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Figura dominadora de outrora

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Ticiano Duarte
jornalista

Em artigo anterior, nesta TN, recordei o “Assassinato do Presidente Parrudo”, crime ocorrido há 176 anos, em Natal e, ainda hoje impune. Segundo o mestre Cascudo, “nunca os criminosos foram presos e jamais a verdade sairá do poço.” Na conspiração que culminou com a morte de Manoel da Silva Lisboa, Parrudo, o chefe visível, conforme relatei no referido artigo, foi Estevam José Barbosa de Moura, rico proprietário do engenho “Ferreiro Torto”, ex-deputado provincial, governando o Rio Grande do Norte como Vice-Presidente, nos anos de 1841, 1842 e 1843.

Estevam Moura fora agredido por Parrudo, no gabinete governamental, após audiência que solicitara, a fim de cumprir missão delegada pela maçonaria de lhe fazer advertência sobre o seu comportamento administrativo, político e social. O incidente constrangedor obrigou que Estevam, a pedido de sua mulher Maria Rosa, saísse do Rio Grande Norte por um determinado período até que fosse vingado da humilhação sofrida, esbofeteado pelo truculento governante, conhecido pelo seu temperamento agressivo e violento.

Estevam José Barbosa de Moura nasceu em Taipú, em Janeiro de 1810 e faleceu em Macaíba, a 02 de Dezembro de 1891. Foi, num certo período, um dos homens mais ricos do Rio Grande do Norte. Cascudo traçou o seu perfil, como uma figura dominadora, “expressão legitima da aristocracia rural, senhor de vinte fazendas de gado, engenhos, escravaria incontável, baixelas de prata, os melhores cavalos de sela, sítios esplêndidos, currais de pescaria, todos os recursos econômicos e todos os direitos feudais.”

Era maçom, iniciado em 25 de Março de 1837, na Loja Maçônica “Sigilo Natalense”, que precedeu a Loja “21 de Março”. Tinha ao tempo, 27 anos de idade e seu nome maçônico – Virgilio. Em 1838 foi nomeado coronel da Guarda Nacional. O seu pai, Manuel Teixeira Barbosa, governou a Província por três vezes, membro do Conselho do Governo e do Conselho Geral da Província, presidente da Câmara Municipal, “poderoso, influente, autoritário”, escreve Cascudo, “dera-lhe ambiente de príncipe herdeiro”. A sua esposa era filha única do coronel Joaquim José do Rego Barros, senhor do “Ferreiro Torto”, revolucionário de 1817, “membro do governo de André de Albuquerque Maranhão, presidente da Junta Constitucional Provisória, administrando de Dezembro de 1821 a Fevereiro de 1822.”

O coronel Estevam, repito, tinha uma grande fortuna, “rebanhos imensos, fazendas incontáveis, pilhas de moedas de ouro”, informa ainda Cascudo, ao escrever sobre as grandes figuras do Império e da Republica, no livro, “Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte”. Mas o que impressiona na biografia do coronel Estevam Moura é que ele morreu paupérrimo, ignorado, esquecido. E o próprio Cascudo confessa: “Deus sabe o que me custou descobrir vestígios de sua biografia, duma vida que era gloria verbal no seu tempo de prestigio, de riqueza e de fausto”. As suas terras enrolavam municípios inteiros atuais. Gostava de uma boa mesa, dos bons vinhos, das “mais saborosas iguarias.”

Em 30 de Novembro 1871 aderiu ao Club Republicando do Rio de Janeiro. Quando, em 27 de Janeiro de 1889, Pedro Velho fundou o Partido Republicando, em Natal, o coronel Estevam Moura estava presente, firmando solidariedade. Cascudo lembra ainda sua figura pequena, de cor morena, magra, de fisionomia triste, “reservado e cortês, viera do Brasil Vice Reino e vivera três anos no período Republicando”. O seu sogro foi um dos chefes da revolução de 1817 e por ironia do destino assistira a pose de Pedro Velho, na Republica, “distante colateral de André de Albuquerque Maranhão, martirizado.”

Seu nome foi quase totalmente esquecido, não fosse o trabalho de Cascudo, escrevendo a História da nossa Assembléia Legislativa.  

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