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Formiga parasita reforça ‘tese B’ da origem de espécies

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São Paulo (AE) – A descoberta de nova espécie de formiga parasita, feita no interior paulista, deu importante impulso para uma teoria alternativa de formação das espécies. Encontrada no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, a formiga – jamais observada em outro lugar do mundo – surgiu a partir da própria espécie hospedeira, na mesma colônia, segundo estudo publicado  na revista Current Biology. De acordo com a teoria clássica, espécies novas aparecem a partir do isolamento geográfico de um grupo. No entanto, o novo estudo traz evidências de um mecanismo de especiação até agora controverso: a nova espécie evoluiu a partir de formigas da mesma comunidade.
Mycocepurus castrator é destaque em revista científica
“É raríssimo encontrar esse mecanismo. A maioria das espécies surge a partir do isolamento geográfico de um grupo. Mas conseguimos forte indicação de que a especiação também pode acontecer dentro de uma mesma colônia”, disse um dos autores do artigo Maurício Bacci Júnior, pesquisador do Instituto de Biociências da Unesp. Também participaram do estudo pesquisadores das Universidades Harvard, de Rochester e do Museu de História Natural da Smithsonian Institution.

Especialista em formigas, Bacci descobriu a nova espécie em 2006, com o colega alemão Christian Rabeling, da Universidade de Rochester, ao escavar um formigueiro de Mycocepurus goeldii, espécie comum em toda a América do Sul. “Percebemos que havia formigas menores, o que geralmente é característica de parasitas”, explicou. Ao estudar o comportamento dos animais, os pesquisadores perceberam que a nova espécie – batizada de Mycocepurus castrator – é, de fato, parasita. Recebeu o nome de “castrator” por inibir a procriação da hospedeira. “Ela coloca todo o formigueiro a seu serviço. Enquanto as outras trabalham, ela come e se reproduz.”

Segundo Bacci, todas as formigas do gênero Mycocepurus são “agricultoras”: elas levam folhas para o formigueiro e as “plantam” em uma colônia de fungos, que degradam os vegetais. As formigas se alimentam dos resíduos. A M. castrator, no entanto, come o que as outras produzem e sua única atividade é procriar. “As hospedeiras continuam se reproduzindo, mas passam a gerar apenas formigas estéreis, que trabalham para a parasita”, explicou Bacci.

A M. castrator usa todo o sistema do formigueiro em seu benefício, sem ter de despender energia para outras tarefas além de gerar mais parasitas. “Ela não se arrisca fora do formigueiro, diante de predadores, nem para buscar comida ou para se reproduzir.”

De acordo com o cientista, para confirmar a origem da M. castrator, a equipe realizou um procedimento de datação com base em biologia molecular, relacionando o número de mutações a referências geológicas encontradas no formigueiro.

Com um teste estatístico, foi determinado que a M. goeldii surgiu há cerca de 2 milhões de anos, enquanto a M. castrator apareceu há apenas 37 mil anos. “Isso nos deu a evidência de um raro caso de especiação simpátrica, isto é, de surgimento de uma nova espécie sem presença de barreiras geográficas.”

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