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Força-tarefa em prol da leitura

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Itaércio Porpino
repórter

O que é preciso fazer para a população natalense ler mais? A pergunta não tem só uma resposta, mas várias. E elas estão sendo dadas pelos próprios moradores da cidade para a elaboração do Plano Municipal do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas de Natal. Além de todas as sugestões colhidas junto aos mais diversos públicos, incluindo, obviamente, pessoas do meio literário, o Plano ainda será subsidiado por uma pesquisa inédita na capital potiguar, que trará, entre outros dados, informações sobre hábito de leitura e renda da população.
Pesquisa inédita no Rio Grande do Norte vai apontar diagnóstico da leitura e buscar sugestões
Contratado pelo Instituto de Desenvolvimento da Educação (IDE) e C&A, o Instituto Certus ouvirá 800 moradores, a partir de 16 anos, nas quatro regiões da cidade. “A pesquisa vai gerar um relatório com dados que serão muito importantes não só para o Plano, mas também para termos informações reais de nossa situação, pois os números que conhecemos são nacionais”, diz a diretora executiva e coordenadora dos projetos na área de leitura do IDE, a educadora Claudia Santa Rosa. 

O Plano Municipal do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas de Natal está sendo elaborado por um grupo de trabalho criado por decreto baixado pelo prefeito Carlos Eduardo Alves em novembro de 2013, durante o Festival Literário de Natal.

O GT reúne distintos segmentos que têm relação com leitura e literatura. Além do IDE, fazem parte do grupo a Frente Parlamentar em Defesa do Livro e da Leitura da Câmara Municipal de Natal, o Fórum da Rede Potiguar de Escolas Leitoras, a Secretaria Municipal de Educação, a Fundação Capitania das Artes (Funcarte) e a Biblioteca Pública Esmeraldo Siqueira, a Fundação Fé e Alegria do Brasil, a União Brasileira de Escritores (UBE), o Fórum do Livro, Leitura, Literatura e das Bibliotecas do Rio Grande do Norte (FLEB/RN), o Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia (SMCT), o Instituto Cultural e Audiovisual Potiguar (ICAP).

“É um GT bastante representativo. Estou bem feliz com a composição e empenho de todos. Já realizamos os encontros regionais, em que ouvimos pessoas das mais simples a escritores e poetas. Perguntamos a elas o que é preciso ser feito para que a população de Natal leia mais; pra que Natal seja uma cidade de leitores. É a partir das sugestões, do que a população considera importante, prioritário, que o Plano sairá”, diz Claudia Santa Rosa.

Com o que foi ouvido dos moradores de Natal e os dados da pesquisa, que já está sendo feita pelo Instituto Certus, o passo seguinte é a redação do Plano. No final de julho ou início de agosto, o texto será apresentado em uma audiência pública na Câmara Municipal de Natal para ser apreciado e discutido.

A busca é por uma política pública de incentivo à leitura que ultrapasse a pontualidade dos projetos e programas. Eventos como o Festival Literário de Natal têm sua importância, mas passam. É preciso que haja continuidade, que a sociedade seja mobilizada para valorizar o livro e a leitura.

“Ler é condição para estar no mundo de forma crítica. Por isso, é importante democratizar a leitura; e uma rede de bibliotecas dinâmica, viva, é imprescindível para isso acontecer”, defende a representante do IDE, ressaltando que Natal tem uma grande carência de bibliotecas. Não bastasse isso, as poucas que existem não são de conhecimento da população.

“Em Natal, só temos uma biblioteca estadual, a Câmara Cascudo, que está fechada há anos. Já a Biblioteca Municipal Esmeraldo Siqueira, na Capitania das Artes, ninguém sabe da existência. A TV Câmara fez uma enquete no Centro da Cidade (bairro onde fica a Funcarte) e ninguém conhecia. Já as bibliotecas escolares são bem precárias. Quanto às comunitárias, não se tem um cadastro delas”, diz a educadora, que acredita ser possível Natal ter algo parecido com as bibliotecas-parque de Bogotá e Medellín, na Colômbia.

Nas duas cidades colombianas, a política de implantação de bibliotecas-parque tornou-se referência em desenvolvimento social e enfrentamento à violência urbana. No Brasil, a experiência está sendo “copiada” pelo governo do Rio de Janeiro, que vêm desenvolvendo um novo conceito de promoção do acesso à leitura e de formação de leitores, integrando o acervo bibliográfico a linguagens artísticas diversas, à produção cultural e às comunidades do entorno. “É de uma rede de bibliotecas vivas como essa que precisamos”, diz Claudia Santa Rosa, que chegou a visitar a Biblioteca Parque de Manguinhos, no Complexo do Alemão.

Correndo por fora, a Bibliosesc, um dos projetos mais interessante na área de bibliotecas itinerantes, ainda não participa do grupo de trabalho.

Emendas
À frente do IDE, a educadora desenvolve há mais de dez anos um trabalho voltado para a promoção do acesso à leitura e vê, no cenário atual, boas perspectivas. O entusiasmo, depois de muitos anos, tem a ver com o Plano Municipal do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas de Natal e também com os recursos assegurados para o desenvolvimento de uma politica pública para o setor.

Segundo Santa Rosa, a Frente Parlamentar em Defesa do Livro e da Leitura da Câmara Municipal conseguiu aprovar, no Plano Plurianual 2013, e o prefeito Carlos Eduardo sancionou duas emendas na pasta da Cultura que destinam R$10 milhões para a construção de quatro bibliotecas públicas – uma em cada região da cidade.

Já na pasta da Educação foi aprovada uma emenda de R$5 milhões e 600 mil para investimentos nas bibliotecas escolares. “Afinal, existe uma lei federal (a Lei 12.244, de 2010), que diz que até o ano de 2020 todas as escolas públicas e privadas do Brasil terão quer ter uma biblioteca”, lembra.

“A expectativa é grande. A Prefeitura está promovendo esse Encontro de Escritores e o Festival Literário de Natal, que são extraordinários, com grandes nomes do meio. Mas para isso tudo ter coerência, é preciso que a cidade tenha una política pública permanente. É necessário que os eventos estejam dentro de uma politica pública que forme leitor e plateia para eles”, conclui Santa Rosa.

PROPOSTAS
Sugestões da população e grupo de trabalho responsável pela elaboração do Plano Municipal do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas de Natal:

4 Biblioteca pública em cada região administrativa da cidade e bibliotecas itinerantes, além de projetos de formação de leitores a elas vinculadas;
4 Bibliotecas em todas as escolas municipais e CMEIs, sendo aceitável cantos de leitura nos CMEIs em que seja verificado a impossibilidade de estruturar a biblioteca;
4 Editais que estimulem a criação de bibliotecas comunitárias ou a implementação das já existentes;
4 Paradas de ônibus, estações ferroviárias, hospitais, praças e outros espaços contarem com suporte para acomodação de livros, quadrinhos, cordéis, revistas e jornais a serem utilizadas pela população;
4 Campanhas de sensibilização para que agências bancárias, clínicas, escritórios, shoppings centers e afins disponibilizem acervos de forma atrativa em suas salas de espera;
4 Campanhas publicitárias com pessoas lendo em diversos espaços (escolas, praças, ponto de ônibus, universidade, mercados, feiras, etc.);
4 Bienal do Livro, Feiras dos Sebos, Feira de Quadrinhos e Cordéis;
4 Concursos literários para crianças e jovens;
4 Editais para selecionar originais e publicar obras de escritores/autores que ainda não são conhecidos na mídia ou que ainda não tiveram a oportunidade de publicar seus trabalhos;
4 Prêmio anual para autores e obras editadas em Natal;
4 Incentivo fiscal para os distribuidores de livros, autores, editores e livreiros;
4 Contratação de bibliotecários para atuarem nas bibliotecas públicas e em polos de bibliotecas escolares;
4 Garantia de todos os direitos do professor em atividades de docência, ou seja, de mediação de leitura nas bibliotecas escolares
4 Destinação de orçamento anual para o programa de aquisição de novos títulos para as bibliotecas escolares;
4 Implantação de software que garanta a criação do sistema municipal de bibliotecas, envolvendo as públicas, escolares e comunitárias.

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