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Feliz Natal

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Alex Medeiros
Desejando um feliz natal a todos os leitores e amigos, além de todos os colegas que fazem a Tribuna do Norte, a Rádio Jovem Pan e o TN Online, compartilho hoje com vocês um poema do jornalista e escritor português José Jorge Letria, um profissional que atua na imprensa lusitana desde a década de 1970 e acumula prêmios e muitos leitores, não apenas em Portugal, mas também em parte da Europa e aqui no Brasil. Que a noite de natal seja de paz e harmonia.
Ode aos Natais Esquecidos
José Jorge Letria
Eu vinha, pé ante pé, em busca da pequena porta
que dava acesso aos mistérios da noite,
daquela noite em particular, por ser a mais terna
de todas as noites que a minha memória
era capaz de guardar, com letras e sons,
no seu bojo de coisas imateriais e imperecíveis.
Tinha comigo os cães e os retratos dos mortos, 
a lembrança de outras noites e de outros dias,
os brinquedos cansados da solidão dos quartos, 
os cadernos invadidos pelos saberes inúteis.
E todos me diziam que era ainda muito cedo,
porque a meia-noite morava já dentro do sono,
no território dos anjos e dos outros seres alados,
hora inatingível a clamar pela nossa paciência,
meninos hirtos de olhos fixos na claridade
enganadora de uma árvore sem nome.
Depois, o meu pai morreu e as minhas ilusões também.
Tudo se tornou gélido, esquivo e distante
como a tristeza de um fantasma confrontado
com a beleza da vida para sempre perdida.
Deixaram de me dar presentes e de dizer
que era o Menino Jesus que os trazia
para premiar a minha grandeza de alma,
o meu desejo de ser bom para os outros.
Passei a escrever sobre tudo isso, sofregamente,
só para não ter de escrever sobre a saudade
que esse tempo fugidio deixou em mim.
A árvore mirrou de frio num canto da sala,
os presentes apodreceram no sótão da casa,
juntamente com os doces da Consoada
que ninguém teve vontade de comer,
nem mesmo os mais gulosos como eu.
Um homem de muita idade bateu-me à porta
e depositou-me nas mãos um pequeno embrulho:
«Eis o teu presente de Natal» — disse-me.
Abri-o e vi um livro onde se contava
toda a minha vida desde o primeiro Natal
de que conseguia lembrar-me, tudo o mais esquecendo.
Ali estava eu de pé, muito quieto, junto da árvore,
à espera que alguém me viesse dizer
que o céu era pródigo em revelações e dádivas.
Era para lá que eu sonhava ir quando morresse.
Quando Dezembro se aproximar do fim,
lançarei pétalas ao vento como se tentasse
semear o perfume do que fui enquanto acreditei.
Talvez o homem volte com outro embrulho secreto,
só para me dizer que esse é o livro que ainda me falta escrever.
Então, juntarei os amigos, os filhos e os netos
numa roda de luz à minha volta e direi do Natal
o que os antigos diziam dos heróis e dos deuses:
foi à sombra deles que nos fizemos homens.
Quando eu partir de vez, lembrem ao menos
a ternura do meu sorriso de menino
quando a meia-noite soava no relógio da sala
e eu acreditava ainda que a felicidade era possível.
Interação
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, ocupou o vácuo deixado por Abraham Weintraub junto ao eleitorado fiel do presidente Bolsonaro. Nas últimas semanas, ele tem sido o único a dar atenção aos apelos da tropa.
Doutorado 
A professora Maria Luiza Galvão ganhou de si mesma um grande presente de natal: após mais de quatro horas de banca, sua tese de conclusão do doutorado, sobre energia eólica e sociedade foi aprovada com louvor na UFRJ.
 Vergonha 
Muitas vestais da geração órfã de Herzog são hoje um vexame no velho combate ao autoritarismo e à violação da liberdade de expressão. São reféns da militância e tratam dois presos com suas medidas por causa da causa.
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