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Hipocondria: doença ou sofrimento imaginário?

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Hilton Marcos Villas Boas – Psiquiatra

Quantos de nós já não encaramos uma situação onde alguém é ridicularizado, simplesmente pelo fato de ser um hipocondríaco. Na verdade ser hipocondríaco, não significa querer tirar proveito de uma situação, nem tão pouco ser mentiroso. O hipocondríaco na verdade é um indivíduo portador de um transtorno, classificado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), no CID X (Código Internacional de Doenças Xª edição), como um Transtorno Somatoforme, com o código F 45.2 = Transtorno Hipocondríaco. Trata-se de um transtorno sério, que não somente atinge o seu portador, mas toda a família e pessoas próximas do mesmo. Esse transtorno atinge, segundo dados americanos, de 6% a 9% da população, em geral, adultos e de ambos os sexos.                              

A hipocondria caracteriza-se pela interpretação errônea que a pessoa faz de sintomas, muitas vezes, banais. Preocupado excessivamente com a saúde, o hipocondríaco tende a relacionar sintomas rotineiros para qualquer pessoa, como: uma dor de cabeça, uma cólica, um mal estar gástrico, todos passageiros, a doenças graves, saindo em busca de tratamento, independentemente das evidências que negam a existência de qualquer mal.                               

Podemos dizer que a hipocondria é um estado psíquico onde o indivíduo tem plena convicção, sem fundamento algum, de estar acometido de uma ou mais patologias, a (s) qual (is) normalmente de prognóstico gravíssimo(s). Tal situação, faz com que o hipocondríaco construa um imaginário que consta de: um medo irracional de morrer; uma obsessão com sintomas físicos e defeitos irrelevantes; auto-observação freqüente do próprio corpo, em busca de possíveis sinais ou falhas e por fim chegando ao cumulo de desconfiar do diagnóstico elaborado pelos médicos, a quem consulta, bem como dos resultados de exames complementares. Em suma: “o hipocondríaco valoriza por demais sintomas que passariam desapercebidos para qualquer outra pessoa”.                  

Tal transtorno psiquiátrico, é responsável por uma grande demanda de indivíduos saudáveis clinicamente e laboratorialmente, aos serviços médicos, tanto de urgência como de ambulatório, com a mesma reclamação, ou seja que estão padecendo de doenças muito graves, e necessitam de atendimento urgente. Tais pacientes, após: a- uma vasta investigação clínica (muitas vezes por vários especialistas), b- a realização dos mais diferentes exames, c- a exposição a procedimentos mais invasivos, todos com resultados negativos, não indicando nenhuma doença, continuam inconformados não acreditando no que escutaram ou viram. Inconformados tal resultado, começam um novo ciclo de busca de outros profissionais e exames, na expectativa de encontrar o diagnóstico sobre o(s) mal(es) que supostamente os acomete.                              

Nestes casos, a procura será em vão, e é neste momento que na verdade o indivíduo pode estar iniciando uma doença verdadeira, a hipocondria, apesar do mesmo não imaginar tal situação. A hipocondria ou a ‘mania de doença’, como popularmente é mais conhecida, se caracteriza primordialmente pela hipervalorização de sintomas comuns e rotineiros, perfeitamente normais, que fazem parte da vida de qualquer indivíduo. Enquanto a maioria dos indivíduos não dá importância, ignora ou popularmente “não dá bola para o fato” (sintomas comuns e rotineiros), o hipocondríaco imediatamente passa a relacionar esses sintomas a enfermidades graves, com o agravante de não aceitar o(s) diagnóstico(s) que contrariam as suas “hipóteses diagnosticas”.     Apesar do transtorno somatoforme do tipo hipocondríaco, muitas vezes ser objeto e motivo de piadas e brincadeiras, o certo é que esse transtorno não é nada agradável para o seu portador, que não tira nenhuma vantagem de tal situação. Além do que, o portador do transtorno tem um prejuízo significativo: na relação familiar, profissional, educacional e social; na relação com os profissionais de saúde; com as “doenças” que jamais teve e, como conseqüência, não consegue desfrutar a vida e ser feliz, pelo contrário, sofre em demasia com seu estado de doente imaginário.                                   

Quanto ao diagnóstico desse transtorno, ao contrário do que parece não é tão simples, se faz necessário uma investigação minuciosa, para a elaboração de um diagnóstico diferencial com outras patologias.   

O médico assistente, de acordo com as informações do paciente, após minuciosa anamnese/exame clinico, e de posse dos exames complementares necessários, constatando que o mesmo não é portador de nenhuma patologia, aí sim deverá comunicar, com toda a sua habilidade, ao paciente, que não há nada de errado com a sua saúde, da forma como o paciente esperava.                

No entanto essa conclusão, é que firmará o diagnóstico do paciente, de hipocondria, tal notícia provavelmente desencadeará no mesmo reações do tipo: dúvida; incredulidade; questionamento do diagnóstico médico, podendo até mesmo chegar à indignação com a constatação que, em princípio, deveria ser recebida com alívio (não estou doente). Bem por hoje é só, concluiremos o artigo na próxima semana, um bom fim de semana a todos.

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