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Histórias de superação, luta e amor pelo trabalho

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Os 1.200 trabalhadores da obra do estádio Arena das Dunas, demonstram no trabalho que não lhes faltam dedicação, talento e coragem para ajudar a concluir em tempo hábil a mais comentada e esperada obra em curso no Estado. A TRIBUNA DO NORTE acompanhou um dia desse trabalho
As primeiras arquibancadas foram colocadas há duas semanas e, faltando 464 dias para o prazo de entrega, o estádio começa a ganhar forma. Obra será concluída em dezembro do próximo ano

Roberto Lucena
– Repórter

Por trás do muro de proteção que cerca a obra do estádio Arena das Dunas, há o que pode ser comparado a uma pequena cidade. Seus habitantes têm histórias de superação, luta e amor pelo trabalho. A TRIBUNA DO NORTE teve a oportunidade de conviver  – um dia inteiro – no canteiro de obras e registrou os detalhes do que é hoje a mais comentada e esperada obra do estado.

Do lado de fora, a impressão que se tem é a de que a obra segue em ritmo acelerado, contrapondo as expectativas pessimistas que apostavam num fracasso do projeto. De acordo com o último levantamento divulgado pela construtora OAS, responsável pelo empreendimento, 30,5% da obra já havia sido executada até o dia 31 de agosto. Mas, uma visita ao canteiro de obras revela muito mais que isso.

Quem trafega diariamente pelas avenidas Lima e Silva, Prudente de Morais e Salgado Filho, nas proximidades de onde existiam o Machadão e Machadinho, tem a oportunidade de acompanhar a evolução das obras. As primeiras arquibancadas foram colocadas há duas semanas e, faltando 464 dias para o prazo de entrega, o estádio começa a ganhar forma. O futuro palco da Copa do Mundo em Natal deverá ser entregue em dezembro de 2013. Para cumprir este prazo, atualmente cerca de 1.200 trabalhadores se revezam em três turnos de trabalho.

Com a implantação do terceiro turno de trabalho, no início de agosto, a construção da Arena das Dunas não para. De segunda à sábado, há sempre alguém trabalhando. Seja na cozinha terceirizada, no setor de administração ou no canteiro de obras, o trabalho segue sem interrupções.

Para ser um dos colaboradores – termo usado na construtora OAS para identificar seus funcionários – da obra, é necessário um período de integração e treinamento que dura dois dias. O coordenador de segurança, meio ambiente e saúde, Thiago Libaroni, explica que, durante o treinamento, são explicadas as regras e normas da companhia. “Temos uma preocupação muito forte com relação à segurança do trabalho. Por ser uma obra de grande porte, é comum que hajam alguns acidentes, porém, trabalhamos na prevenção dos mesmos”.

A preocupação como os acidentes pode ser mensurada com a quantidade de reuniões que antecedem as atividades. “Antes de começar, cada frente de trabalho se reúne por cerca de 10 minutos. Esses encontros são chamados de reunião de Diálogo Diário de Segurança (DDS)”, diz Thiago. O DDS é encerrado sempre com uma oração. O recorde de dias de trabalho sem acidentes, 260, foi registrado ano passado. “Em agosto tivemos alguns, assim como em setembro, mas nada grave. Não resultaram em afastamentos”.

São exemplos de frentes de trabalho na Arena, as turmas de carpintaria, pedreiros, serventes, montadores de andaimes, armadores e encarregados. Para diferenciá-los, os membros de cada equipe usa um capacete de cor diferente. O mesmo ocorre com os uniformes. Os de cor amarela são usados pelos colaboradores da parte civil, da aplicação de concreto. Quem usa macacão azul, trabalha com pré-moldados.
O Cantador - Francinaldo Marques, 42 anos, é auxiliar de serviços gerais. “Com fé em Deus essa obra será encerrada no tempo certo e vai dar tudo certo”
Na hora das refeições, para facilitar o serviço, eles são divididos. Um turma começa a se servir meia hora antes da outra. O alimento é feito por uma empresa terceirizada que fornece à OAS desde o início do projeto. Ainda na fase de terraplenagem, eram apenas três “quentinhas” para os topógrafos. Hoje, o número de refeiçoes ultrapassa a marca de três mil diariamente. “A cozinha não para. A primeira refeição tem que estar pronta às 5h30. A última é servida à meia noite”, diz a administradora do Complexo Alimentar Pães e Massas, Karla Mata.

A maioria dos colaboradores sonha em assistir pelo menos um dos quatro jogos programados pela Fifa para acontecer na Arena das Dunas durante a Copa. É o caso do servente Ari Nunes de Lima, 43 anos. Além de espectador, “Risadinha”, como é conhecido pelos amigos, sonha em jogar no estádio que está ajudando a construir. Experiência com o futebol, na posição de goleiro, ele já tem. “Fui jogador nas categorias de base do ABC e América. Hoje, participo do campeonato master em alguns bairros. Quem sabe um dia eu jogue aqui, né?” diz.

Se depender da torcida dos amigos, o jogo sai. O sentimento entre os colaboradores é de entusiasmo e esperança com a obra. Francinaldo Marques, 42 anos, é auxiliar de serviços gerais. Entrou como servente e conseguiu a ascensão depois de seis meses. Francinaldo é conhecido no canteiro de obras como “vai dar tudo certo”. A alcunha explica-se devida à uma música homônima que o operário ouve todos os dias. A canção evangélica, entre os colaboradores, virou o hino da obra. “Ouço todos os dias, o pessoal já me conhece. Com fé em Deus essa obra será encerrada no tempo certo e vai dar tudo certo”, diz.

Oportunidade: portas abertas para uma nova vida

João e José (nomes fictícios) trabalham na construção da Arena das Dunas. O primeiro chegou ao local há cinco meses e ocupa o cargo de servente. O segundo está há nove meses e começou como servente, porém, há três meses, conseguiu progredir e hoje é ferramenteiro no terceiro turno da obra. Além de trabalharem na mesma obra, ambos colaboradores dividem um passado: são egressos do sistema prisional. A OAS aderiu ao programa “Novos Rumos”, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) e dá oportunidade a homens que, naturalmente impossibilitados de mudar o passado, desejam ter um novo futuro.

Os homens não escondem o que fizeram. Os amigos de trabalho sabem, mas não os trata diferente por causa disso. “Não sinto nenhum tipo de preconceito aqui dentro. As pessoas me tratam bem e eu agarrei essa oportunidade com unhas e dentes e não vou largar”, diz José, hoje cumprindo pena no regime aberto. A Justiça lhe imputou uma penalidade que será cumprida até 2022. De acordo com os administradores da OAS, José é um colaborador exemplar.

João está há dois meses no regime aberto. Chegou a ficar preso dois anos e quatro meses e conseguiu a progressão de regime por causa do bom comportamento na cadeia. “Graças a Deus surgiu essa oportunidade na minha vida. Aqui na Arena já fiz o curso de computação e o futuro que desejo para mim é só de coisas boas”, diz.

Arena desenvolve projeto piloto na área de educação

A construtora OAS escolheu a Arena das Dunas para abrigar o projeto-piloto do Compromisso Nacional para o Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho. O compromisso, firmado entre o Governo Federal, centrais sindicais e empresas, está sendo incorporado às práticas da construtora através de uma cartilha temática, que aponta as medidas de gestão e melhoria de ambiente de trabalho no cotidiano da obra. Mas essa não é a única medida de melhoria na gestão do projeto. Na Arena das Dunas, a OAS disponibiliza pelo menos mais dois projetos que refletem em melhorias sociais:  Inclusão Digital e Escola OAS.

A primeira turma da escola iniciou as atividades em janeiro deste ano. No início, eram 38 alunos que assistiam aulas de segunda à quinta, entre 18h e 20h30. A segunda turma foi fundada em maio. Atualmente, a primeira turma conta com 15 alunos e a segunda com 10. São duas professoras que ministram aulas com conteúdo referente aos primeiros quatro anos do ensino fundamental. A duração do curso é de oito meses. “A cada dois meses é aplicada uma prova para saber como está o nível de aprendizado e eles são aprovados para continuar no projeto”, explica a coordenadora de responsabilidade social da OAS em Natal, Rosângela Zanquetta.

Os alunos recebem material escolar e lanche antes das aulas que são ministradas numa sala com ar condicionado e cadeiras confortáveis localizada na área de vivência da obra. Apesar das facilidades, a evasão é considerada alta. Algo compreensível se considerarmos que os alunos entram na sala após oito horas de expediente debaixo de sol forte.

Persistir no aprendizado é para os que têm mais coragem e força de vontade. É o caso do auxiliar de serviços gerais, Damião Vieira da Silva, 48 anos. Neste domingo, Damião entra na igreja para se casar com a companheira dele há mais de oito anos. “Vai ser especial porque eu vou escrever meu nome no papel”, diz. Apesar do cansaço, ele afirma que gosta das aulas e pensa que seu futuro será melhor depois que terminar o curso. “Já aprendi muita coisa e quero aprender mais”.

O encarregado de terraplenagem, José Luiz dos Santos, 47 anos, também comemora a evolução nos estudos. O alagoano pai de três filhos, não sabia ler e escrever. Agora, comemora a independência para realizar pequenos atos. “Até para tirar meu dinheiro no banco, eu precisava pedir ajuda a alguém. Hoje é diferente, consigo ir sozinho”, relata.

Sandra Martins dos Santos, 40 anos, afirma que evoluiu depois que entrou na OAS. Ela foi uma das colaboradoras que participou do curso de Inclusão Digital. “Antes não sabia nem ligar o computador”, revela. Agora, Sandra navega na internet e sabe usar os programas básicos do computador.

Pai e filho são colegas de trabalho na construção

O carpinteiro Francisco de Lemos, 59 anos, conhece bem o local onde está trabalhando. Na mesma função que exerce hoje no canteiro de obras da Arena das Dunas, Francisco ajudou na construção do Machadão. Ao comparar as duas obras, ele aponta muitas diferenças e uma única semelhança: a vontade de trabalhar. “Hoje é tudo muito moderno, mais seguro. Eu trabalhei no Machadão e usava chinelo, não tinha luva. Agora é bem diferente”, relata.
O carpinteiro, Francisco Lemos, se emociona ao lembrar da construção do Machadão e que hoje divide o endereço de trabalho com o filho, Sérgio Lemos
O morador do bairro de Mãe Luiza sai de casa cedinho para enfrentar as oito horas de trabalho. Apesar da idade, Francisco não reclama do trabalho, ao contrário, gosta de trabalhar num projeto do porte da Arena das Dunas. “Para mim é um orgulho muito grande. Se Deus quiser, estarei aqui assistindo os jogos”, conta.

Há outro detalhe na história de Francisco que chama atenção de quem visita a obra. Na parte administrativa da obra, no escritório de projetos, o filho dele, Sérgio Lemos, 36 anos, trabalha como técnico especializado. O estudante de engenharia civil é o filho mais novo do carpinteiro. “Além dele, tenho uma filha. Consegui criar meus filhos com o esforço do meu trabalho”, diz.
Pai e filho, além do mesmo local de trabalho, dividem a paixão pelo futebol. Ambos torcem pelo ABC Futebol Clube. “E quero assistir um jogo do ABC contra o América aqui dentro da Arena. Acredito que vai ser uma festa muito bonita”, diz Francisco.

Estrutura física (*)
13,8 toneladas de cimento
3.633 estacas executadas
2.570 toneladas de aço
778 blocos executados
71 arquibancadas montadas
125 arquibancadas fabricadas
34.500 m³  de concreto utilizado

*Números atualizados até o dia 15 de setembro de 2012

Mão de obra
1.200 colaboradores em atividade
3 turnos de trabalho – (7h às 17h30, 12h às 22h e 19h às 4h)
3.300 refeições diariamente (café, almoço, jantar e ceia)
Arroz – 180kg
Feijão – 160kg   
Carne – 300kg
Frango – 330kg
Salsicha – 60kg
Presunto – 10kg
Queijo – 5kg
Verduras e hortaliças – 220kg
Macarrão – 240 pacotes
Pães – 2.600 unidades
Ovos – 1.200 unidades
       
Cronograma
33,05% das obras estão concluídas construída – segundo levantamento realizado no dia 31 de agosto de 2012.R$ 413 milhões em investimentos

Previsão de entrega da obra
dezembro de 2013

Conheça o funcionamento da obra a cada horário e sua respectiva ativadade

6h30 – Café da manhã
Antes de começar as atividades, os trabalhadores fazem a primeira refeição do dia no refeitório da Arena. No cardápio: pão com manteiga, presunto, queijo, ovos fritos, cuscuz, café e leite.

7h – Reunião
Cada frente de trabalho se reúne com os encarregados do setor. São dez minutos de conversa sobre segurança do trabalho. O encontro é encerrado com uma oração.

7h10 – Início do expediente
Todas as turmas iniciam as atividades. Carpinteiros, pedreiros, serventes, montadores, armadores, encarregados, entre outros, começam mais um dia de trabalho.

10h – Cozinha a todo vapor
Na cozinha do refeitório, 25 funcionários se revezam na preparação de mais de três mil refeições diárias. A lasanha de carne de sol será o principal prato do dia.

11h30 – Almoço
A turma que trabalha com os pré-moldados começa a almoçar. Além da lasanha, tem carne cozida e frango no cardápio.
Ao mesmo tempo, os funcionários do segundo turno chegam ao local.

12h30 – Hora do descanso
A área de vivência, localizado ao lado do refeitório, é o ponto de encontro e descanso da turma. Alguns tiram um cochilo, outros preferem assistir televisão, jogar dama, baralho ou totó.

13h – Retorno às atividades
Depois do descanso, é hora de voltar ao batente. Antes do retorno ao campo de trabalho, reforço no protetor solar para enfrentar o sol da tarde.

17h30 – Fim do expediente
Os que começaram o trabalho às 7h, se despendem dos amigos e vão para casa. Antes de sair, trocam de roupa. O controle da saída é feito através de um cartão eletrônico.

18h – Hora da aula
Quinze alunos tomam banho, fazem um lanche e vão para a sala de aula. Na “Escola OAS”, têm aulas de alfabetização. São duas horas e meia de aula, cinco vezes por semana.

18h30 – Jantar e nova turma
A turma de trabalho noturno chega ao local. É hora do jantar para estes e para aqueles que chegaram ao meio-dia. Sopa, cuscuz, frango assado, sanduíche natural e suco são algumas das opções.

22h – Fim do segundo turno
A turma que entrou ao meio dia termina as atividades. Novamente é feito o controle de saída através de cartões eletrônicos. Alguns tomam banho antes de sair.

0h00 – Ceia
Essa refeição é oferecida aos colaboradores do terceiro turno. O cardápio é basicamente o mesmo do jantar. Assim como ocorre de dia, estes funcionários também descansam na área de vivência.

05h30 – Fim do expediente
O terceiro turno na verdade encerrou às 4h, mas a maioria dos funcionários fica uma hora e meia a mais no serviço. O sol começa a surgir quando a turma sai e a outra chega para mais um dia de trabalho.

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