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General Junkie volta a ativa

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Yuno Silva – repórter

“Vão ligar pra te encontrar / Te encontrar pra perguntar / Perguntar em que lugar você está / Temporariamente / Tempo, área, mente…” Se você, caro leitor(a) incauto, lembra de ter ouvido em algum momento de sua vida noturna o trecho acima da música “Sinfonia celular”, um rock sujo e rasgado da banda General Junkie, certamente já passou dos trinta e poucos anos e circulou pelos principais redutos do underground natalense nos anos noventa. O power trio, afastado dos palcos desde o início deste século, retorna nesta sexta-feira (4) para um show especial na abertura do Festival DoSol 2011. A apresentação, que será gravada em áudio e vídeo para futuro lançamento de um CD e DVD ao vivo, acontece no Centro Cultural DoSol, às 23h, e o acesso será limitado para convidados e para as 300 primeiras pessoas que adquirirem a temporada do festival que acontece este fim de semana na Ribeira.

Uma das bandas mais emblemáticas do chamado rock potiguar no final do século passado,  General Junkie está de volta e abre oficialmente o Festival DoSol.
A banda, que já se chamou General Lee no início da carreira e precisou trocar de nome por ser homônima ao grupo que acompanhava a cantora e apresentadora Eliana (aquela dos dedinhos), surgiu em 1987 e desde 1994 tem formação fixa com Gustavo Lamartine (40) na guitarra, Paulo Souto (40) no baixo e Marcelo Costa (37) na bateria. Juntos eles protagonizaram um capítulo importante da cena roqueira natalense, e juntos apresentam uma mistura explosiva de rockabilly e repente apelidada de “repente billy” por um crítico do Sudeste do país que testemunhou um show do grupo há quase vinte anos.

O fato é que, na verdade, independente de rótulos, o General descarrega o bom e velho rock’n roll e ataca o público com letras viajandonas, humor (leia-se tiração de onda) e boas doses de um regionalismo que corre léguas do lugar comum. A banda era fácil de ser vista em lugares como a boate Máximo, ali na Ladeira do Sol, ou no Bali Bar, beira mar de Ponta Negra.

Apostando na possibilidade de Natal também criar sua própria cena, inspirada, principalmente, no recém eclodido Maguebit (ou Manguebeat, como acabou ficando conhecido o movimento recifense que sintetizou maracatu com rock e catapultou Chico Science e Fred 04), o General Junkie chegou a ensaiar alguns experimentos sonoros, firmar parcerias com outras bandas locais e esboçar o “Movimento da Ema” — que nasceu dois anos depois no pátio externo da Funcarte. A iniciativa não vingou, mas entrou para a história por ter promovido o único show de Chico Science em Natal em 1994 no Centro de Turismo. Alguém aí lembra disso?

O corre-corre das produções e a dificuldade natural de se viver de música em uma cidade como Natal minaram a força dos integrantes, que viraram o século com interesses diferentes – a cidade não estava preparada para a reviravolta proposta pelo trio, e talvez hoje ainda não esteja. Diante desse quadro, a banda acabou enfraquecida e encerrou suas atividades ainda na primeira metade dos anos 2000.

Antes da parada, porém, saíram em turnê pelo Brasil, tiveram música inserida em coletânea nacional (organizada pelo ex-Legião Dado Villa-Lobos), ganharam etapa de festival, tiveram música gravada pela pernambucana Eddie (“O amargo”), gravaram a K7 demo “Jaz” e lançaram, em 2002, o único CD da carreira pelo selo DoSol.

Hoje Paulo e Gustavo trabalham com publicidade e seguem firmes na música com a banda DuSouto, já Marcelo é editor de imagens e integrou a extinta The Sinks. Felizmente, dia 4, o “General Junkie mete bronca e não sabe quem vai pagar a conta!”

Serviço
Show de abertura do Festival DoSol com a banda General Junkie, sexta-feira (4), às 23h , no Centro Cultural DoSol, Ribeira – mais discotecagem com DJ Magão. Ingressos para o festival a venda nas lojas Oi do Natal Shopping e Midway por R$20 (individual) e R$30 (temporada).


ENTREVISTA

Quando tempo tem o General?

Paulo Souto – O General é mais velho que eu.

Gustavo Lamartine – Eu tinha uns 16 anos quando começamos. O General Lee é de 1987, e como General Junkie desde 1994. Quando Marcelo entrou consolidamos o Junkie.

Paulo – A Eliane tinha um grupo com o mesmo nome e como Marcelo tinha uma pixação Mister Junkie acabou ficando.

Marcelo, lembro de você carregando os instrumentos do grupo e assumindo a bateria em algumas brechas no lugar de Lula…

Marcelo Costa – É verdade, para quem tocava em um guarda roupa velho e com um bumbo emprestado eu até que evolui. [risos]

Afinal, por que a banda se separou?

Paulo – A gente não se separou, demos uma parada. Na época o mercado era outro, não tínhamos a internet e um dos fatores principais dessa parada foi o rolé da produção. Toda vez era aquela correria: pede pra alguém fazer um release, pega o release, imprime, Marcelo levava até os jornais de bicicleta. E a gente tinha que fazer os contatos… era muita onda.

Gustavo – Aí a gente fez beicinho: vocês não vão mesmo aos shows, então também não vamos mais tocar. Aí a galera: não, não, a gente vai, a gente vai. E ficávamos nessa.

O último show do General foi em 2005, também no DoSol. E este ano, quando receberam o convite, deu um frio na barriga?

Paulo – Eu achei massa, o povo vivia perguntando: pô General, General, quando vai ter um show e tal, não sei que lá, mas não sei o quê… faltava alguém chamar pois o show está pronto há uns 35 anos. [risos]

Marcelo – Lembraram da gente! Tipo, a galera que não vai nos nossos shows são os que mais perguntam. Aí no dia nem vai…

No show o que vai rolar? Músicas novas?

Marcelo – Pra falar a verdade, vai rolar muita coisa velha, mais velha que o CD. Vamos tocar basicamente o CD, extrair algumas coisas e incluir outras mais velhas, que já tocávamos antes de gravar.

Gustavo – Além de músicas importantes para o som do General que não estão no CD como “Despacho” e “Quem matou Brigitte”.

Paulo – Tem algumas também da fita demo “Jaz”.

E o CD, por que demoraram tanto para gravar?

Paulo – Cara, era difícil naquela época, muito caro. Lembro que uma vez pegamos um orçamento e era o preço de um carro. Tínhamos uns vinte e poucos anos, da onde a gente iria tirar isso? Agora tá mais fácil, a tecnologia ajudando.

Marcelo – Gravamos a base toda do disco em 12 horas, depois colocamos algumas vozes adicionais mas foi tudo de uma vez. O CD foi o final de um ciclo. Estávamos viajando em turnê pelo Brasil, do interior de São Paulo à Salvador, e quando voltamos pra casa, com a banda azeitada, apareceu a oportunidade e gravamos.

Gustavo – Fizemos como se fosse ao vivo, já sabíamos tudo de cor – até hoje. A banda acabou quando gravou o disco, bem dizer um CD póstumo.

O DIA EM QUE A CRÍTICA CONHECEU OS “PEBAS”

Cinthia Lopes – editora

Na formação de 1993, com Gustavo Lamartine, Lula e Paulo Souto
No tempo em que as melhores críticas musicais eram impressas em papel jornal, os potiguares do General (ainda sem o  nome composto, Junkie) tiveram seu primeiro momento de fama no Segundo Caderno  do Jornal do Brasil. Foi na coluna Alcova, do crítico Pedro Só, um jornalista atuante também na revista Bizz, a bíblia do rock no Brasil do fim dos anos 80. O ano era 1993. O crítico viera a Natal para assistir ao festival Dunas Fest, promovido pela então Secretaria municipal de Cultura e Turismo, órgão que dois anos depois se transformaria em Funcarte.  Aqui em Natal, cidade que ele chamou de “sucursal do paraíso”, o jornalista do JB conheceu o General e também outros grupos oriundos de uma efervescente cena musical, entre os quais Discarga Violenta, Alfândega, ambos citados na reportagem “O Dia em que Gostei de Pebas” [numa referência ao tatu-peba]. 

Pedro Só festejou o fato de estar  “papocando uma nova geração do rock brasileiro, saudavelmente por tudo quanto é canto do Brasil”. Comparou o combo potiguar a outros da mesma geração, como Lordose pra Leão, referência dessa contagiante musicalidade surgida  no Espírito Santo. Em meio a isso tudo, emergia o Manguebeat em Recife. O Nordeste estava na moda. 

Gustavo (guitarra), Lula (depois substituído por Marcelo Costa na bateria) e Paulo  (baixo) subvertiam o blues criando um estilo novo, algo como um ‘hillbilly largadão’. Era “o blues ao sabor rascante do nordeste, encaixando letras em português como se tivesse na voz de cantadores”, comparou Pedro Só em sua coluna musical.

O General — e outros grupos — forjavam a possibilidade de um movimento musical  singular com dna potiguar.  Esteticamente, o trio seguia o caminho de revalorização da cultura popular,  semelhante ao manguebeat, mas correndo por fora, não uma cópia. No mesmo ano, 1993, o General tocou no Circo Voador (RJ). Em 1995, foram escalados para o Abril pro Rock (PE), ao lado de Mundo Livre, Planet, Jorge Cabeleira e Paulo Francis vai pro Céu.  .  “O Cão”, por exemplo, era um híbrido do repente com  o blues. Suas versões “repentebilly” entraram para os anais do rock potiguar, como em ‘When the saints go marchin in (Armstrong), que soaria tão atual  quando há quase 20 anos. 

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