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Futebol e a ditadura

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Woden Madruga [ [email protected] ]

O futebol e a ditadura andaram muito próximos na América Latina, mas essa ligação também acontece no regime democrático. A afirmação é do historiador e jornalista Lúcio de Castro durante uma das mesas (“Futebol e ditaduras na América Latina”) de debates da 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que está acontecendo em Brasília desde sexta-feira. Nessa mesma  mesa sentou-se o escritor uruguaio Eduardo Galeno que, às folhas tantas, numa entrevista à imprensa disse que o futebol aparece mais nas páginas de Economia do que nas de Esporte: “Quando abro as páginas dos jornais, sinto que estava lendo a editoria de economia. Afinal, ali só se falam dos valores dos passes de jogadores, como se todos tivessem um preço. Se houvesse respeito ao futebol, os atletas seriam respeitados e não confundidos com mercadorias”.

Eduardo Galeano, 73 anos, jornalista, está no time dos grandes escritores da América Latina. É autor do livro As Veias Abertas da América Latina, considerado pelas esquerdas como um dos clássicos entre as obras que tratam  da história e desenvolvimento econômico do continente, passando pelo carimbo da ação política de seus governantes. O livro foi publicado no Brasil (tradução de Galeno de Freitas) pela editora Paz e Terra, em 1977. O conselho editorial da Paz e Terra era formado por Antônio Cândido, Celso Furtado e Fernando Henrique Cardoso. O Brasil, claro, ocupa bons espaços por estas veredas abertas pelo escritor uruguaio.

Nesse livro, Eduardo Galeano tira um fino no Rio Grande do Norte. Está num dos subtítulos do capítulo “O rei açúcar e outros monarcas agrícolas”. O subtítulo é “A venda de camponeses”. A seca serve de mote para a análise de Galeano, no caso a seca de 1970. Um dos trechos diz:

“A seca de 1970 lançou multidões famintas sobre as cidades do Nordeste. Saquearam trens e lojas; aos berros imploraram chuva a São José Os flagelados lançaram-se na estrada.”

Galeano exagerou na caneta. Flagelado nordestino não berra para São José pedindo chuva. Reza.  O exagero pode ser atribuído ao tradutor. Mais adiante, no rastro dessa retirada dos flagelados, é citado o Rio Grande do Norte. Está escrito assim:

“Um telegrama de 1970 informa: “A polícia do Estado de Pernambuco deteve no último domingo, no município de Belém do São Francisco, 210 camponeses que iam ser vendidos aos proprietários rurais do Estado de Minas Gerais a 18 dólares por cabeça. Os camponeses eram provenientes da Paraíba e Rio Grande do Norte, dos estados mais castigados pela seca.”

Dos livros de Eduardo Galeano (são mais de vinte, e eu tenho quatro) o que gosto de acariciar é o que fala de futebol: “Futebol ao sol e à sombra”, tradução de Eric Nepomuceno e Maria do Carmo Brito, edição da L&PM, de 1995. Deliciosas crônicas que fazem lembrar, no estilo, uma troca de bolas entre Nelson Rodrigues – Paulo Mendes Campos – Carlos Drummond de Andrade – Armando Nogueira. Nos textos de Galeano estão escalados grandes craques brasileiros, entre eles, Leônidas, Ademir, Domingos da Guia, Zizinho, Friaça, Nilton Santos, Jairzinho, Sócrates, Romário, Pelé, Vavá, Zico, Heleno de Freitas, Falcão, claro, Garrincha. Confira este canto sobre Garrincha:

Gol de Garrincha
“Foi em 1958, na Itália. A seleção do Brasil jogava contra o Florentina, a caminho do Mundial da Suécia.

Garrincha invadiu a área, deixou um beque sentado e se livrou de outro, e de outro. Quando já tinha enganado até o goleiro, descobriu que havia um jogador na linha do gol: Garrincha fez que sim, fez que não, fez de conta que chutava no ângulo e o pobre coitado bateu com o nariz na trave. Então, o arqueiro tornou a incomodar. Garrincha meteu-lhe a bola entre as pernas e entrou no arco.

Depois, com a bola embaixo do braço, voltou lentamente ao campo. Caminhava olhando para o chão, Chaplin em câmara lenta, como que pedindo desculpas por aquele gol que levantou a cidade de Florença inteira.”

Leônidas de Paula
Da noite de sábado para domingo parou o coração de Leônidas Ferreira de Paula, empresário do campo, raízes plantadas na agricultura e pecuária com segmentos na indústria de laticínios. Líder nato dirigiu várias associações. Foi presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Norte, presidente da Associação de Criadores do Rio Grande do Norte (Anorc), presidente do Sindicato a Indústria de Laticínios,  presidente do Conselho Administrativo do Sebrae, diretor da Fiern. Exerceu ainda o cargo de Secretário de Agricultura e Pecuária do Estado do Rio Grande do Norte.

Cordial, bom administrador, eficiente, bom papo, simples. Tinha 70 anos. Seu sepultamento aconteceu na manhã no cemitério Morada da Paz, em Emaús, com grande acompanhamento.

Chuva
Chuvas médias no final de semana, mais concentradas no Oeste e Seridó, acumuladas de sexta-feira para o amanhecer de ontem: Paraú, 76 milímetros, Patu, 36, São Francisco do Oeste, 30, Rafael Fernandes e Coronel João Pessoa, 28, Upanema, 26, Portalegre e Viçosa, 20 (Oeste). No Seridó: São João do Sabugi, 23, Ouro Branco e Florânia, 12, Cruzeta, 11, Santana do Matos, 10.

Ariano
O escritor Ariano Suassuna, que é um dos homenageados da 2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, que se realiza em Brasília, será o palestrante de hoje, noite de lua cheia sobre a Esplanada.  A Bienal segue até o dia 21, consagrado a Tiradentes.

Bazar
Foi aberto ontem e vai até quinta, 17 (das 9 às 19 horas), o Bazar de Páscoa montado no Espaço Renata Motta Gastronomia, que fica na rua Monsenhor Honório, 218, no Tirol.

Profeta
Ainda do escritor Eduardo Galeano, vidrado em futebol, diante das críticas de que a Copa da Fifa vai fracassar por conta do atraso das obras, e dando corda no seu otimismo:

– Não acredito nos profetas bíblicos, muito menos nos profetas esportivos.

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