaço não chegava. Assim comecei a ajudar o espetáculo já que o palhaço ainda não tinha chegado.

Qual o perfil de pessoa que é mais difícil o palhaço fazer sorrir?

Sempre o adulto é mais difícil. O adulto sempre diz que não pode sorrir porque é adulto. Mas com alguns minutos a gente consegue tirar a criança que está dentro do adulto e sai a risada porque todos somos crianças. Gosto muito quando faço sorrir uma senhora de 80 anos, de 90 anos. Isso é muito bonito porque fazer sorrir uma senhora é difícil.

Falamos de palhaço, mas vamos enveredar agora pelo seu trabalho de equilibrista. Você não tem medo da morte, já que faz seu equilibrismo a 9 metros de altura e sem rede de proteção?

Cada espetáculo é um risco muito grande.  Desde quatro anos que faço isso. Meu pai foi um bom mestre e aprendi muitas coisas com o tempo. Sei que é muito perigoso, mas tenho muitas horas, muitos anos de ensaio para poder chegar a fazer esse trabalho.

Mas tem medo de morrer?

Não. Sei que é um risco muito grande. Quando eu estou trabalhando eu não penso nisso. Quando estou caminhando a 9 metros de altura não tenho que pensar nisso, estou lá e faço o meu trabalho. Então não tenho que pensar, penso em fazer uma boa apresentação, até porque é muito rápido, não dá nem tempo para pensar em outra coisa.

Já ocorreu algum acidente com você?

Comigo Graças a Deus não, mas meu irmão já caiu duas vezes. Foi um golpe muito duro, ele quebrou as duas pernas, as mãos, fraturou as mãos. Normalmente quando se cai termina muito mal, muito doente, pode até ficar com paralisia, pode até morrer ou afetar a cabeça. Meu irmão teve muita sorte porque não ocorreu nada de muito grave e ele não ficou com medo de voltar, hoje continua trabalhando como equilibrista. Você pode cair e depois ter medo como um acidente de carro, mas com ele (o irmão de Henry Ayala) não ocorreu. Ele seguiu adiante e hoje está trabalhando comigo no equilibrismo.

O que lhe alegra mais: ser palhaço ou equilibrista?

São duas coisas completamente diferentes. Equilibrista me alegra muito porque mostro as pessoas algo que elas acham perigoso. E palhaço é outra coisa, estou dando felicidade a outras pessoas e essa felicidade que passo ela também chega para mim. Por isso eu gosto muito. Os dois trabalhos me encantam.

O que mudou em sua vida depois que conseguiu o Guiness Book?

Eu tinha 11 anos e vi um programa em Londres e via muitos artistas e passou uma vez um jovem saltando cordas em cabo de aço. E o Guinesse dele era 300 pulos (no cabo de aço sem parar). Para mim isso era um número muito grande. Pensava como era algo incrível, quando eu ensaiava fazia 30 ou 40 e isso era muito. 300 era como impossível. Passou o tempo, e o Guiness passou a ser 700. Eu fiz o contato com Guiness e na Inglaterra fizeram toda organização e eu fiz 1.105 pulos. E na mesma semana fiz outro Guiness que era 211 pulos em 60 segundos.

O que busca agora?

Agora eu quero fazer algo no Brasil. Quero ir ao Pão de Açúcar (Rio de Janeiro) e subir pelo cabo do bondinho. Quero deixar minha marca no Brasil (é a primeira vez que ele está no Brasil). Vou organizar isso para esse ano, antes do final do ano. Vamos organizar e isso vai ser muito bom porque são 1.400 metros de comprimento e 394 metros de altura.

Qual a piada mais difícil que você faz no espetáculo?

Quando eu trabalho com o público e faço a música com eles. É difícil porque tenho que mostrar cada função para elas sem falar e quero que faça corretamente cada coisa.

A que você credita o título de “príncipe dos palhaços”?

Isso ocorreu na Inglaterra. Foi feita uma reportagem muito grande comigo depois de uma seleção sobre o melhor palhaço entre todos os circos de Londres. Colocaram em mim o título de príncipe do palhaço, dizendo que isso também era porque minha forma de vestir, de me apresentar era diferente das outras pessoas. Desde aí sempre, em todo lugar que chego as pessoas falam.

Detalhes

Sonho realizado: o Guiness para mim é um sonho realizado
De que tem medo: de não gostar do que faço
O que lhe faz sorrir: a felicidade de outras pessoas. Isso me dá muita energia.

Perfil

Henry Ayala Júnior é da quinta geração de uma família circense. O pai dele já atuou no circo no México e na Europa. No circo Tihany, em cartaz na capital potiguar, atua há um ano e meio. É palhaço, equilibrista e traz dois Guiness Book: em 60 segundos conseguiu dar 211 pulos de corda em cima de um cabo de aço a 9 metros de altura e conseguiu também dar 1.105 pulos de corda em cima do cabo de aço sem parar.

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