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Grande escritor, grande crítico

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Laurence Bittencourt – Jornalista

Todo grande escritor demonstra em sua arte uma capacidade genuína de desvelar as sutilezas e as nuances do comportamento humano. E o faz sempre de uma forma extremamente singular. Já se disse que todo grande autor ou grande artista é uma espécie de médium, termo derivado da doutrina espirita que significa a capacidade de incorporar espíritos outros que não o do próprio médium.

A idéia por trás dessa concepção na arte, é a de que o artista consegue, no ato da criação, construir personagens vários, dando-lhes vida, forma, voz com uma tal competência e realismo (ou naturalismo), que parece mesmo que aqueles personagens fazem parte ou compõe a própria personalidade do autor criador.

Penso ser desnecessário citar alguns desses grandes escritores e criadores. Na literatura em particular, temos centenas e centenas deles. E o estudo mesmo da literatura revela, sobremaneira, o desafio que é estudar o tema. Aliás, é possível dizer, seguindo as pegadas de um dos maiores estudiosos e críticos da literatura na atualidade, senão o maior, Harold Bloom (criador inclusive de uma teoria literária) que a arte da crítica também necessita de “engenho e arte”.

Todo grande crítico e exegeta da literatura tem necessariamente que ser, além de um grande leitor, um artista na arte da interpretação. Compreender uma obra de arte não é tarefa fácil. O trabalho de análise (cujo significado ou etimologia da palavra remete a decompor) traduz-se como uma capacidade de separar os desdobramentos que a grande arte permite e revela. Traduz-se numa capacidade de perceber os movimentos construídos pelo autor na arte de propor enigmas. Mas não só isso.

A arte de analisar uma obra requer também um refino na compreensão da forma e do gênero escolhido pelo artista, e uma compreensão sutil da alma da humana e seus recônditos. Não é à toa que o estudo da literatura terminou se impondo e buscando ganhar ares de “ciência”, ainda que para muitos não seja.

O incrível é percebermos também, em vários dos grandes artistas criadores, uma junção nas funções de artista e critico. E aqui podemos concluir citando dos dois grandes nomes nessa área, um nacional e outro estrangeiro: Machado de Assis e Edgar Allan Poe.

Ambos foram, em seu tempo, e em vários momentos de suas vastas obras, exímios criadores tanto na arte da criação pura quanto na arte da interpretação, chegando inclusive a oferecer tanto ao leitor interessado em ser um criador quanto ao leitor interessado especificamente na área da crítica literária, como deviam proceder. Resta pensar ao final, e diria mesmo com certo pesar, que infelizmente (alguns talvez dissessem “felizmente”) que o talento parece transcender o aprendizado. No entanto, deixo como uma proposta para reflexão essa última questão.

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